Capítulo 1: Se conhecendo

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Sentado no centro de uma grande cachoeira, com uma queda mortal para qualquer ser fraco porem com uma bela vista para a morte entre pedras pontiagudas e a água cristalina, ali as vezes conversava com seu melhor amigo, o vento. Que o avisava quando haveria chuva, Sol ou tempos de guerras, mais dessa vez ele trouxe algo diferente com ele aquilo era pequeno aos seus olhos, com a cor preta que brilhava lindamente com os raios do Sol batendo em seu corpo, havia formas em seu peito em sua cabeça uma pena que não a pertencia, uma triste marca de maus tratos em seu bico e um leve e estranho olhar amaldiçoado. Ela era um corvo nada comum, que acabava de pousar em seu ombro.

Nerius se mantem indiferente, o vento apenas acaricia o seu rosto e vai embora.

-De tanta as árvores com galhos onde você poderia pousar, porque me escolheu sem ao menos pensar, no que eu poderia lhe causar? -Nerius pergunta logo após a partida do vento.

-Você não tem mãos, então não pode me tocar. Isso já me é agradável o suficiente. -Sua voz era suave como a de uma dama, não soava estridente e assustador como a de um corvo normal.

-De fato não posso te tocar, mais é a primeira vez que sinto um toque... O que você fez para te deixarem essas marcas? -Ele tinha aprendido que nesse mundo para você ser tratado de tal forma você deve ter cometido algum crime.

-Nasci para ser matéria viva de magia e Guia das Almas. Você me parece sábio, pensei que saberia assim que me visse.

-Para saber eu preciso aprender primeiro. E observei que essa pena não é sua, ela apenas serve para te marcar, assim como esses desenhos em seu peito que também servem para te marca e não se camuflar por entre os outros corvos, mais ao contrário da pena é mais difícil de retirar e por isso eles amarravam o seu bico, com muita força o que acabou por deixar ele deformado. E seu olhar não é nada normal, nenhum outro corvo tem olhos tão humanos assim, o que você é?

-Estou surpresa você acertou, e tudo que vi, e tudo o que passei não me é normal ter um espirito ruim dentro de mim? Alguns demônios ainda andam pela Terra, e conversei com um. Em troca dos meus antigos olhos, e ruídos que um corvo normal faria.

-Vejo que até os corvos são mais inteligentes que os humanos, a primeira coisa que eles pediriam seria por vingança.

-Humanos são criaturas gananciosas e lentas, um monstro feito de carne fraca, por isso os demônios se aproveitam deles.

-Monstros? Se eles são monstros o que eu sou? Um humano? -A vida na Terra e cheia de ironia. -Eles inventaram os mais variados tipos de armas, que perfuravam, rasgavam e até explodiam. Nunca tentaram nos perguntar, o que somos? De onde viemos? Podemos viver em paz juntos? Suas mentes fechadas, atacavam primeiro e se sentiam aliviados depois. -Nerius se levanta, e põem-se a caminhar em direção a floresta.

O som da voz volta, após alguns minutos de silencio. -Como se chama? -Ele para em frente a uma árvore, com a qual se encontrava todos os dias para descansar encostado em seu tronco.

-Guia de número 1, eu tinha como função guiar as almas de volta ao cemitério.

-Não essa nomenclatura, e sim o seu nome de verdade, como se chama? Ou gostaria de ser chamada? Qual nome te agrada?

A pequena ave se vê em meio a perguntas, com as quais nunca havia pensando antes. -Não sei... Alias qual é o seu nome? E que tipo de vida você é nesse mundo?

-Nerius e pensarei em um nome para você pois nosso destino se completa, sou uma raça antiga vinda a partir de vidas que já se foram chamada Unimawa, que voltam a Terra em forma de qualquer coisa relacionada a natureza, e se essa "coisa" conseguir sobreviver nos tornamos o que viemos para ser, um hibrido com mais duas outras formas de vida, no meu caso um demônio e um anjo.

-Um demônio e um anjo?

-Lembro-me do dia, eu era apenas uma poça de água esperando ser tocado por alguma emoção e nele havia a injustiça e a verdade. O demônio tentava voltar para o céu, mais o anjo dizia que era impossível, sangue impuro e penas estavam me cobrindo por completo, então contei até três... E agora eles vivem dentro de mim.

-Quer dizer, que vocês não são parecidos uns com os outros? Podem vir em outras formas e tamanhos? Já encontrou outro como você alguma vez?

-Isso, por isso ninguém é exatamente igual a ninguém nesse mundo. E sim, quando andava pelo Sul, preferi não me aproximar ela estava agachada e encostada em uma velha árvore derruba com uma lenda ao lado, com lenda me refiro a um dragão e um humano a sua frente. Senti inveja, pois ele não estava a atacando...

-Também foi atacado por humanos?

- Eles atacam a si mesmo, por que me tratariam diferente?

-E por que não o tratam? Nunca iremos saber o que se passa na cabeça deles.

-...Te chamarei de Samilhia, é o único nome que consegui inventar. Escute Samilhia, por quanto tempo pretende ficar?

-Até quando você se cansar de mim.

-Vivo a séculos, e não sei se você vai conseguir acompanhar o meu tempo de vida.

-Já viu algum demônio dar tempo limite de vida em seus contratos? Quem não lê e só assina mal sabe que tão cedo não morre.

-Já conversei com um demônio uma vez, mais essa história fica para outro dia... Pode parecer ganancioso de minha parte, mais eu queria poder toca-la, consigo sentir o seu peso, suas garras e a maciez de suas penas em meu ombro. Como já viu eu estou quebrado, minha transmutação não foi completa por isso faltam partes de meu corpo, aqueles dois queriam brigar até o fim. -Seu tom de voz muda, seus olhos se fecham lentamente.

Samilhia prestava atenção em cada palavra que dizia. -Nerius, consegue levantar um pouco o ombro? -Assim que pede ele levanta ombro, e com suas longas asas faz um gesto que se remetia a um abraço em volta de seu rosto. -Consegue sentir isso? Isso é um abraço, ninguém nunca fez isso por mim antes...

Lagrimas começam a transbordar de seus olhos. -Obrigado, queria poder fazer o mesmo!

Fim

Nerius - ContosOnde histórias criam vida. Descubra agora