Poesia em pedaços

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Poesia em pedaços

Protelado

Abri pra ti a portinhola do monstro Eu,
Trancafiado nos cofres do arrependimento.
Sujo, mesquinho, maltratado,
Rebate os olhares com um sorriso sádico,
Certo de que contra o tempo não há luta,
E que o esquecimento é a sua liberdade.

- Para Camila Torres, após uma tarde de melancolias e de novos graus de amizade, Rio de Janeiro, 12 de dezembro de 2007.

Homem da Ciência

Só a profícua arte deste mestre,
Cujo corolário rebento é pai de outros,
Eleva da quimera panteísta
Para escrutinar o cosmo todo.

- Após uma tarde lendo poesias de Augusto dos Anjos, Rio de Janeiro, 07 de abril de 2008.

Beligerante

Trava, lança, crava,
Lasca, quebra, mata.
Vil turba de bargantas,
Sempre em frente, nunca pára.

- Brincadeira com palavras, inspirado nas formigas de correição, Rio de Janeiro, 07 de abril de 2008.

Dia de liberdade
(ou, dos rabiscos no caderno em branco)

Demos a sorte de nascer no mesmo dia
e que dia bom foi,
se foi influência da lua não sei,
do sol também não,
se foi acaso ou talvez,
balada de uma canção.

- Ao José Luiz (Zé), biólogo UFRJiano, Rio de Janeiro, 27 de abril de 2009.

Passa

Passo fundo
ao passo largo
que separa
a passo rápido...

- Numa manhã de sábado, ainda sem olhar o céu, pensando sobre um doloroso término de namoro, Rio de Janeiro, 08 de agosto de 2009.

Leminski

Há nesta água mais que mágoas...
Vida pequena que não corre,
vida que escorre, visco
Essência que não se contenta
Amor que não me entenda...

- Em uma tarde de saudade, quando o livro de Leminski, o Ex-estranho, me fez companhia. Rio de Janeiro, 28 de novembro de 2009.

Jardim de uma rosa só

Cheiro,
Cor,
Forma,
Sabor,
Encanto...
Comum, mas unitária,
Cativante, mas ordinária

É essa flor,
Que os dedos fura

E o peito rasga,
Que imita, altiva escarlate,
A cor de nossas lágrimas...

- Reflexões pessoais, inspirado no filme O Pequeno Príncipe, particularmente nas partes que envolvem seu encontro com a raposa e suas reflexões sobre a sua rosa, Rio de Janeiro, 19 de Abril de 2010.

História de uma gota d'água

Um rio nunca é o mesmo...
Nunca o é porque só existe quando se olha assim,
integrando instantes-gota que se escorreram no caminho.

Olhando assim, só assim, parece ser quase um destino:
gota presa no determinismo orográfico do mundo -
não fosse o acaso das cheias e respingos...

Olhando assim, só assim, parece essa gota
um pendão contínuo, com histórias corridas, chiadas,
de uma coerência tão ilusória quanto o rio.

E porque começou aqui ou ali,
neste ou noutro tempo? Porque correr este percurso, ligeira,
sabendo onde ele leva, sem saber pra que?

A chegada importa menos que o percurso,
percurso-rio de instantes-gota,
descrevendo seu singular caminho.

- Reflexões, Teresópolis, 02 de janeiro de 2011.

(Sem nome)

Há pouco nasceu mais um poeta a fechar redondo os 7 bilhões que ciscam, dia a dia, escrever suas epopéias.

- Brincadeira com palavras, inspirado pelo nascimento do sétimo bilhonésimo humano, 03 de janeiro de 2012.

Quando Percebi

que a palavra
cansava,
calei

que  o carinho
aflingia,
sequei

que a presença
doia,
mudei

- Incompreensões, São Sebastião, 06 de agosto de 2016.

Duas laranjas

Diga-me teus sonhos,
e direi se te acompanho.

- Reflexões sobre parte e todos em um relacionamento, São Sebastião, 10 de agosto de 2016.

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⏰ Última atualização: Aug 15, 2016 ⏰

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