Uraraka encarava a chave em sua mão, dada por Kirishima que pediu por extremo sigilo por este ato. Ambos sabiam o quão temperamental o dono da casa que ela abria era, evitar qualquer dano vindo dele era o aconselhável e inteligente a se fazer.
Eijirou ligou de manhã cedo para Ochako, alegando que Bakugou estava doente, e ninguém estava autorizado a chegar perto dele para absolutamente nada.
Seria tão mais fácil se ele fosse como a maioria dos homens que ficavam desesperados por pegar uma simples gripe, achando que iriam morrer. Isso ao mesmo tempo que de outrora eles se gabavam por serem fortes e nada poderia derrubá-los. Mas não Katsuki, isso não se aplicava a ele.
Apostava que ele deveria ter usado um dialeto inteiro de xingamentos contra os germes e todos seus sintomas. O homem não era alguém fácil de se lidar, mas ela já estava acostumada com isso desde que o conheceu.
Saiu da cafeteria ao dar um último gole em seu chocolate quente, colocando a chave no bolso de seu casaco fofinho enquanto carregava algumas sacolas no braço.
A casa dele ficava dali a duas ruas, a mulher chegando em menos de dois minutos após uma pequena caminhada pelo clima frio da tarde. Pretendia abrir a porta assim que ficou à frente dela, mas Uraraka fora surpreendida ao ter a mesma revelando a figura de Bakugou ali, meramente agasalhado.
— Cara redonda, tá fazendo o que aqui? — perguntou desconfiado.
— Você ia sair desse jeito? — Ochako arqueou a sobrancelha castanha, olhando para o rosto dele.
Estava avermelhado por uma boa região, e dava para notar também leves olheiras devido a gripe não estar deixando ele descansar totalmente.
— Isso não te interessa, e eu não quero sua ajuda.
Era óbvio que ele ficaria na defensiva e tentaria se livrar dela, mas estava pouco se importando com isso.
— Não ligo se você quer ou não, o mais importante é que você precisa e eu não vou embora só porque ‘tá fazendo cara feia pra mim. — Ochako cruzou os braços, garantindo de pôr um pé pra dentro da casa caso ele inventasse de fechar a porta.
Katsuki chasqueou a língua por trás dos dentes, rangendo estes por leves segundos antes do seu rosto fazer uma careta engraçada, ele espirrando em seguida.
Uraraka suprimiu um sorriso ao vê-lo dar às costas da porta e adentrar para a casa novamente, ela podendo fazer o mesmo.
Retirou suas botas de inverno na entrada, observando a residência que já visitou algumas vezes. Nada realmente tinha mudado que fizesse grande diferença, Bakugou não era do tipo que fazia muitas mudanças de ares.
Calçou uma pantufa clara que estava ali — e sabia bem que não era de Katsuki ou para visitantes —, vendo que ele fora para cozinha, tomando o mesmo rumo. Pendurou sua bolsa marrom com as alças em uma cadeira, repousando as sacolas na mesa.
— Já tirou sua temperatura?
— Pra que? Sei que não ‘tô legal.
— Mas você precisa, deixa de ser teimoso — ela reclamou, mas sem persistir muito no tópico, sabendo onde ficava o termômetro numa gaveta perto da geladeira. Estendeu-o para Bakugou, esperando que ele colocasse embaixo do braço, mas ele se recusou com a mesma cara de sempre. — Bakugou!
Ochako desistiu de ser boazinha, pegando o objeto e levantando a camisa e blusa dele, enfiando-o em sua axila a contra gosto. Sentiu-se arrepiar-se pelo contato com o termômetro gelado e sua pele quente, querendo tirá-lo, porém, sendo impedido pela mulher.
— Você tá sendo um pé no saco — rosnou, suas forças atuais não são das melhores para lutar contra ela.
— É pro seu bem. — Pontuou, voltando para suas sacolas. — Não comeu ainda, não é? Vou preparar algo.
Ela sorriu, o que fez Katsuki fechar a boca quando pretendia falar algo para fazê-la ir embora. Ela esvaziou tudo o que trouxe no braço, de tudo um pouco para uma boa sopa e pelo visto algumas ervas que nunca viu na vida. Uraraka retirou seu casaco de frio ao deixá-lo numa cadeira, aproveitando que estava mais quente a casa, arregaçando as mangas da blusa preta comprida mais fina que usava. Antes de se dirigir à pia, ela voltou-se para Katsuki, retirando o termômetro. Seus olhos já grandes quase dobraram de tamanho ao ver o número.
— Você está com trinta e meio de febre! — disse exasperada, olhando para o homem com mais preocupação que antes. Tomou o rosto dele com suas mãos pequenas, sentindo que a pele realmente estava super quente. — Eu vou ficar aqui fazendo algo pra você, vai tomar um banho morno e não coloque muita roupa. E fique deitado, você nem deveria estar de pé com tanta febre.
Katsuki manteve o olhar ao dela, retirando as mãos que para si estavam frias, de seu rosto.
— Você ‘tá exagerando.
— Exagerando?! Você está quase desmaiando, só não quer demonstrar isso. Prefere ficar desse jeito por mais alguns dias, ou vai deixar eu ajudar você e amanhã de manhã você vai estar novinho em folha?
Ela também sustentava um olhar firme para ele, não se rendendo pelas palavras rudes ou o olhar rubro de censura explícita. Quem desistiu primeiro foi Bakugou, virando-se para sair do cômodo em evidente contradição.
— Vê se não destrói minha cozinha.
Ela mostrou a língua por dois segundos para as costas dele, finalmente conseguindo sua primeira conquista, começando a lavar tudo o que trouxe.
Teve certeza que meia hora havia se passado desde que iniciou ao olhar para o relógio eletrônico do microondas, satisfeita por terminar.
Uraraka equilibrava com cuidado um prato de vidro, enquanto na outra mão tinha um copo com um remédio na ponta dos dedos. A porta do quarto dele estava aberta, mas mesmo assim, ela adentrou o cômodo com cautela, vendo que ele estava sentado no colchão com um lençol cobrindo até sua cintura.
Realmente tinha tomado um banho e usava agora menos peças de roupa, o que deveria estar sendo algo bem difícil para o que o corpo dele estava passando. Viu que tinha uma garrafa de água em sua cômoda ao lado da cama, o que fez a garota ficar mais aliviada. Bem, ao menos se hidratar ele estava fazendo corretamente ainda.
— Ainda está um pouco quente, cuidado com a língua. Mas tome isso primeiro, vai ajudar. — Ela repousou o prato na cômoda junto do copo que cheirava a algumas ervas desconhecidas para o olfato de Bakugou, sendo dado o remédio para si.
Ele tomou sem enrolar muito junto da água, pegando o prato ao usar um travesseiro para apoiar.
— O cheiro não tá nada mal, diferente daquilo ali. — O quase elogio para a sopa e estranheza para o que parecia ser um chá de cor esquisita que ela trouxe saiu pela boca dele, enquanto Bakugou assoprava um pouco do caldo com legumes, macarrão e frango que observou que foi preparado.
— Mamãe inventou vários chás caseiros para todos os tipos de gripes, não julgue algo pela aparência sem antes provar e ver os resultados! — Ela não parecia ter se ofendido, sorrindo de leve ao pensar na progenitora.
Lembrava-se perfeitamente que em casa, como remédios geralmente sempre foram caros, sua mãe fazia de tudo para se virar com ervas, plantas e tudo o que pudesse cultivar no quintal e até mesmo misturar das coisas que comprava para fazer uma refeição e sobrava. E dava certo! Todos os chás e remédios dela sempre a curava quando ficava doente, guardava todo esse conhecimento muito bem consigo para se caso passasse imprevistos. Ficava feliz por poder aplicá-los agora e estar cuidando de Katsuki com isso.
— Foi o Kirishima, não foi? — Após um tempo de silêncio e tendo praticamente terminado a sopa, a voz do garoto ressoou em uma indagação, não precisando de resposta só por ver o rosto de "droga, ele descobriu" de Ochako.
— Ele estava preocupado com você. — Uraraka tentou replicar com um biquinho, falando baixinho. — Não precisa trocar as fechaduras por causa disso, ok? Deixei ela na mesa da cozinha.
“Eu também estava preocupada”, ela pensou, mas guardou para si o pensamento.
Bakugou riu, deixando o prato de lado, pegando enfim aquele chá de cheiro e aparência esquisita.
— Por que vocês dois precisam de desculpas para fazer o que querem? — Ele foi direto, mas sabia que estava sendo um imenso hipócrita.
As palavras dele pegaram Ochako desprevenida, esta que por sua vez apertou as mãos juntas ao pensar a respeito, sabendo que era meio que uma verdade.
Ambos estavam confusos. A adolescência deles não fora uma das melhores, e o que foi o começo de uma relação se estendendo para a vida adulta, também se complicou pelas grandes responsabilidades que desempenhavam agora na sociedade. Eram Dynamight e Uravity, afinal. Dois heróis de rank alto, extremamente comentados pela mídia, cada qual por seus méritos.
A vida pessoal era difícil conciliar totalmente, e estavam passando por isso com delicadeza. Não podiam deixar brechas soltas para repórteres comentarem, assim como sentiam falta um do outro por natureza.
Talvez devessem se deixar aproveitar um pouco, mesmo que com um motivo simplório por cima disso tudo.
Pensando nisso, enquanto Katsuki desfazia a careta por tomar o chá, Uraraka deu a volta na cama, puxando o lençol para o lado e retirando as pantufas no chão, subindo ao colchão, trazendo confusão ao rosto de Bakugou. Porém, ela deu pouco tempo pra resposta, aconchegando-se para perto dele, trazendo o rapaz para repousar sobre seu peito com a cabeça ao puxá-lo para ambos deitarem, os dedos passando pelos cabelos que pareciam espetados por natureza. Assim como a reação que veio a seguir.
— Você tá maluca?! Eu ainda tô doente, você vai pegar algo também. — Ele tentou se afastar, mas Ochako apertou-o mais contra si, fazendo-o ficar no lugar.
— Eu não me importo — ela sussurrou, deixando aquela frase carregar mais que o sentido de apenas ficar gripada também.
Katsuki relaxou ao compreendê-la, concordando com isso. Se ainda fosse quando era bem jovem, nada daquele cenário atual faria sentido, e suas ambições primárias gritariam por serem mantidas. Contudo, sabia que podia conciliar todas as coisas que quisesse se pensasse claramente, e não precisava necessariamente se abster de uma felicidade para alcançar outra.
Só precisavam de tempo, o sentimento mútuo já existia e estava fazendo sua parte.
E em meio aos cuidados um com o outro, eles poderiam ficar juntos. Agora, sem mais desculpas para mantê-los dali em diante.
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Cherish
FanfictionE em meio aos cuidados um com o outro, eles poderiam ficar juntos. Agora, sem mais desculpas para mantê-los dali em diante.