Capítulo Único

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COSTUMAVA HAVER UMA PORTA NAQUELA PAREDE

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COSTUMAVA HAVER UMA PORTA NAQUELA PAREDE.

Uma porta toda pintada de branco, de madeira maciça com uma maçaneta dourada reluzente destacando-se. O cartão magnético que a destrancava também era dourado para combinar, pequeno e leve contra a palma da mão suada de Eva.

Segurava-o, passando-o entre os vãos dos dedos vez por outra. De joelhos no carpete grosso, cabelos castanhos desgrenhados e expressão vazia, olhava obsessivamente para a parede lisa e branca do quarto de hotel. Nem uma única imperfeição estava à vista. Nem uma única mancha maculava-a.

Costumava haver uma porta naquela parede. Agora, não havia mais. Onde antes houvera uma porta, restava apenas uma parede lisa e imaculadamente branca. Uma parede densa que a separava do mundo exterior, sem acessos, sem saídas. Uma parede inteira, sem espaços, sem vazios.

Eram as grades de uma prisão.

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Três dias antes, Eva cruzou a porta do quarto de hotel. Ombros caídos, expressão sonolenta, cabelo amarrado num rabo de cavalo. Trazia numa das mãos toda a bagagem enquanto a outra pressionava um aparelho celular à orelha direita.

— Divirta-se um pouco, Eva, pelo amor de Deus! — Clara, a irmã mais nova, implorava. — Esqueça todas as responsabilidades e todas as mágoas pelo menos uma vez na vida. Aproveite essas duas semanas. Já está tudo pago e é por minha conta. Considere um presente de aniversário adiantado. Esse hotel é um dos melhores de Natal, você vai ver!

Eva colocou as malas sobre a cama queen size. Os lençóis estavam limpos e cheiravam à lavanda. Aproximou-se da sacada, resvalando a porta balcão de vidro temperado. Uma ventania repentina varreu o décimo sétimo andar do hotel, atingindo-a em cheio, atirando algumas mechas de cabelo que se soltaram do rabo de cavalo no rosto. O cheiro da maresia pairava no ar.

Dali de cima, Eva viu o oceano brilhante, as construções mais próximas, o fluxo de carros e pessoas nas ruas, tão pequenos quanto formigas. Mais distante, a ponte Newton Navarro erguia-se das águas, imponente e sólida, interligando duas faixas de terra.

Eva suspirou e debruçou-se na sacada.

— É realmente uma vista de tirar o fôlego — concordou com a irmã, que riu.

— Eu te disse que você iria gostar! Agora, trate de aproveitar esses quinze dias. Pegue um lindo bronzeado. Tome um banho de mar. Não ouse pensar em trabalho. Não ouse pensar naquele filho da puta nem naquela biscate traidora. Se quiser saber a minha opinião, aqueles dois se merecem, Eva!

— Tudo bem, eu já entendi. Nada de trabalho. Nada de filhos da puta nem de biscates traidoras.

Eva ergueu a mão esquerda, inspecionando os dedos longos, as unhas cortadas bem curtas. No dedo anelar, ainda usava uma aliança fina de ouro. Cutucou-a com o polegar enquanto a irmã se despedia, prometendo retornar a ligação dentro de alguns dias para receber notícias.

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