-Nossa senhora, eu vou vomitar.
-Puta que pariu, que porra é essa!
-Aaaaaaah! Socorro, socorro! Alguém ajuda a gen...
-Silêncio, Bernardo! - A mão esquerda de Luiza tapou a boca do garoto horrorizado, enquanto a direita segurava o refluxo que subia ácido na própria garganta.
-Mano, essa porra é um corpo de um bode?
-Léo, não aponta perto dessa... dessa coisa aí! Meu Deus do Céu, a gente vai morrer...
-Garotos, algum de vocês conhecia o... dono dessa cabeça?
-Cara, eu acho que eu vi um moleque assim uns dois dias atrás carregando lenha... Mas é um pouco difícil de saber sem a bosta do resto do corpo dele.
-A gente precisa fugir daqui! Vai que o psicopata do mal que fez isso ainda tá aqui perto...
-Não, Bernardo, nós precisamos tomar uma atitude agora. Alguma atitude inteligente.
-Eu voto pra procurar o filho da puta que fez isso e encher de porrada! Deve ser algum covarde sem bolas que deixou a prova do crime aqui e fugiu pro meio do mato.
-Eu disse inteligente, Léo! Você tem que ser sempre tão malcriado?
-A única atitude inteligente seria sair correndo de volta pro acampamento agorinha mesmo! Eu quero ficar perto da minha irmã, ela sabe cuidar de mim.
-Ah, agora você tá morrendo de medo, seu cuzão? Quando chamou a gente pra vir até aqui pegar frutinha parecia bem corajoso.
-Meninos, quietos! Precisamos nos decidir. Eu voto para chamarmos a Chefe Lúcia, ela com certeza vai saber o que fazer.
-Luiza, mas ela saiu hoje com os lobinhos para pegar mel! Estamos sozinhos, e se a gente não fugir agora, vai ser a minha cabeça que vai estar costurada em um bode daqui a pouco!
-Ei, seu maníaco do caralho! - Léo trouxe as mãos ao redor da boca, amplificando o alcance da voz para além da clareira. - Espero que você tenha mais linha aí com você, porque eu vou costurar o seu... o seu cu!
-Ai, Léo... Você aprendeu esses palavrões ontem com o Veterano Pedro, né?
-Não, eu sempre soube! Todos que o Veterano Pedro falou ontem eu já conhecia... Menos cu.
-Gente, tanto faz o cu! A gente tem que ir embora agora e fingir que não vimos nada, senão a gente vai acabar se ferrando.
-Ainda tem a assistente da Chefe, a Dona Martha. Quem sabe não poderíamos chamá-la pra nos ajudar aqui?
-Eu ainda acho que a gente deveria acabar com a vida do demônio que fez isso aqui, mas se for pra chamar alguém, eu voto na Dona Martha. Ela sempre tá puta com tudo, então com certeza ela vai querer se juntar a mim para encher de soco esse bandido!
-É... pode ser uma boa ideia, desde que a gente não tenha que esperar aqui perto dessa coisa nojenta. Quero logo ficar em segurança com a minha mana.
-Vamos lá buscar a Dona Martha então, e depressa. - Quando o grupo esboçou uma corrida de volta às cabanas, um vulto saltou ágil da árvore sob Luiza. Seu machado cantou numa sinfonia aguda e mortal, e logo a cabeça da garota rolou, quebrando as folhas secas.
-CARALHO! AAAAAAH! SOCORRO, ALGUÉM ME AJUDA! - Léo entrelaçou seus pés no próprio terror, caindo de costas no chão. Resfolegando em desespero, avistou uma delicada garota de cachinhos tão vermelhos quanto o sangue que pingava reluzente da lâmina. Ela o fitava de olhos arregalados, parada no mesmo lugar por intermináveis segundos. Num surto de sobrevivência, o rapaz ergueu-se trôpego, tentando uma fuga... mas quando virou as costas, sentiu uma picada na nuca, e de repente estava estatelado no chão.
-Pronto, mana! Pode levar esse mal educado também para a nossa coleção. - A voz de Bernardo ressoou maligna por cima do corpo paralisado, removendo o dardo.
-Bernardo... por favor, me poupem... socorro! - Léo babava no chão, vendo o os belos sapatinhos da menina se aproximarem do seu rosto. O machado cantou sobre a pele num corte agressivo, e seus últimos segundos de consciência desvaneceram ao som de macabras gargalhadas infantis.
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Um Dia No Bosque
HorrorLéo, Bernardo e Luiza passam férias tranquilas no acampamento, como todo verão. Porém, uma visão horripilante na floresta muda tudo.