O Encontro das Estações.

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Notas do autor: Reescrevi essa história e mudei para um conto mais curto, antes era maior e inspirado em um vídeo do Facebook do cara que era excluído e a mulher que o acolheu. Bom, não tem mais ligação com aquele vídeo, mudei essa parte e encurtei a história, é só um conto agora.

Boa leitura!

...

Na primeira vez que a viu, uma chuva de estrelas dominou toda a galáxia, uma aurora boreal dourada brilhou na imensidão, o sol teceu fios dourados na terra, e a lua, com fragmentos do sol, conquistou o próprio brilho para que pudesse honrá-la no meio da solidão galáctica e representá-la como uma divindade, incentivado pela beleza primorosa a dançar junto dos outros planetas.

Aconteceu em um dos bailes divinos, onde os anjos nomeavam Baile da Luz, e ocorria uma vez por ano, para apresentar e dar as boas-vindas as novas estações que nasciam durante aquele evento. O primeiro foi o verão, sua energia quase agressiva ostentava sorrisos para a maioria, mas também havia aqueles que sentiam o desencaixe de uma só estação, pois o verão não podia agradar a todos.

Assim, nasceu o outono, uma continuação branda, seu vento fresco agradava à metade que se sentia sufocado pelo verão eterno em seu brilho máximo; os tons de outono encantaram aqueles que conseguiam ser mais exigentes, era como vislumbrar arte o cair das folhas, mas ainda não parecia suficiente. O inverno, no entanto, não nasceu da necessidade de haver outra estação ou ao encaixe daqueles que não se sentiam agradados nem com o verão, tampouco com o outono. Nasceu da tristeza profunda que habitava seu âmago, pois antes de ser uma estação, era, também, um espectro do submundo.

Enquanto aqueles que necessitavam de uma estação para descrever seus sentimentos, ele precisava para ser preenchido, para caber naquele mundo que o desprezava. O verão era tão bonito, embora tão quente, mas ainda tinha cores tão vivas, tão alegres e ardentes. Então vinha o outono e permanecia belo, uma brisa mais forte ocasionalmente, mas nada que pudesse provocar a tristeza que guiasse a morte até suas portas, apenas criatividade, nada além. Assim, vinha essa figura estranha de negro aos pés a cabeça, uma máscara preta e sem expressões, um chifre pontudo e longo, que dava voltas e sua ponta quase tocava a testa da face estranha, quieto e frio.

Ele deveria ser amado? Pensaram que não. Pois o inverno só trazia desesperança e desânimo, apagava o calor que o outono preservou, desesperava as almas desamparadas, não aquecia sonhos, não os incentivava em busca de algo melhor, não inspirava canções, nem artes bonitas. Apenas uma imensidão vazia, uma casa sem alma, uma lareira sem lenha, um fogo que não aquecia.

Era o inverno o mal do mundo.

Quem disse para aquele espectro que ele tinha o direito de destruir alegrias com sua frieza? Quem seria louco o bastante para tomá-lo pela mão e nomeá-lo uma estação que atingiria toda a terra sem permissão? Quem era aquele apagando o brilho dos olhos gentis de uma criança e adoecendo o povo? Era o inverno! Era o espectro! Pensavam que se fosse qualquer outro, a estação seria branda, mas ele e todos os seus pequenos acompanhantes só levavam tristezas para o mundo, gelava corpos e apodrecia as mentes. Ninguém queria sair da cama no inverno, não queriam viver, não tinha o que aproveitar. O inverno fora considerado desprezível, pois ele era um espectro do pior do mundo! Ele era desgraça.

Mas enquanto o odiavam, as almas que não podiam expor opiniões, aqueles que de tudo sabiam, comentavam e apontavam os culpados. Pois o inverno era triste, porque nasceu da tristeza. Não foi desejado, não era uma extensão, não desenharam bons pensamentos para ele, apenas desaprovações. Ele nasceu do sentimento de rejeição, pois o espectro era excluído e julgado por ser quem era, por ser silencioso, por estar lá quando queriam que não estivesse, por ser uma sombra no salão que sequer deveria haver uma. Criaram o inverno, idealizaram seus piores pensamentos, suas tristezas internas e seu ódio, e despejaram no espectro. Pois, quem seria capaz de assumir que o verão os tornava miseráveis também? Que o outono apenas diminuía a sensação, mas ainda estava lá? Quem seria capaz de admitir, quando bem ali, havia alguém para culpar? Então o espectro sombrio assumiu, sem ter a intenção, o peso de ser a próxima estação. O inverno, o doloroso inverno.

A Dança das Estações .Onde histórias criam vida. Descubra agora