Único.

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Um dos meus maus hábitos era só conseguir escrever caso bebesse café. Eu não sabia o porquê e nem da onde aquilo havia surgido, mas já tinha me acostumado e, caso não fizesse, simplesmente travava e não digitava uma palavra sequer no meu velho notebook. Aliás, esse era outro mau hábito meu: não conseguir deixar nada para trás. Prova disso era o notebook velho em minhas mãos e o casaco vermelho já desbotado em meu corpo.

Acontece que foi através desse meu mau hábito que eu conheci ele.

Eram onze horas da noite e eu tinha passado a tarde toda ocupado com trabalhos da faculdade e não tinha tido tempo de tomar um gole sequer da minha bebida preferida. Por isso não me importei em colocar meu casaco velho, meu all star mais velho ainda e levar meu fiel notebook até a cafeteria da esquina.

Fiquei feliz só de ver que o local não estava tão cheio. Tinha algumas pessoas ali, mas não tanto quanto o bar do outro lado da rua. Fiz até uma careta ao notar a barulheira que estava ali e agradeci mentalmente pela cafeteria ter uma música calma e as pessoas conversarem em tom baixo. Em seguida senti o cheiro de café e já sorri. Definitivamente pediria um copo enorme de café e passaria o resto da minha noite ali, escrevendo freneticamente.

Porém, foi como eu disse, talvez eu não devesse mesmo ter seguido esse meu mau hábito justamente naquele dia.

Assim que me sentei em um das cadeiras e fiz meu pedido — sequer olhando para cara daquele que me serviria devido a pressa —, comecei a digitar sem parar enquanto bebia em breve pausas o meu café. Logo minha bebida estava acabando e eu já estava cogitando pedir mais um, afinal, estava inspirado e finalmente terminando meu conto. Porém, assim que me preparei para digitar uma das falas mais importantes de toda aquela história que eu tinha articulado em minha mente e finalmente estava ganhando vida, senti algo quente caindo em meu colo. Não gritei, não xinguei, não fiz nada. Apenas congelei e senti o líquido quente praticamente me queimar enquanto o rapaz a minha frente tinha os olhos arregalados e um bandeja em sua mão. Quando finalmente me recuperei e estava preparado para gritar um palavrão, olhei novamente para o notebook a minha frente e vi a tela se apagar. O que me restou foi tentar controlar as lágrimas e a vontade imensa de xingar seja lá quem tivesse acabado com tudo o que eu tinha passado horas trabalhando.

— Me desculpe, por favor!

Foi tudo o que ele disse enquanto me limpava desastradamente com um guardanapo. Afastei rapidamente suas mãos de mim e me levantei da cadeira. O rapaz — um pouco mais alto do que eu — pareceu assustado. Eu até sentiria pena, mas se coloque no meu lugar: eu tinha passado a tarde inteira fazendo trabalhos para a faculdade, estava cansado, tinha finalmente conseguido escrever algo bom e que eu realmente tinha gostado depois de dias e, claro, tinha perdido meu amado notebook. Como eu poderia não ficar nervoso?!

— Cadê o Namjoon?

— O-o quê?

— Onde está o Namjoon? Eu quero falar com ele. — disse decididamente, me preparando para reclamar da falta de atenção e profissionalismo do rapaz. — Eu exijo falar com ele. — enfatizei.

— Precisa mesmo disso? Quer dizer, eu posso te emprestar algumas roupas, deixar que você saia sem pagar ou até te dar café de graça e-

— Café de graça? — ri fraco. —Você já me deu duas xícaras de graça, pelo visto. — comentei enquanto apontava para minhas roupas suja pela bebida. Pela primeira vez estava odiando café.

— Foi um acidente! Eu fiquei distraído, tropecei e derrubei em você. Me desculpe.

Ia responder que as desculpas dele não trariam de volta tudo o que eu escrevi ou o meu notebook, mas assim que vi os olhares dos outros clientes focados na discussão e olhando com pena para o rapaz a minha frente, simplesmente desisti.

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