❝ Cʜᴀᴘᴛᴇʀ Tᴡᴇɴᴛʏ ❞

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"Papai porque você está com essa mala na mão? O senhor vai deixar a gente? Por favor não deixa a gente não papai! Machuca muito papai!"


— O que você está fazendo aqui? - senti os dentes rangerem de raiva enquanto mantinha a porta aberta, as minhas malas já estavam espalhadas pelo chão — Vá embora!

— Filha vamos conversar? - meu pai se levantou apreensivo, como se a vida dele dependesse disso — Eu preciso que me escute.

— Escutar?! Pra que? Pra ver como você abandonou eu e a mamãe pra tentar uma carreira longe de nós? De como a mamãe só foi um passa tempo seu e se cansou?! Não quero saber! - esbravejei tudo no mesmo instante o vendo engolir cedo, porque ele estava aqui na hora que tudo estava indo tão bem?

Meu pai suspirou fundo enquanto olhava o chão, minha mãe estava do mesmo jeito; acho que assim como eu, desacreditou que ele pudesse voltar algum dia mas ele volta com uma cara mais cínica que me faz querer vomitar na cara dele

— Você tem razão querida, mas não se preocupe com nada, eu apenas quero conversar com vocês. - Meu pai balançou os braços nervoso — Prometo que não irão se arrepender.

Parei um pouco para refletir, se minha mãe ainda não o expulsou é porque ela está ponderando sobre sua decisão e quer a minha opinião, eu a conheço bem. Então não tenho escolha, eu preciso ouvir o que tem a dizer senão as coisas só irão piorar

Ele abriu espaço para que eu me acomodasse entre ele e minha mãe; meu pai, Yuno, era um coreano nascido no Brasil, ate mesmo mais brasileiro que eu as vezes. Ele e minha mãe se conheceram na faculdade de engenharia, foi um caso rápido mas desse caso eu fui concebida

Mesmo não querendo ter filhos naquela época eles não interromperam a gravidez, começaram a morar juntos e ate arriscaram um casamento no religioso, mas óbvio como em boa parte dos relacionamentos comuns, as brigas incessantes por coisas bobas os fizeram se separar, eu tinha quatro anos na época, mesmo não lembrando de muitas coisas, eu me lembro muito bem da feição de dor e raiva que ele tinha enquanto olhava minha mãe e a mim, aquilo doeu como nunca

Agora, anos depois, eu quase uma mulher feita estou o vendo na minha frente para ouví-lo; é tão patético que me da ânsia e repulsa

— Então, eu quero me desculpar pelo meu sumiço. - meu pai se pronunciou mexendo os dedos nervoso — Eu deveria ter sido mais presente e dar ao menos  auxilio financeiro.

— O que não seria nada além da sua obrigação. Mas isso não importa mais,  minha mãe perdeu anos de tranquilidade pra sobreviver e cuidar de mim. - respondi curta e seca enquanto cruzava os braços o encarando

Se ele acha que pode voltar com um papinho de querer ser um "pai perfeito" pra mim e que tudo vai mudar pra melhor, ele está redondamente enganado, nada irá apagar todo o sofrimento que ele nos causou!

— Você tem todo o direito de me odiar mas entenda que eu apenas quero seu bem [Nome]. - a voz do meu pai saiu um pouco embargada fazendo meu coração vacilar por um momento — Mas não é sobre isso que eu vim conversar com você.

— [Nome], seu pai estava me contando sobre o seu novo emprego em Londres. - minha mãe comentou vagamente me fazendo gelar naquele sofá — E ele estava tentando me convencer de levá-la para um intercâmbio junto com ele.

Não acredito que ele teve a audácia de pensar ou falar sobre isso!

— Você tá de brincadeira com a minha cara?! - esbravejo irritada me levantando — Nem fodendo que eu vou largar meus amigos e namorado pra ir pra outro país com um cara que nos abandonou no pior momento das nossas vidas!

— [Nome] me escuta bem.. - meu pai tentou se explicar enquanto se levantava mas eu apenas o ignorei

— Escute aqui você! - apontei o dedo em seu rosto irritado — Você não faz ideia de como me machucou ver como você olhava pra minha mãe e pra mim quando nos deixou! Eu me lembro como minha mãe chorava no canto sem saber o que fazer! Ela se matava de trabalhar enquanto as nossas vizinhas de bom grado, cuidavam de mim! A vovó morreu porque não podia fazer muito esforço, mesmo assim ficou comigo por anos! Por muito tempo eu pensava que ela colocava o trabalho acima de tudo pra esquecer de mim, mas agora percebo que ela queria esquecer de você, esquecer que te amou algum dia, porque isso a machuca mais do que a mim mesma! Eu tenho vergonha de ter um laço sanguíneo com você!

Coloquei tudo o que estava pesando a muito tempo pra fora, meu coração parecia que ia explodir de raiva. Pelo canto do olho eu conseguia ver o rosto da minha mãe encharcado de lágrimas, meu pai se mantinha quieto; com o olhar vazio sobre o chão, a casa estava um completo silêncio apenas o som da chuva forte era ouvido

— Eu vou sair mãe, não se preocupe porque vou estar na casa do Kuroo ok? - resmungo baixo me abaixando ao lado dela, enquanto segurava suas mãos

— Tudo bem filha, pode ir... eu vou ficar bem. - a voz dela saia muito trêmula, pela primeira vez eu vi uma feição sincera em seu rosto, apenas beijei sua testa e peguei minha pequena bolsa de couro aonde eu mantinha meu celular e minhas medicações

Quando abri a porta, a chuva junto com o vento fazia as gotas d'agua parecerem agulhadas em todo o meu rosto, mas apenas ignorei tudo aquilo, minha mente estava uma completa bagunça; então corri, corri como nunca pela rua vazia até a casa de Kuroo, mas parei no meio do caminho e gritei

Minha voz saia abafada pelo som forte da água caindo no chão, mesmo naquele frio eu sentia meu rosto quente pelas lágrimas

Eu não aguentava mais aquilo, minha mente me matava aos poucos mas eu tinha que ser forte, eu preciso de Kuroo tanto quanto ele precisa de mim, assim como os amigos na qual me apeguei tanto

Eu preciso ser forte, eu preciso sobreviver a isso

Eu preciso ser forte, eu preciso sobreviver a isso

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- Eu posso ter chorado muito escrevendo? Posso! Eu posso ter deixado os leitores tristes? Posso! Eu posso estar mal por isso parecer um pouco com a minha vida? Claro que posso! :-:

- Mas precisava da pitada dark porque infelizmente, a vida não é só flores o tempo todo :(

- Enfim ate o proximo capitulo

𝖳𝖾𝖾𝗇𝖺𝗀𝖾 𝖣𝗋𝖾𝖺𝗆 , kuroo tetsuro.Onde histórias criam vida. Descubra agora