Em uma noite com uma vista escurecida e azulada me perco. O sombrear das paisagens, as luzes em degradê pelas ruas, o ar que leva consigo meus pensamentos, a dúvida que se senta ao meu lado e me encara.
Uma vista sem fim, um horizonte repleto de casas, árvores, estradas escuras, sons entrelaçados. Nessa confortante confusão me confronto. Raios surgem, o céu é rabiscado por um grafite luminoso e de alta carga, as nuvens escuras se sobressaem, a garoa atravessa as pequenas iluminações, meu eu interno apenas se junta a este fenômeno.
Me desligo, o real se torna inexistente.
Tudo o que sinto é a beleza do universo, me dando sentido para todas as pequenas coisas, me fazendo crer, crer na vida, no infinito, em caos, na essência. Sinto-me capaz de ser o próprio céu, ser uma estrela e implodir, explodir, me esconder em meio a escuridão do vazio, navegar pela vastidão de tudo, passar pelas mais diversas gravidades, ser raiz e raio solar, ser força e vontade, ser a verdadeira e única realidade.
Ser.
Me vejo ali, sentado sozinho apreciando a noite. Apenas mais um ser existindo.
E o universo se vê, tão vasto, apenas tudo, existindo. Tranquilamente ele se esvai para que outro pudesse admirá-lo e se inspirar.
