Capítulo único

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O lugar não estava movimentado, pois, raros são os adultos que decidem levar suas crianças para parques de diversões justo no dia que dava início a semana. Melhor assim, na verdade. Silêncio, calmaria e harmonia. Sentimentos atípicos vindo de um local que servia para causar euforia nos seres humanos, tanto que era gracioso para Shōto. Ironias eram divertidas, afinal, o próprio era fruto de uma. Um adolescente fruto de dois extremos que não deveriam estar juntos, mas que ainda sim estavam. E, de quebra, o próprio estava vivenciando uma grande ironia apenas para acocar o simbolismo. Sendo assim, como Todoroki poderia segurar a risada diante dessas circunstâncias? Não tinha como, não tinha.

O carrossel atrás de Izuku ainda aparentava ser novo como sempre. Luzes amarelas brilhando com intensidade, assentos com formatos que remetiam a era medieval – cavalos, carruagens, castelinhos e etc – e por fim uma mistura de cores pastéis que sempre alegravam o coração de Shōto. Cores instigam sentimentos, tanto que era por isso que ele sentia tanta harmonia quando olhava os olhos verdes de Izuku. Eles transmitiam anelo, carinho e uma empatia digna de ser comparada com uma divindade. E, mesmo ele estando com um semblante devastado, seus olhos mantinham essas características. Porque ainda que o interior de Midoriya estivesse em conflito, sua alma nunca estava.

E os olhos são a janela da alma, dizem.

— Essa é a nossa última parada. — Shōto falou primeiro, sabendo bem que no momento Izuku não tinha a capacidade de se comunicar. Todoroki pôs as mãos nos bolsos, também, para tentar reprimir a vontade de segurar o rosto dele. Não era hora de ter contato físico, embora ele desejasse muito. — É aqui que nos despedimos.

É. — vazio, infeliz, Izuku estava quebrado e não conseguia esconder isso. — O dia foi incrível, mas ainda sim...

— Não tem como aproveitar totalmente sabendo o que vem depois. — completou, semi-cerrando seus belos olhos bicolor.

— É, não tem. — Izuku respirou fundo, olhou para o céu como se estivesse pedindo força para prosseguir e finalizou enxugando as lágrimas rapidamente. — É aqui que a gente termina, Shōto.

Términos fazem parte da vida. Eles vem, vão e inclusive se desfazem. Todos devem estar preparados para a hipótese de terminar o relacionamento com alguém, porque faz parte da natureza humana romper laços com outrem. O animal humano é sociável, no entanto desapegado e egoísta. Se houver uma causa benéfica para si, ele não hesita em colocar tudo para cima para alcançar essa causa. É natural, rotineiro. Shōto não estava magoado, certamente não. Não culpava Izuku, tampouco. Todos temos o direito de sermos egoístas, no fim. Então se se mudar para os Estados Unidos com o seu padrasto era o melhor para a vida de Midoriya, então Todoroki certamente estaria torcendo pelo futuro dele.

— É cruel terminarmos no mesmo local que iniciamos nosso namoro? — Izuku perguntou, provavelmente se sentido culpado por ter pedido a Shōto para aproveitarem o último dia juntos justo onde ele pediu o heterocromático em namoro.

— Sim, é bem cruel. — assentiu, sentido seu estômago se torcer em desconforto. Não obstante, ainda que ele estivesse mal, seu coração estava leve. — Mas eu gostei. E você gostou. Foi simbólico, nem todos os simbolismos são obrigados a serem felizes.

E Izuku sorriu, fracamente, finalmente se aproximando dele depois de ter passado o dia inteiro distante. Shōto suspirou e conteve um soluço, porque ele sabia o quão pesado seria para o esverdeado caso ele chorasse aqui.

— Somos só um par de adolescente de 15 anos sofrendo com a partida de um. — Midoriya anunciou, encostando gentilmente seus rostos. Tão próximos, porém tão afastados. As pálpebras de Todoroki tremiam, sua respiração estava pesada, mas ainda sim ele estava conseguindo se controlar. — Isso é tão... exagerado, não é? Porque não era como se estivéssemos nos imaginando casando ou construindo uma família juntos.

— Mas ainda sim, dói muito.

— É, dói muito.

Mas até que Shōto estava contente, feliz e agradecido porque, embora ele e Izuku tivessem terminado, o motivo por trás disso não foi pela falta de amor. Apenas um infortúnio, uma graça da vida que, para ter algo bom, há de ter um momento um ruim. O término deles era a respectiva coisa ruim, no entanto o possível futuro brilhante de Izuku era a respectiva coisa boa. Perfeitamente balanceado, como a vida deve ser.

É, Todoroki Shōto estava contente.

— Aceita dar uma última volta comigo antes de irmos, Shōto?

Ele tentou beijar os lábios de Izuku pela última vez, porém desistiu no último segundo.

Esse gesto só pioraria tudo.

— Sim, Izuku, vamos dar uma última volta no carrossel.

• Última volta • | Tododeku |Where stories live. Discover now