and it was all yellow.

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não era inverno, mas parecia particularmente frio naquela noite de outubro.

o vento gelado chocava-se contra meu rosto e estremeci sob a grossa camada do sobre-tudo que eu usava. suspirei, observando uma pequena névoa se formar diante dos meus labios e encolhi os ombros ao enfiar minhas mãos nos bolsos do casaco.

adentrei a cafeteria e sibilei em alívio ao ar quente do aquecedor do local infiltrar minhas roupas, deixando-me confortável. eu nunca gostei muito do frio, sempre preferi climas tropicais que esbanjavam belas praias com o sol escaldante sobre a minha pele.

fui até o balcão e sorri ao reconhecer a jovem de sorriso gentil que vestia o avental da loja. éramos colegas de turma durante o ensino médio, choi jisu — uma das estrangeiras que e havia ganhado a bolsa de estudos junto comigo. se não me falhava a memória, ela era do canadá.

nos cumprimentamos brevemente e trocamos informações bobas. falei que estava frequentando a universidade de seoul, cursando bioquímica, e ela pareceu radiante me contar que estava fazendo faculdade de artes cênicas, fazendo bicos naquela cafeteria aos finais de semana à noite. vi seu rosto se iluminar quando jisu revelou estar namorando uma garota, e que estavam morando juntas no momento. ela estava realmente muito feliz.

encerramos o assunto e pedi meu café expresso ao notarmos que já se formava uma fila de pessoas atrás de mim. ela sorriu, constrangida, ao ajeitar o rabo de cavalo que prendia seus cachos para trás e me entregar o copo, pedindo que mantêssemos contato. eu apenas assenti, agradecendo pela bebida ao sair da loja e me deparar novamente com a brisa gelada do lado de fora do estabelecimento.

fiz uma careta ao bebericar o café, mas agradeci mentalmente quando o líquido desceu por minha garganta, trazendo todo calor que o meu corpo precisava. eu provavelmente teria dificuldades em dormir pelo efeito da cafeína, mas eu preferiria mil vezes passar a noite em claro do que morrer de frio. era uma questão de princípios.

caminhei calmamente até o ponto de ônibus, dessa vez com o clima curiosamente parecendo mais suportável. talvez fosse o café, mas não pude ter certeza.

me acomodei no banco, mais especificamente na outra ponta, pois havia uma figura encolhida em um moletom escuro do outro lado, usando fones de ouvidos enquanto mantinha cabeça recostada na parede e os olhos fechados. não pude observar atentamente o seu rosto, pois o capuz cobria grande parte dele, então apenas me concentrei em terminar a bebida que parecia um pouco mais fria quando levei aos meus lábios.

quase uns dez minutos depois, um ônibus parou e vi a silheuta ao meu lado se levantar preguiçosamente, rastejando até o veículo e sentando-se em um dos bancos na direção da janela. ele abaixou o capuz e colocou sua cabeça para fora do vidro, e me permiti ver pela primeira vez seus belos cabelos castanhos que sacolejavam graciosamente sobre a brisa gelada. o rapaz fechou os olhos e pude vê-lo esboçar um pequeno sorriso, e por alguma razão, eu não conseguia desviar meus olhos do seu rosto.

o par de olhos hazel encontraram os meus no exato momento em que o ônibus decidiu seguir viagem, e a última coisa que me lembro daquela noite atípica de um outono violentamente frio foi o quão belos os seus olhos pareciam quando iluminados pelo poste solitário do ponto de ônibus.

◟ 綺麗 ♥︎.

aquela não foi a última vez que nos vimos.

na verdade, passamos a apreciar a companhia do outro todos os dias, no mesmo horário, naquele mesmo lugar. não havia sido verbalizado, mas era palpável o mútuo desejo de ambos de apenas permanecer sentados em completo silêncio, um ao lado do outro até que, ocasionalmente, um de nós fosse embora. nada era dito, não havia uma interação sequer, mas sempre era o momento que eu mais aguardava durante o dia.

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