(Prólogo) A costureira de Rodório

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Quando te vi passar fiquei paralisado
Tremi até o chão como um terremoto no Japão
Foi assim viu

Me vi na sua mão

(Pra sonhar - Marcelo Jeneci)

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Os dias eram todos parecidos. Acordar, treinar, cuidar do jardim, dormir. Amanhecia e anoitecia, e a vida de Albafica não passava dessa rotina, salvo algumas vezes em que fazia ronda pelo vilarejo de Rodório. Nesses momentos podia ver rostos diferentes, ainda que se limitasse a ficar bem distante das pessoas, e pudesse ouvir burburinhos negativos acerca de si escapar de algumas bocas.

Às vezes era melancólico e angustiante levar a vida dessa maneira. Havia um pensamento que vez ou outra lhe assombrava – estava apenas vivendo à espera da Guerra Santa, em que provavelmente lutaria ao ponto de dar sua vida. Ser uma ferramenta que fizesse diferença na guerra era seu único propósito. E com esse pensamento mórbido caminhava para o jardim dos fundos da casa de Peixes, onde gostava de se retirar para refletir e espairecer.

Entretanto, para sua surpresa, esse dia foi diferente de todos os outros. No silêncio da casa de Peixes, onde quase sempre estava sozinho, pôde ouvir passos atrás de si. Passos leves e ansiosos, que tentou ignorar, pois devia ser algum serviçal do Santuário a passar com mantimentos para as Doze Casas.

Porém nenhum deles nunca havia lhe tocado, todos sabiam da regra sobre manter distância do perigoso cavaleiro de Peixes.

— Olá, você é Albafica de Peixes?

Nenhum deles tinham olhos tão bonitos e tão cheios de vida quanto ela.

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Nômades, andarilhos, ciganos... Era como costumavam tachar Alexia e seus pais por onde passavam, até se fixarem por algum tempo na Vila de Rodório, próxima ao Santuário de Atena. Há pouco mais de um ano chegaram ali, onde o comércio de roupas e costura da senhora Marina Cattelan, sua mãe, pareceu dar um bom retorno. Então Jan, seu pai, ajudava pegando alguns trabalhos pela vila e Alexia se encarregava das entregas de produtos fabricados pela mãe.

O dia estava quente, estavam próximos do fim do verão. Alexia rasga um pedaço do saco de pão sobre a mesa, e deixa um bilhete avisando aos pais que estava saindo para suas entregas. Pegou a mochila pesada, o cantil de água e respirou fundo. Uma vez ao mês ia até o Santuário de Atena, entregar as roupas vendidas aos cavaleiros que viviam por lá, e essa verdadeira viagem não era nada fácil.

A vila começava a se movimentar pela manhã, os comerciantes colocando produtos frescos em suas quitandas, e um cheiro de pão quentinho dançando pelo ar. Alexia passou por sua vizinha Agathia, que tinha mais ou menos suas idade*, mas nunca lhe dera tanta atenção. Na verdade, apesar de venderem bem pela vila, a família Cattelan não era bem vista por serem associados aos ciganos. Por conta disso, apesar de terem de admitir o talento das Cattelan com a costura, as pessoas preferiam não criar muita intimidade. Mesmo assim, Alexia insistia em ser simpática com todos, e sempre cumprimentava a vizinha com um sorriso.

Logo atravessou os altos muros de rocha que demarcavam a saída de Rodório, e com mais alguns minutos de caminhada, pôde ver a casa de Áries, onde o cavaleiro que a guardava estava sentado na porta, esperando pontualmente pelo que havia pedido. Ao vê-la, levantou-se com um sorriso amistoso no rosto:

— Olá Alexia! Tem passado bem?

Shion de Áries era sempre muito gentil. Ele lhe estendeu a mão, oferecendo uma garrafa com suco de laranja bem gelado, pois sabia que a caminhada era sempre muito cansativa para a entregadora da costureira de Rodório.

A Nova Rosa [Saint Seiya Fanfic]Onde histórias criam vida. Descubra agora