A Grande Obra

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A arte nos possibilita ter o que nos faz falta. Havia um incrível escritor de romances em que criava sem acreditar ter completo domínio sobre suas próprias obras. Depois de um grande período sem desempenhar o ofício sentia que aquele domingo a tarde era infinito em seu tédio. Então decidiu criar uma história. Enquanto escrevia tomou-se de imenso amor pela obra a ponto de se tornar um personagem dela mesma. Ele era o personagem mais poderoso envolto em mistério. Era o único com conhecimento pleno da realidade daquela dimensão. A si mesmo podia dominar, contudo se incomodava com o comportamento da própria criação. Aqueles seres tinham resquícios e características de si mesmo pela sua vaidade. E por isso mesmo se sentiu tão emocionalmente envolvido com aquela obra. 

O autor não tinha e não queria ter domínio dos seus personagens. Deixava fluir a caneta como que liberto ao caos em que ele conseguia manipular em certa medida por atribuir pseudos acasos na trama. Estava convencido que queria influenciar os personagens para se tornar sua maior obra! Sabia ele que qualquer obra precisa de sofrimento para se aperfeiçoar e trazer mais interesse aos leitores. Então encorporou o personagem de si mesmo como um fenticeiro que cria seu próprio motivo para revolta e amaldiçoa aqueles personagens ao sofrimento. A insatisfação se tornou o único motivo de seguir adiante. Isso os tornou amargos e egoístas. Além do que, não sabiam mas eram uma raça fadada a somente serem capazes de ver no outro aquilo que eles mesmo fossem. 

Como toda maldição existe a misteriosa condição de quebra. Então definiu que a única forma de se quebrar a madição seria descobrir que somente pelo amor na sua forma menos egoísta os fariam capazes de amar a si mesmos e aos outros.  Assim teriam uma vida com menos insatisfação e menos sofrimento. 

O livro se tornou muito grande de modo que não é comercial. Os personagens já foram inclusive ameaçados com um terrível fim para acelerar a descoberta. Até hoje o escritor continua neste incessante trabalho por vício, apego e por saber que seria um grande desperdício além de angustiante apagar tudo sem saber o fim. Por isso ainda se distrai com a história. Contudo aparenta ter alguma fé.

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