O DOM DE SE DECLARAR

49 0 0
                                    

O DOM DE SE DECLARAR

A maioria das pessoas acharia esse tipo de história terrível.

Mas Ele não achou.

Ele me entendeu.

E em nenhum momento descartou a capacidade que eu tinha de colocar coisas no papel.

Isso começou lá atrás... na minha infância.

Eu não entendia porque um homem deitou em cima de mim, e ali ficou.

Enquanto eu via TV. E ficou.

E eu não sabia explicar pros meus pais o que se passou.

Eu falei, sim, num impulso. Mas o fato mesmo...

E aí, de repente, eu me via desenhando aquilo.

E eu via na TV parecido, e eu pensei: poxa, foi isso? Eu ia chegar ali?

Aquilo mexia comigo. Me incomodava. Me roía.

E eu não sabia.

Pra quem contar. Como explicar.

Então começou nos meus desenhos. Espalhados por pequenos rascunhos da casa.

Mas ninguém entendia. Na verdade, nem eu.

E aí eu cresci, evoluí, senti, me deprimi.

E escrevi.

E gente, quanta gente eu inseri

em cenários macabros

com intenção de matá-los

tudo por não entender

o que eu vivi.

Eu não cansava de me expressar.

E eu sempre acreditei que isso daria resultado.

Falar, me expressar.

E um dia, deu.

Um dia, que a menina cresceu,

Mas buscando um afeto

de um jeito desnecessário

Ela sofreu

se envergonhou, se arrependeu

No seu quarto, implorou

Se expressou, em voz baixa,

E não demorou

Que Ele a ouvisse, e a enviasse o primeiro colo amigo que teve.

E daí veio o gosto de transbordar tudo o que tinha por dentro.

Mas quem disse que, com os seres humanos, seria tão fácil?

Declarações de amor (enquanto eu não posso me declarar)Onde histórias criam vida. Descubra agora