• Capítulo 02 - Katherina Evans •

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Trinta e cinco minutos e quinze segundos de silêncio. As pessoas dentro do avião pareciam alheias à minha impaciência e às constantes batidas do meu pé no piso. Para o azar de todos, sei ser muito chata.

"Então", falo, chamando a atenção do Capitão Hansen. "Vocês vão começar a falar ou eu vou precisar ameaçar abrir a porta do avião e jogar todos nós no oceano?"

Sorri. Minha mãe parecia alheia ao que eu estava dizendo, continuava segurando o colar que nunca tirou do pescoço, como se fosse um amuleto.

"Por Deus, não faça isso", riu Derek. "Eu ainda preciso me formar."

"Claro. Por falar nisso, quem é você? Guarda real infiltrado ou um informante da morte me observando?"

"Sou seu amigo, Kath."

"Não, não é. Amigos não mentem sobre a própria identidade."

Derek abaixou a cabeça e passou a mão sobre os cabelos. Ele parecia frustrado, mas adivinha só, eu também estou.

"Querida, Derek gosta mesmo de você. Ele se aproximou como uma fonte de informação, mas ele te ama e isso não mudou", falou Hansen.

"Não parece. Quer saber o que parece? Parece que todos à minha volta sempre estiveram mentindo sobre quem são. Por Deus, a única que parece inocente é a Mia."

"Mia não sabia de nada", confirmou Derek.

"Ótimo, pelo menos tive uma amizade verdadeira."

"Já chega, Katherina", exigiu minha mãe. "Você está sendo rude."

"Já chega? A senhora também mentiu para mim. Eu nem sei quem eu sou e estou sendo rude? Quer saber, se afoguem nas próprias mentiras", falei, levantando-me.

"Filha..."

"NÃO", gritei. "Estou cansada disso. Me prometeram respostas e é isso que eu quero."

Ando até o fundo do avião, me sentando o mais distante que me era possível.



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Abro os olhos quando sinto alguém me cutucar. Nem mesmo percebi que estava dormindo. Me arrumo na poltrona e vejo o Capitão Hansen sentar ao meu lado.

"Me desculpe", murmurou. "Eu estava tentando pensar na melhor forma de contar a verdade, mas acredite, é difícil." 

Ele suspira, parece esperar que eu diga algo, mas continuo em silêncio.

"Há 22 anos atrás, quando você era só uma bebezinha com bochechas rechonchadas, seu pai me chamou em seu escritório e me pediu para fazer a coisa mais difícil que qualquer homem pode pedir: levar sua mulher e sua filha para o mais longe possível dele. O que você precisa entender, Katherina, é que a última coisa que ele queria era ficar longe de vocês duas, acredite. Eu conheço Phillip desde criança e nunca vi ele sofrer tanto quanto no dia que as levei, mas ele não tinha escolha."

"Por que?"

"Daniel Pavlova. Ele é um homem nascido na antiga América, criado na Rússia, onde foi coroado Rei e quarto na linha de sucessão ao trono das duas capitais. Daniel acha que tem direito sobre todos os territórios, e seus milhares de seguidores concordam."

"Milhares?", falo, um pouco chocada.

"Loucos que apoiam tudo e qualquer coisa que Daniel faça. Quando você nasceu, ele estava ameaçando invadir nosso território. Seu pai ainda era novo como rei, e quando ele viu o perigo real e que você ou sua mãe poderiam se ferir, ele enlouqueceu."

Hansen se levantou, pegando uma carta que estava na outra poltrona.

"Seu pai pediu para entregar isso. Você pode não acreditar, mas ele sabe cada mínimo detalhe sobre você, vinterblomst. Por favor, leia e tente entender que tudo isso foi feito e planejado para que você ficasse sã e salva", me entrega a carta indo se sentar no seu lugar anterior.

Observo a carta em minhas mãos, o papel tinha o selo real o mantendo fechado. Consigo sentir meu coração acelerando e minha ansiedade gritando dentro de mim, como se pedisse socorro por tudo o que eu imaginava que poderia ter naquela carta. As respostas estavam ali, na minha mão, e mesmo assim eu estava tão apavorada com o que quer que tivesse ali, que não conseguia nem mesmo me mexer. Era ridículo.

Jogo a carta no banco ao meu lado e coloco as mãos no rosto. Sinto vontade de gritar a plenos pulmões. Toda essa situação não cabia dentro de mim e estava levando a minha mente ao puro colapso. Observo o Capitão Hansen falar com Derek. Olhando assim, eles realmente pareciam pai e filho. Como nunca percebi a semelhança quando Hansen aparecia na TV e Derek estava do meu lado? Eu estou divagando, de novo. Olho novamente para eles, Hansen colocou a mão no ombro do filho como se o estivesse consolando. Talvez por minha causa? Será que fui muito dura com ele? Ou não. Afinal, foram 24 anos de mentiras. Eu tenho o direito de agir assim. Ou talvez eu só esteja catastrofizando tudo, como sempre faço. MALDITOS PENSAMENTOS.

"Consigo ver seu cérebro se desgastando", falou minha mãe, parada na minha frente. "Eu trouxe seu remédio. Sabia que isso poderia acontecer."

"Obrigada", pego o remédio e o copo de água que nem mesmo vi ela trazendo consigo, o que mais meu maldito cérebro deletou. "Sinto que vou explodir."

Ela sorriu. Ela sorriu como sempre fazia quando eu estava à beira de um surto. Aquele sorriso maternal e acolhedor que promete me salvar de mim mesma, como sempre. Minha mãe se sentou ao meu lado, colocando a carta ou a última gota no meu copo cheio de problemas em cima de uma mesinha à nossa frente. Aviões milionários têm tudo.

"Katherina, meu eterno amor", sussurrou, passando a mão nos meus cabelos. "Me perdoe, minha filha. Meu desespero para protegê-la está te fazendo fazendo sofrer agora. Sinceramente, não pensei nessa parte quando concordei com tudo isso. E peço desculpas por isso. Mas, por favor, tente entender. Eu sei que se sente traída e enganada. Não vou diminuir isso, mas tente entender que tudo foi para lhe manter viva e segura."

"Eu sei, mãe. Acredite, eu sei. Mas a minha mente está me sufocando com questionamentos e dúvidas, e o meu coração dói porque eu sei que vocês estavam me protegendo. Mas ainda dói e me sinto culpada por isso", admito, deixando que o choro venha. Me aninho ao abraço da minha mãe como fiz nos últimos anos.

"Å min vakre prinsesse, você não tem culpa de nada. E eu sei que não vai acreditar no que vou dizer, mas quero que se esforce", sinto seus braços me apertarem mais. "Eu te amo, minha filha, de todo meu coração, e você nunca, jamais teve culpa por qualquer coisa que tenha acontecido, entendeu?"

"Sim", sorri. "Obrigada por ficar comigo."

"Sempre."

"Senhores passageiros, informo que estamos sobrevoando o nosso belíssimo Reino", a voz do piloto soou nas saídas de som. "Bem-vindos de volta ao lar."

Me desvencilho da minha mãe e abro a pequena porta da janela. A luz me impede de ver com clareza o que estava ali, mas depois de alguns segundos consigo enxergar, Valoria. E ao que todos dizem, meu antigo lar.



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Å min vakre prinsesse: Minha linda princesa

Vinterblomst: Flor de inverno


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Bjs da Nix

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⏰ Última atualização: May 01 ⏰

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