Dualidade

[Parte II]

Ela observou as pessoas com uma pitada de apreensão e ansiedade. Sasori havia sumido há uns bons quinze minutos e ela havia se isolado diante da única tela que não estava à venda naquela exibição.

Amor.

Era incrível como ela havia conseguido capturar e transmitir toda a intensidade e mistério daqueles olhos naquela tela, e era mais incrível ainda que mesmo depois de doze meses ela fosse incapaz de esquecê-lo. Esquecer a intensidade com que ele havia lutado contra o término, como se ele realmente se importasse... Esquecer o beijo intenso que havia sido roubado na tentativa de convencê-la a ficar, esquecer a escuridão e o mistério que se apossou daqueles mesmos olhos quando ele finalmente entendeu que a havia perdido e desistiu.

E, Hinata sabia que independente de toda e qualquer promessa, ele amava e sempre amaria outra mulher!

Um suspiro escapou de seus lábios e a morena girou o champanhe na taça em suas mãos. Ela havia sido apresentada a uma dezena de pessoas, e apesar de estar agradecida pelo sucesso da exposição, se sentia estranhamente insatisfeita. Algo estava faltando, e a morena suspeitava que esse algo fosse extremamente importante.

Talvez suas amigas? Sua família?! Não, era mais do que isso...

- Oh! Essa é realmente a melhor de todas, você não acha? - Hinata deixou que um sorriso educado se formasse em seus lábios e encarou a mulher ruiva á seu lado. – Veja só todo esse mistério... Toda essa dor... Eu quase posso senti-la.

Dor? A morena voltou os olhos para a tela que mostrava uma parte indentíficavel do rosto de seu ex-noivo... Cabelos, olho, uma parte do nariz. Sim, tudo naquela pintura gritava dor e ela própria se surpreendeu de não ter notado aquele sentimento lá antes. Essa imagem era o retrato da última vez, do último olhar... E ele expressava dor?

- Essa artista em particular me encanta você sabe? Todo o mistério ao redor dela me fascina. – Os olhos amendoados da mulher fixaram-se no quadro. – Eu consegui arrematar Solidão e Sonhos... E são pinturas tão distintas, mas tão intrinsecamente conectadas que eu realmente me surpreendi com a intensidade. Imagine a minha decepção quando eu descobri que Amor não está disponível para venda... O que eu não daria para encontrar a dona dessa beleza e fazer uma proposta indecente?!

Um sorriso cálido formou-se nos lábios da Hyuuga e seus olhos fixaram-se no quadro.

- Eu ainda não me sinto preparada para deixá-lo ir...

Os olhos amendoados imediatamente se fixaram na morena, levemente arregalados com a surpresa.

- Você é H.H? – Sem dar a morena à chance de responder, a ruiva completou. – Oh Kami, como eu sou estúpida... Estou aqui divagando e fazendo suposições enquanto a verdadeira mente por trás dessas obras de arte está bem ao meu lado. Você deve estar me achando tão estúpida, minha querida!

A morena sorriu em resposta, um sorriso cálido e gentil.

- Na verdade eu não havia notado até esse momento a dor... Talvez eu devesse renomear?

A ruiva desviou o olhar da pintura para a jovem á seu lado, notando a mesma dor e... Arrependimentos?

- E como você o chamaria, pintora-san?

Os olhos perolados fixaram no único olho retratado na pintura, enxergando ali o mesmo olhar ônix que ainda a assombrava mesmo depois de meses de distância e silêncio. Ele não a procurou, ele não a perdoou...

- Tormento.

- Quão profundamente ele a machucou?

- Mais do que eu posso suportar...