capítulo único

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⠀ ⠀ Os dias eram maus

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⠀ ⠀ Os dias eram maus. O medo e a angústia reinavam, esforçando-se para abalar o bom ânimo e firmar a incerteza. A esperança nascera entre pedras e espinhos e, à medida que lançava suas sementes e crescia, era brutalmente podada, como se fosse uma erva daninha que contamina toda uma plantação.

⠀ ⠀ A garota construíra sua casa sobre a Rocha. Inundada por uma paz não-circunstancial, ela via Beleza em meio a violência e a insegurança. A opressão aumentava a cada dia. Vidas humanas valiam menos que nada. Sentir as mesmas coisas e partilhar do mesmo material de origem não eram fatos levados em questão. O poder e a plena satisfação de caprichos diabólicos eram tudo o que amavam. Valia tudo para alcançar esse objetivo. Nem que para isso fosse necessário derramar sangue inocente. E assim o fora por mais de um século. Porém quanto mais os matavam, mais eles cresciam, contrariando todas as lógicas humanas. A perca dolorosa de amigos próximos entristecia profundamente a garota, mas não a fazia esmorecer ou retroceder no Caminho.

⠀ ⠀ Sua conduta era reta e íntegra. Tinha a plena consciência de para onde estava indo e a Quem devotara sua vida. Seus princípios eram inegociáveis, e mesmo diante de tão grandes ameaças, ela permanecia. A força que a mantinha não vinha de seus próprios braços. E ela sabia disso.

⠀ ⠀ A preocupação as vezes lhe batia a porta, era inegável. Mas ela logo encontrava refúgio nos braços de seu Amado, que a lembrava de tudo o que lhe aguardava. Não ali, não naquele momento. Sua vida não lhe pertencia. Não era mais ela quem vivia. E isso a confortava.

⠀ ⠀ Seu futuro nesta Terra era nublado e incerto. Mas as esperanças e sonhos que ela cultivava não eram sobre aquela era. E por conta disso, quando o nublado enfim tornou-se em tempestade, sua casa não fora abalada pela força das águas.

Há duas injustiças que Deus abomina:
que o inocente seja condenado
e que o culpado seja colocado
em plena liberdade como justo¹.

⠀ ⠀  A proposta era simples. Negue a tudo aquilo que ama e dá significado a sua insignificante existência. Negocie seus princípios eternos por um alívio momentâneo. Traia sua própria consciência. Negue ao seu Deus, que lhe dá o ar que adentra seus pulmões e sustenta toda a existência, e ofereça sacrifícios aos nossos deuses, feitos por nossas próprias mãos, à nossa imagem e semelhança.

⠀ ⠀ Tal qual enfática fora a proposta, fora a recusa da jovem. O único sacrifício que ofereceria seria o de seu próprio sangue Àquele que outrora não hesitara em fazer o mesmo por ela. A fúria era visível no olhar do homem frente a bela e intrépida moça, que aguardava por sua sentença com uma tranquilidade perturbadora. Tranquilidade essa que perdurou durante todo o trajeto que fizera, guiada pelos guardas, até o prostíbulo da cidade.

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