Ela estava bem ultimamente, ela sorria e se divertia com os amigos todos os sábados à noite.
Tocava aquele ukelele velho, sem cor e com a pintura rasgando a madeira antiga. Mas ela estava bem.
Um sorriso sincero, contagiosa ela sempre foi. Ela cantava às vezes, dependia de nada para viver, assim ela demonstrará.
Sempre ajudava os amigos, pessoa boa de coração. Odiava a escuridão, tal essa que refletia dos olhos de seus amigos. Odiava.
Tentava todos os dias, achar uma lanterna ou um lamparino nos olhos deles.
Outra coisa... chuva. A chuva era horrível? Sempre foi, o trovão assustava seus cachorros e ela repreendia aquele lá de cima, por prejudicar seres tão puros.
Chuva só era bom, quando o barulho do telhado parava e os cachorros deitavam no pé da sua cama, suspiravam e lambiam suas patinhas.
Ela estava bem ultimamente, chegava na escola e olhava para cada lágrima que em um dia foi de tristeza ser de risadas.
A aula não era importante quando conseguia ver àquela mesma menina que chorava voltando pra casa, sorrindo de verdade com as besteiras daquele babaca.
Olhava as paredes verde musgo da sala de aula e pensava o quanto era importante para alguém, estar ali naquele dia.
Fome, tristeza, angústia. A casa de muitos, pesadas e cheias de ódio. Tal qual a dela não era, mas conseguia sentir.
A nota 0 não era nada, perto de uma fome diária, da criança que a mãe nunca deu bola ou de um adolescente que os pais, ridículos, não aceitavam a menina gostar de uma menina também.
O mundo é cheio de defeitos, enquanto para uns o colégio era a escapatória, outros desejam que a escola acabe agora.
Bullying é tão ruim quanto um ódio dos pais. Bullying traz traumas e insegurança.
Uma dia, uma tal menina, não aceitou seu corpo. Então, ela descobriu que ela era só mais uma.
Ela leu, buscou em toda internet, perguntou aos seus amigos, qual era o defeito dela.
Ninguém disse, porquê o defeito que ela perguntava, era um defeito que apenas ela enxergava.
Não existe defeito, em um corpo lindo, um corpo gordo ou magro. Um corpo negro ou branco, pardo ou amarelo, até mesmo verde. Quem pode dizer te dizer que existe defeito no seu corpo gostoso?
"Ninguém nunca me amará assim."
O mundo é tão grande quanto a nossa insegurança, nós iremos achar, alguém que olho nosso corpo e veja um escultura de Michelangelo.
Demorou, mas ela achou e assim viveu...
Viveu nesse mundo de ódio, transbordando quanto as enchentes que levavam as vidas. Viver é difícil, mas sabe... ela estava bem atualmente.
Ela olhou, pelo vidro, de dentro do ônibus aquela mulher que rejeitava que um dia iria se sentir tão traída. Segurava as jóias em uma mão, enquanto montava novamente seu coração em outra mão. Seu marido, um sorriso falso mas ao mesmo tempo feliz, falso, ele era e feliz nunca será.
Falsa, ela nunca foi e feliz ela tentava ser, todos os dias.
Àquele ali! O trabalho tirava dele o máximo de sua energia. Dentro daquele carro, caro. Existia uma alma pobre.
Ou talvez àquela mulher que tentava dar comida para seu filho todos dias, do seu jeito. Procurava empregos, ela conseguiu de dentro do ônibus ver aquela moça, jovem, andar triste. Olhava a foto do filho e procurava forças.
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Vivendo para existir.
Short StoryEla estava bem ultimamente. E o mundo nunca esteve.