Cap 1 - Tique-Taque

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Porque a porra da culpa é minha. — ele estava de pé, gritando, sua voz trêmula, segurando as lágrimas que se formaram.

Ela se apoiava na mesa, olhando-o diretamente nos olhos e, com aquela fala, aquele tom de voz e as lágrimas nos olhos dele, ela foi capaz de enxergar toda a culpa e angústia que estava por trás de tudo.

Não Harvey, não é. É culpa do Mike tão quanto a culpa é sua. — a voz dela agora era suave, diferente de antes, quando havia gritado com ele.

 — Então por que tem que ser eu a jogá-lo embaixo do ônibus? — ele parecia derrotado, perdido. Apoiava-se na cadeira que estava sentado segundos antes, como se ela fosse capaz de dar algum tipo de suporte para que seus joelhos não cedessem.

Você não entende? Eu não estou pedindo pra você jogá-lo embaixo do ônibus. Eu estou pedindo pra você acreditar que vale a pena vocês dois serem inocentados. — sua voz era firme. Os dois funcionavam dessa forma, quando um estava preste a desmoronar o outro precisava ser forte e dessa vez, ele precisava muito que ela fosse forte e firme por e pra ele, e ela tinha o conhecimento disso.

E se eu não conseguir fazer isso? — sua voz vacilava. Ele estava realmente sem rumo e falar com Donna sempre o fazia organizar as suas ideias. Como ela mesmo havia dito anos antes quando se conheceram, ela conhecia melhor as pessoas do que as próprias pessoas.

Então você pode ir até o escritrório da Gibbs pela manhã e se entregar. — ela fez uma pausa, finalizando. — Mas eu não quero que você faça isso. — engoliu em seco. 

Por que não? — ele perguntou agora com a cabeça baixa. 

Porque eu acho que você vale a pena. — ele levantou sua cabeça, voltando a encará-la. Estava surpreso, o seu coração começava a palpitar num ritmo ainda mais intenso que antes. As lágrimas já não estavam ali. — E eu não quero te perder. — ela admitiu com a voz fraca, encarando-o profundamente. Agora eram os seus olhos que formavam algumas lágrimas. O seu coração parecia querer sair do peito, tanto pelo medo de perdê-lo, tanto por admitir isso a ele, ali, daquela forma.

Ele se afastou, como sempre fazia, fugindo do assunto quando se tratava de algo íntimo e pessoal sobre a relação dos dois, mas ela não poderia culpá-lo e nem exigir nada dele. Não agora, não nessas condições. Ele estava prestes a perder o melhor amigo, ele admitindo ou não, Mike era seu melhor amigo. Ela então se ajeitou novamente na cadeira, suas costas apoiada e o observou se arrumar para ir embora. Se levantou, seguindo-o até a porta, que foi aberta por ele. — Harvey! — o chamou antes sem deixar que se afastasse demais e ele, já no início do corredor, virou-se de frente para ela que agora se apoiava na porta.

Harvey, vá até o tribunal amanhã de manhã, sente-se ao lado do Mike até que o veredito seja dado e mostre a ele que você acredita nele. — novamente uma pausa. — Assim como eu acredito em você. — ele não disse mais nada.

A porta atrás dele foi fechada, deixando uma Donna que desmorou no segundo que ele não estava mais vendo-a. Ele desmoraria também caso não tivesse que sair dali e ir falar com a outra pessoa que poderia lhe auxiliar com o quê estava planejando fazer.

As palavras de Donna ecoavam em todo o caminho "E eu não quero te perder". Ele não queria perdê-la também, ele jamais seria capaz de suportar a dor de perdê-la novamente, uma prova disso foi que ele experimentou um abandono parcial da parte dela e isso o levou a literalmente ter ataques de pânico. Ele vinha trabalhando seu problema de abandono, sabendo que as questões e as feridas eram muito mais profundas, mas ele também tinha a consciência de que mesmo que não importava a forma, vê-la deixando o cubículo que ficava em frente à sua sala seria dilacerador.

Eu não quero te perderOnde histórias criam vida. Descubra agora