Rosa nevada

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Tudo começa numa tarde de inverno, onde a grama e as árvores estavam brancas, igual a casa onde moro. Coloco meu casaco e me preparo mentalmente para encarar a neve a minha frente, termino de colocar o cachecol e abro a porta sentindo aquele vento gelado em meu rosto. Tento me esconder mais no casaco e cubro mais meu rosto com o cachecol. Dou dois passos e sinto meus dedos dos pés doloridos devido ao frio.

Fazendo minha caminhada diária até o café depois do parque, atravesso a rua sentindo o doce aroma de chocolate quente e grãos de café sendo moídos. Entro com o sininho da porta tocando, com a atendente no balcão já preparando meu cappuccino com chocolate, sento-me em uma das mesinhas vendo a neve começar a cair novamente, suspirando perdido em pensamentos.

Bebericando da xícara quente em minhas mãos olho em volta e percebo estar sozinho na cafeteria, levantando e ficando mais perto da vidraça vejo o parque a frente vazio, forço minha vista o mais longe possível até tentar ver algum movimento humano. Um arrepio correu pelo meu corpo e um borrão preto atinge minha visão junto com um barulho estrondoso.

Quando consigo abrir meus olhos vejo que estou em outro lugar, sinto meu coração acelerado e me vejo de pé tentando reconhecer qualquer semelhança ao lugar onde eu estava. Tento dar um passo pra frente e sinto a grama nos meus pés, me vejo descalço e o ar quente em minha pele me assusta. Respirando bem fundo e mantendo a calma eu consigo ouvir um riacho ao longe, mas a claridade do local não me deixa ver muita coisa.

Para minha imensa surpresa e aflição não vejo um ser vivo a frente, há apenas um imenso gramado a minha volta, suspirando vejo um pequeno besouro perto dos meus pés, logo voando e indo em direção a uma grande árvore, que antes não estava ali. Vejo uma pequena cabana com as madeiras rangendo sobre meus pés, bato na porta, ela se abre fazendo barulho, chamo por alguém e não há resposta alguma.

Dentro vejo apenas uma mesinha, com uma única carta em cima, abro a carta destinada a mim, tomando coragem termino de ler ela, aparentemente alguém estava me dando boas-vindas. Perdido em pensamentos, ouço a voz de um senhor me chamando. Olho para trás devagar vendo um senhor baixinho com um cajado nas mãos, com cabelos e braba longa completamente brancos sorrindo para mim.

- Estava esperando por você. - Ele diz calmamente andando em direção a saída da cabana. Sigo atrás dele até um canteiro com rosas, ele aponta para uma rosa no meio, com um cheiro mais forte e um brilho singular.

Eu entro no canteiro arranhando meus pés com os espinhos, pego a rosa ao centro cortando meu dedo levemente. Saio do canteiro a procura daquele senhor, mas o mesmo não estava mais ali. Fecho os olhos cheirando a rosa novamente, e ouço a voz de uma mulher. Abrindo meus olhos me vejo novamente na cafeteria, a atendente do café em pé na minha frente.

- Onde você conseguiu essa flor? Ela é tão linda. - Ela pergunta docemente com um sorriso sincero no rosto. Quando olho para minhas mãos vejo que ainda estou segurando a rosa que peguei no canteiro.

Vejo um pequeno vulto branco passar pela janela, o mesmo senhor de cabelos e barba branca sorria do lado de fora pra mim, me sinalizando para entregar a rosa a atendente. Retribuo o sorriso e volto meu olhar a atendente. Ofereço-lhe a flor em minha mão e vejo o sorriso mais belo da minha vida. Convidando-a para se sentar ao meu lado, corando a atendente aceita o convite.

Volto ao anoitecer para minha casa, e no dia seguinte volto a cafeteria, conversando e se aproximando cada vez mais da conhecida atendente. Na primavera convidei ela para uma caminhada ao parque ao lado. Porém nunca mais vi o senhor que me deu aquela rosa, e a atendente ainda não sabe como eu consegui uma rosa tão maravilhosa em um dia de neve, apenas sei que aquela rosa não murchou desde aquele dia.  

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