Capítulo 1 - Quero ser humano

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Em noites de lua cheia o portal entre o mundo dos duendes e o mundo dos humanos é aberto, mas para conseguir atravessa-lo e poder andar livremente de um mundo para o outro é preciso ter em mãos o cetro real, e apenas a Rainha dos Duendes o possui. A lua cheia desta noite havia atingido o seu ponto mais alto no céu, iluminando todo o caminho que se dava até o portal, este emanava uma forte e brilhosa luz verde no meio da floresta. A estrutura do portal havia sido construída de pedras esculpidas com a história dos duendes, nelas também constavam as regras para que sempre houvesse ordem e paz entre os mundos.

Há duzentos anos atrás, por muito pouco a Rainha conseguiria ter sua história esculpida nas pedras como a única duende a se torna humana, mas em sua última missão falhou. Até o momento, nenhum duende conseguiu o feito. Há 160 anos vagando sozinho pelo reino dos duendes, Ban Sook estava farto, ao passar desses anos seu desejo de se torna humano aumentava cada vez mais.

- Rainha dos Duendes, imploro para que permita a minha passagem pelo portal e siga na missão de me tornar um humano, realizar o feito que nenhum conseguiu até hoje. – Ban Sook estava de joelhos, a Rainha o observava de uma distância considerável sentada em seu trono de galhos.

- Um urso comeu Artemísia por 100 dias para se torna humano. Uma raposa atraiu pessoas e comeu 100 fígados humanos. Mas você, um duende, precisa beijar 10 pessoas para se tornar humano. Parece fácil, não é? – Ban Sook balançou a cabeça em positivo. A Rainha continuou. – Dez beijos podem ser fáceis, você pode usar seu poder mágico, mas conseguir dez emoções não é fácil. As emoções são complicadas, esquisitas e dolorosas. Você ainda quer ser humano?

- Sim, quero – respondeu no mesmo instante, sua voz estava carregada de determinação.

- Permitirei sua ida, mas tenho uma outra pergunta a fazer. – Ban Sook concordou. Os olhos dela estavam atentos a cada reação dele, qualquer titubear ela usaria contra ele e não o permitiria sair do reino. – Ban Sook, se falhar em sua missão, assim como um dia eu falhei, você conseguirá conviver com esse fardo?

-Sim, Rainha. - Ele não falharia.

A Rainha tinha em mãos o cetro de madeira, feito da casca da árvore mais antiga da floresta. Cavalgava pela noite em seu lindo cavalo branco de clinas longas trançadas que esvoaçavam à medida que galgava. O duende a seguia pelo caminho que o levariam ao portal.

Do outro lado, a luz do portal iluminava o galpão abandonado, o piso estava coberto de poeira e alguns materiais usados para agricultura enferrujados, pois não eram utilizados há muito tempo.

Ao atravessar, tanto Ban Sook quanto a Rainha ganharam a forma humana, ela aparentava ter trinta anos, de cabelo longo e sedoso até o comprimento da cintura e vestindo roupas humanas de frio. Ela ajeitava o cachecol ao redor do pescoço, parou o que fazia para observar Ban Sook. Ele por sua vez, havia ganhado a forma de um rapaz na casa dos vinte, extremamente bonito e atraente, seu cabelo era liso e de cor escura, ele tinha o rosto simétrico e uma feição amigável. Vestia um longo sobretudo azul marinho que o mantinha bem aquecido.

Uma semana depois, Ban Sook havia aprendido alguns hábitos humanos e usava até um celular para se comunicar com a Rainha, que havia se estabelecido no galpão pelo período da missão, mas para ele ter maior contanto com os humanos, precisou alugar um apartamento na cidade.

Pouco mais das nove da noite, checou a recém mensagem enviada da Rainha, havia a foto de uma garota, nome, data de nascimento, endereço, lugar de encontro e a emoção humana que precisaria adquirir. "Você precisa beijar dez pessoas e a cada beijo adquirir uma emoção humana. Se você aprender dez emoções, você será um humano. " As palavras da Rainha estavam presentes nitidamente na mente de Ban Sook.

Oh Yeon Ah recolheu uma grande sacola de lixo e o levou para fora do bar pelos fundos, com um pouco de dificuldade devido ao peso foi até o amontoado de sacos de lixo dos dias anteriores e deixou lá. Esfregou as mãos uma na outra como se quisesse limpa-las, levou o dorso de uma delas a testa secando o suor, quando levantou o olhar teve um susto. Um casal se beijava intensamente ali próximo, no beco escuro entre o bar que ela trabalha e o bar vizinho. Ela observou por um curto tempo. "Vão para um quarto" pensou. O rapaz parou o beijou e encarou Oh Yeon Ah, envergonhada deu as costas e voltou para dentro do bar.

Ban Sook ignorou a garota do bar que o observava e voltou a beijar até adquirir a emoção. Do seu corpo emanava chamas verdes, a cada beijo ele usará o seu poder. A mão dele pousou na cintura da garota, ela passou os braços ao redor do pescoço dele fazendo seus corpos ficarem colados. A boca dos dois ficaram entre abertas e pelo espaço uma pequena luz brilhosa passou da garota para a boca dele.

- Vou aprender uma de suas emoções. – após dizer isso, Ban Sook foi embora deixando agora sem a memória daqueles últimos minutos em que se conheceram.

- Onde estou? – se perguntou atordoada. – Eu deveria parar de beber.

Oh Yeon Ah se aproximou da mesa com dois homens que a chamavam sem cessar.

- Qual o seu pedido? – ela perguntou com o olhar voltado para o bloco de notas e caneta em mãos.

- Uma porção de batata e uma garrafa de Soju. – um dos homens respondeu. – E mais uma coisa... – Ela fitou o homem. – Seu número.

O segundo homem riu alto, depois cumprimentou o outro, como se eles tivessem combinado aquilo. Oh Yeon Ah respirou fundo, sua cara de irritada estava transparecendo.

- Olha a cara dela – um deles disse, ainda continuavam rindo.

- É engraçado, não é? – perguntou ela sarcástica, mas decidiu se afastar da mesa.

Ela estava doente e cansada das pessoas. Quando mais nova costumava acreditar que a natureza humana era fundamentalmente boa, mas agora tinha certeza de que a natureza humana é fundamentalmente má. As pessoas são más. Trabalhando incansavelmente no bar, todos os dias via como as pessoas se portam, a desrespeitam, a maltratam, perdeu as contas de quantas vezes teve de manter a paciência e suporta o que lhe diziam para não perde o emprego.

Ao fim do expediente, estava completamente exausta, antes que passasse pela porta de saída, gritou para seu chefe.

- Patrão, não acha que estamos precisando de outro empregado? – em seguida saiu para a rua.

Sem a forte luz do portal para iluminar o galpão, a Rainha acendeu várias velas deixando o ambiente iluminado. Ban Sook se acomodou sentando em um banco, levou a mão ao peito e deu um suspiro. Encarou a Rainha confuso.

- Isso é um suspiro. – disse ela.

- O que é um suspiro? – perguntou ainda sem entender.

- Quando você respira profundamente. – ela respirou. – E expira – demonstrou a ele. – A emoção que você aprendeu é o vazio. O vazio é como um buraco negro. Se você tentar preenchê-lo, isso se tornará mais profundo.

- Parece que estou vazio. Está vazio, mas por que é pesado? – Ban Sook continuou a perguntar, mas dessa vez a Rainha apenas sorriu para ele. – Isso não parece tão bom. – concluiu ele.

- Mas você cumpriu a primeira missão. – ele a encarou. – Parabéns! – ela continuava sorrindo. – Vou te enviar as informações do segundo alvo.

A Rainha se afastou de Ban Sook, forçou a usar seus poderes, e em volta de seu corpo apareceram chamas vermelhas, um minuto depois desistiu. Lembrou-se que não precisava usar seus poderes já que tinha um a maneira mais fácil, o celular. O rapaz olhou atento a tela do aparelho, fitou a foto de uma garota com o cabelo preso, tinha vinte e um anos e morava no dormitório da universidade.

- Ban Sook. – chamou a atenção dele.

- Sim, Rainha.

- Por que você quer ser humano? – perguntou serena.

- Eu não quero ficar sozinho. Você está sozinha há mais de mil anos. – ele se aproximou dela – Eu não quero viver assim. – Ban Sook deu as costas indo embora.

- Atrevido... – murmurou a Rainha. 

O beijo do Duende / Kiss GoblinOnde histórias criam vida. Descubra agora