o primeiro ano.

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"É exatamente por isso que eu disse que o melhor presente seriam flores", A-Qing sussurrou, irritada.

"O daozhang não pode comer flores, pra que serve esse presente?", a voz apressada de Xue Yang perguntou.

"Você diz isso, mas quem plantou um canteiro inteiro só porque Xingchen-daozhang disse que gostou do cheiro? Uma vez?! Não pense que eu não percebi, o jeito que você estava sempre enfiando aquelas flores na cara dele, querendo elogi— Mmhgh?!" A-Qing sentiu uma mão calejada e coberta parcialmente por uma luva calando sua boca.

"Ele chegou. Vamos com o que eu decidi e ponto final. Agora fique quieta antes que eu te faça muda além de cega", Xue Yang afastou sua mão da pequena garota, que lhe mandava um olhar irritado. Ou mandaria, se ela enxergasse e pudesse lhe olhar diretamente nos olhos.

"Xingchen-daozhang, bem vindo de volta", a voz de Xue Yang era gentil e animada, bem diferente de alguns instantes atrás. "Me deixe te ajudar com isso", ele se aproximou de Xingchen, oferecendo-se para segurar os embrulhos que Xingchen carregava. Xue Yang encostou nas mãos de Xingchen por um momento, notando como estavam frias como as de um cadáver.

"Obrigado, amigo", Xingchen tinha o rosto corado de frio, a ponta de seu nariz avermelhado e fungando. Seu hálito gelado mandava pequenas nuvens de fumaça quando ele falava, e o cultivador de branco parecia realmente feliz de estar em um lugar seco e aquecido, um sorriso dançando em seus lábios bonitos.

"Daozhang, venha se esquentar", A-Qing empurrava Xingchen em direção ao fogo, seus robes brancos estavam molhados nas barras, e suas botas ainda traziam resquícios de neve.

"Eu fui até a cidade buscar mais cobertores", Xingchen disse, se aconchegando perto de A-Qing em frente ao fogo. Já fazia um tempo que os três se reuniam dentro da casa caixão com uma lareira improvisada. O pátio da pequena cidade Yi estava coberto de neve, e os ventos cortantes agitavam as janelas, tentando adentrar o interior da casa como um espírito vingativo.

Xue Yang desfez os embrulhos de papel, resgatando os cobertores.

"Quanto pagou por isso, daozhang?", Xue Yang perguntou.

"Mn—Isso não é importante. Estamos chegando no ápice do inverno, e não quero que seus dedos apodreçam e caiam de frio", Xingchen disse enquanto ria. A pequena A-Qing também o acompanhava em uma gargalhada.

Xue Yang riu com desconforto enquanto absorvia a frase mórbida do daozhang. Era a cara de Xingchen soltar as frases mais absurdas sem aviso nenhum. Xue Yang massageou sua mão, sentindo o dedinho que lhe faltava. A área se tornava mais dolorida durante o inverno, por algum motivo.

"Isso não seria nada bom", disse Xue Yang, enquanto inspecionava os cobertores. Haviam levado vantagem da cegueira de Xingchen novamente. Os cobertores não pareciam ruins ao toque, mas Xue Yang conseguia ver como estavam embolorados e velhos. Acertaria essa conta depois.

Por enquanto, eles tinham uma sopa de legumes que fumegava em cima do fogão, e a luz alaranjada da lareira que preenchia o ambiente. E aquilo era mais que o suficiente. Xue Yang carregou os cobertores enquanto se aproximava dos dois.

O cobertor em melhor estado foi depositado sob os ombros de Xiao Xingchen. Ele rapidamente se enrolou nos pesados tecidos, sorrindo e murmurando com satisfação. Xue Yang o observava enquanto o maior recebia uma camada extra de calor, e por algum motivo aquilo aquecia o seu próprio peito.

Jogou um cobertor por cima da cabeça de A-Qing, e se divertiu enquanto a ceguinha se atrapalhava, soltando os palavrões mais criativos para Xue Yang.

O cobertor que lhe sobrou era o mais fino e mofado de todos. Xue Yang estava acostumado a passar frio e adversidades, mas esse inverno foi particularmente cruel. Enquanto sentava-se ao lado de Xingchen, esticando suas pernas e braços para se aquecer em frente ao fogo, sua mente relembrava a noite anterior.

surprise party | xuexiaoOnde histórias criam vida. Descubra agora