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Ela estava presa, estava presa e talvez nunca sairia. As esperanças já haviam se esvaído. Ninguém iria lhe buscar, ninguém notara sua falta. Ela não sabia distinguir a realidade do pesadelo. Nos melhores dias, ela sonhava que estava de volta em casa, com seu pai contando histórias para dormir. Nos piores, ela estava acordada.

Tanto tempo sozinha, sem ver alguém. Sem ter a luz do sol em seu rosto. Sem poder voar. Talvez fosse melhor ficar presa e morrer dia a dia ali. Suas asas haviam sido tiradas, então por qual motivo ela ainda gostaria de viver? Um anjo sem asas não era nada. Ela não era nada. Não mais.

A fome, já não importava. A sede? Também não. Não quando ela percebera que seu destino seria assim. Ela nunca vivenciaria as histórias que seu pai contava. Então porque mesmo assim, ela se pegou desejando sobreviver? Apenas mais um pouco, apenas mais alguns dias.

Tantas vezes fantasiou uma fuga. Tantas vezes pensou como seria colocar os pés para fora desse lugar. Sempre que esses pensamentos vinham, ela os afundava. As vezes ela delirava. Ela delirava com um grande anjo negro. Pegando-a no colo e tirando-a da escuridão. Mas ele nunca vinha, e ela continuava ali, definhando dia a dia.

Corte de asas e pesadelos Onde histórias criam vida. Descubra agora