Capítulo 6

2.9K 359 229
                                    

Quando ela era apenas uma garota,
Ela esperava um mundo de coisas.
Mas isso voou para longe de
seu alcance. A vida continua,
fica tão pesada.
- Coldplay

Aquele infeliz do Tom não me explicou nada e já desligou assim que soltou a notícia. Estou me remoendo, querendo saber se ele está bem, como e por que isso aconteceu. Me olho no espelho e meus olhos fixam na minha boca me lembrando do beijo com Alonzo. Céus, o que há de errado com as pessoas? Alonzo não é de se meter em brigas. Resolvo ir à cozinha preparar um café, se antes não conseguia dormir agora muito menos. Pego o meu celular e a vontade de ligar para ele é grande, mas não sei se seria o certo a se fazer.
Pela manhã, me apresso para sair para o trabalho, espero que alguém tenha notícias dele. Mas antes de chegar até a sala, vejo Cassie mexendo na minha bolsa.

— Cassie! — Ela deixa a bolsa cair pelo susto.
— Oi! — Minha meia-irmã me olha de lado, como se quisesse disfarçar algo tão óbvio.
— Por que está mexendo na minha bolsa? — pergunto, agachando para pegar as coisas que caíram.
— O quê? Por que acha que eu estava mexendo na sua bolsa? — Como ela tem a capacidade de mentir.

— Cassie, para de mentir, essa já não cola mais. Se você quer dinheiro, é só trabalhar, sabe... Como eu faço todos os dias. — Levanto-me e coloco o meu celular dentro da bolsa.
— Olha aqui, sua ridícula, mede esse tom de voz para falar comigo. E até parece que eu vou querer alguma coisa logo de você. — Minha mão coça para dar um tapa na cara dela, o que meus pais deveriam ter feito para educá-la. Eu tenho tantos problemas, preocupações e ainda tenho que lidar com isso.

— Eu falo do jeito que eu quiser, estou no meu direito. Você não pode sair mexendo nas coisas que não te pertencem... — Cassie me corta pulando em cima de mim, puxando meu cabelo. Espero por esse momento há tanto tempo que confesso que estou feliz. Deixo a minha frustração de dias e desconto tudo nela. Dou um tapa forte no rosto dela e ela revida com mais puxão de cabelo. Cassie cai em cima de mim, fazendo com que eu caia de costas no chão.

— Você se acha perfeita, não é? Mas você não passa de uma garota ridícula e burra. — Aproveito a oportunidade para tirá-la de cima de mim, seguro os dois braços finos dela com apenas uma mão e a outra seguro o maxilar dela.

— Eu não sou e nunca serei perfeita. Mas pelo menos não sou patética como você. Você deveria me agradecer por ainda ter o que comer nessa merda dessa casa e de eu limpar o chiqueiro que você chama de quarto. — Os olhos dela estão fervendo de raiva e por incrível que pareça me sinto bem fazendo isso. — Sinceramente, Cassie, eu não sei por que você me odeia tanto, mas eu tenho certeza de que eu nunca te fiz nada para que você possa me tratar desse jeito e, pior, roubar o resto do dinheiro que eu enfio todo santo mês nesta casa para que você possa ter o que comer, ter um lugar onde tomar banho e dormir. — Eu tenho tanto pra falar para ela que passaria o dia todo aqui. — E você? O que você faz? Você nunca deu um peso para nada sequer e ainda tem a audácia de dizer que sou ridícula e burra? — Com o resto de fôlego que me sobra, chego bem perto do rosto de Cassie e olho bem nos olhos dela. — Não toque mais nas minhas coisas, ou você não terá mais mãos nem mesmo para passar esse delineador torto. — Cassie nem mesmo se mexe do chão. Então me levanto e volto a me recompor, arrumando meu cabelo. A porta se abre devagar e Cassie começa a chorar escandalosamente.

— O que você fez com ela? — Minha mãe entra, deixando a porta escancarada e corre até Cassie que chora desesperada no chão nitidamente fingindo.

— O que você deveria ter feito há muito tempo. — Viro as costas e fecho a porta com mais força do que o habitual. Eu nunca pensei e nem imaginei um dia que eu e minha meia-irmã sairíamos aos tapas, mas Cassie já estava passando dos limites e como eu sei que ela é protegida da minha mãe e meu pai sinceramente não liga para nada que não seja bebida, eu tive que fazer. Eu não queria ter chegado nesse ponto, mas foi preciso e espero que ela aprenda de uma vez por todas.

Talvez eu Queira (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora