A escura

76 12 19
                                    

Malia

Correr era a única coisa que meu corpo conseguia fazer meu coração batia tão forte contra minhas costelas que abafava qualquer outro barulho ao meu redor,eu quase não sentia minhas pernas de tanto esforço que estava fazendo ,mas essa era a minha única opção.

Claro que eu também poderia morrer naquela floresta e esperar até que alguém resolvesse dar uma voltinha por ali,o que não era uma boa ideia e dizia por experiência própria.

Aquela floresta era conhecida como “A escura” pelas criaturas que ali se aventuravam,muitas poucas pessoas se permitiam entrar naquele lugar,mas do mesmo jeito que ela era mortal e terrivelmente grande era a maior fonte de litty uma erva medicinal que poderia curar ferimentos gravíssimos em alguns dias.

Eu procurei essa maldita erva com cada mercador que eu fui capaz de encontrar e nenhum deles a possuía,portanto minha única escolha foi procurar ela na fonte,e eu a encontrei o único problema foi que aquela criatura também,e agora minha única escolha era correr até que meu corpo falhasse e ela me destrosasse até não restar nada mais que um dedo,ou até que eu cruzasse fronteira,já que os monstros que ali habitavam não poderiam sair.

Aquela floresta foi criada a muito tempo,talvez até antes da vida humana,e quem quer que a tivesse criado decidiu que ali seria um ótimo lugar para prender as piores criaturas que já pisaram na terra.

Existiam inúmeras teorias sobre isso,alguns diziam que ali havia escondido o maior tesouro de todos os tempos e que a pessoa que o encontrasse seria rico até depois da morte,outros diziam que ali havia o segredo da imortalidade e da eterna fonte de magia que os antigos Raveners possuíam.
Eu achava uma enorme perda de tempo as pessoas ficarem pensando nisso,e talvez aquilo só tenha sido criado para quem fosse burro o bastante pra entrar lá,ou seja:eu.

Eu sabia que era uma ideia completamente e inegavelmente estúpida,mas eu precisava daquela erva como nunca precisei de algo na minha vida,ela era a única esperança para James que tinha se ferido quando fomos ao monte Otle a procura do lagarto dourado,aquilo nos rendeu uma grana alta,mas nenhum dinheiro do mundo poderia curar ele.

Eu tentei avisar a eles que lá era perigoso mas disseram que tínhamos que pegar aquele lagarto a qualquer custo,e nos o pegamos mas o custo foi alto de mais

Não esperávamos que tivéssemos que passar por um monte de abelhas venenosas para levá-lo.

E agora eu estava lá correndo pela escura com a minha vida dependendo da velocidade dos meus pés,eu tropecei em um galho e acabei caindo de cara na lama,o barulho que a criatura fazia ao correr estava ficando cada vez mais próxima,e quando levantei para continuar minha corrida percebi que o “galho” no qual eu tinha tropeçado era na verdade um pedaço de crânio sem sombra de dúvidas humano,tampei minha boca para não soltar o grito que queria sair e continuei a correr.

O sibilar da criatura ficava cada vez mais alto,se pelo eco da floresta ou pelo fato de que a adrenalina começou a fazer efeito eu não sabia.Se bem me lembrava do caminho a fronteira não deveria estar tão longe então fiz mais força em minhas pernas,não adiantaria nada eu morrer agora,eu prometi para James que eu voltaria com aquele erva.

Quando olhei para trás consegui ver o corpo magricela da criatura,ela era alta e seus ossos estavam expostos em sua pele preta com aparência de queimada,sua boca possuía dentes longos e afiados e seus olhos pareciam estar ultrapassando a fina camada de pele que ainda lhe restava e eles não possuíam outra cor se não preto,e sem contar com a sua velocidade que era muito superior a minha e suas garras afiadas que poderiam muito bem cortar minha pele.

Ela estava quase me alcançando e eu decidi que não poderia mais correr e parei,longe o bastante para dar tempo de desembainhar a espada na minha cintura,tinha ganhado ela a muito tempo quando decidi que não poderia mais depender dos outros e comecei a treinar,estava escrito “Lia” na ponta afiada dela,James me disse que era para cada criatura que tivesse sua vida tirada por ela se lembrasse de quem a matou,eu achei meio ridículo no início mas depois até que achei legal.

A criatura se jogou pelos últimos centímetros que nos mantinha afastados e eu desviei para o lado bem a tempo de conseguir raspar a ponta da espada pela sua barriga,sangue preto e pútrido saiu no pequeno rasgo que fiz.

Ela se virou pra mim e soltou algo perto de um rosnado,saia fumaça do ferimento que eu tinha feito e quando meus olhos se ajustaram percebi que não tinha mais nada ali.

-Merda-soltei baixinho depois de perceber a estupidez na qual tinha me enfiado ,eu não sabia que eles se curavam tão rápido,eu tinha sido tola por ter entrado ali sem ter conhecimento sobre nada.

Mas eu estava tão desesperada para curar James que não tive tempo para pensar nisso.Coloquei minha mão livre dentro do bolso da minha calça para ter certeza de que a erva continuava ali dentro.

A criatura atacou de novo e eu me abaixei quando ela tentou rasgar meu rosto com as suas garras,ela era rápida mas eu tinha a experiência e esperteza do meu lado.

Pela forma que seus ossos estavam expostos eu tinha certeza de que ela não comia a muito tempo e o desespero nos faz fracos.

Quando levantei cravei a espada em seu coração,sangue preto pingava e meu nariz pinicava por conta do cheiro azedo e fedido que saia.

Quando ela caiu no chão passei minha espada em uma árvore perto para tentar tirar ao máximo aquele sangue antes de embainhar ela e começar a correr.

Eu sabia que a maioria das criaturas ali só morriam quando eram queimadas mas eu não tinha tempo e nem os meios para fazer isso,só esperava que os outros não tivessem escutado o barulho que fizemos,não queria eles atrás de mim também.

Desviei de vários galhos mas isso não os impediu de se agarrarem no meu cabelo,já estavam fazendo pequenos arranhões nos meus braços enquanto eu os ultrapassava,mas eu não podia parar ou arrumar um pedaço de madeira para tornar o trajeto mais fácil,ou então eles me alcançariam.

Eu tinha conhecimento de que existiam ali criatura piores do que a que eu enfrentei a poucos minutos,mas não me permiti pensar nisso por muito tempo,eu estava com sede e minha garganta estava começando a arranhar e daqui a alguns minutos eu deveria parar e encontrar uma fonte de água.

Faziam o que?horas ou dias que eu estava correndo pela escura?minha noção de tempo tinha se tornadoconfusa não fazia a menor ideia de quanto tempo estava ali.E quanto mais eu corria mais confuso isso se tornava,minhacabeça já estava começando a doer dolorosamente com o esforço que eu fazia para enxergar a frente.

Eu já conseguia ver o pequeno terreno plano mais a frente o que me dizia que eu estava chegando perto da fronteira,um rugido ecoou pela floresta fazendo as folhas das árvores tremeram e eu soube que precisava ser mais rápida.

Praguejei baixinho sabendo que não tinha sido tão silenciosa como eu esperava,mas eu tinha tempo eu conseguiria alcançar a fronteira antes daquela coisa me pegar,eu era rápida e a adrenalina corria por minhas veias.
A luz estava tão perto e eu finalmente ultrapassei a fronteira 1 segundo antes daquela criatura se jogar em mim e ricochetear na fronteira.

Eu acabei caindo na terra e arranhando meu braço,nada muito grave mas ainda ardia.Quando eu olhei de volta para a floresta a única coisa que eu vi foram dois pares de olhos dourados me avaliando na escuridão.

A única coisa que eu queria era me afastar o máximo que eu podia dali,então corri pela estrada que levava direto para a base onde eu poderia dar a erva para James.

No meio do caminho a adrenalina foi parando de fazer efeito e meu corpo doia em todos os lugares em que eu encostava,mas eu ainda precisava chegar lá.

Caminhei pelo que pareceu 20 minutos até avistar a pequena casa de dois andares pintada de preto e com algumas rachaduras na madeira gasta,meus olhos lacrimejaram de alívio por finalmente tudo ter acabado.

Abri a porta e a única coisa que eu consegui ver foi alguém correndo até mim antes da escuridão tomar conta de meu corpo.

Cidade de Sol e Lua ( Hiatus )Onde histórias criam vida. Descubra agora