𝑪𝒂𝒑𝒊́𝒕𝒖𝒍𝒐 𝟐

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Minha mãe e eu vivíamos numa fria casa de fazenda no limite de Busan. É a única casa na avenida, e os vizinhos mais próximos estão há quase 1,6 quilômetros de distância. Às vezes me pergunto se o construtor original percebeu que de todos os pedaços de terra disponíveis, ele decidiu construir a casa no olho de uma misteriosa inversão atmosférica que parece sugar toda a névoa da costa e transplantá-la no nosso jardim. A casa estava nesse momento velada por uma melancolia que lembrava espíritos que escaparam e estão vagando.

Eu passei a noite plantado em um banquinho na cozinha na companhia da lição de álgebra e Dorothea, nossa governanta. Minha mãe trabalha para a Empresa de Leilão JiWon, coordenando leilões imobiliários e de antiguidades em toda a costa oeste. Essa semana ela estava em Charleston, Carolina do Sul. Seu trabalho requeria muitas viagens, e ela pagava Dorothea para cozinhar e limpar, mas eu estava bem certo de que as letras miúdas da descrição do trabalho dela incluíam manter um olho observador e parental em mim.

"Como foi a escola?" Dorothea perguntou com um ligeiro sotaque alemão. Ela estava de pé na cozinha, esfregando lasanha assada demais de uma forma.

"Tenho um novo parceiro de biologia."

"Isso é uma coisa boa, ou uma coisa ruim?"

"Jimin era o meu antigo parceiro."

"Humph." Mais esfregação vigorosa, e a carne na parte superior do braço de Dorothea sacolejou. "Uma coisa ruim, então."

Eu suspirei em concordância.

"Me conte sobre o seu novo parceiro. Esse garoto, como ele é?"

"Ele é alto, moreno, e irritante." E misteriosamente fechado. Os olhos de Taehyung eram órbitas negras. Retendo tudo e retornando nada. Não que eu quisesse saber mais sobre o Taehyung. Já que eu não tinha gostado do que eu tinha visto na superfície, eu duvidava de que eu gostaria do que estivesse espreitando lá no fundo.

Só que, isso não era exatamente verdade. Eu tinha gostado muito do que eu tinha visto. Músculos longos e magros em seus braços, ombros largos, mas relaxados, e um sorriso que era parcialmente brincalhão, parcialmente sedutor.

Eu estava em uma aliança incômoda comigo mesmo, tentando ignorar o que começara a parecer irresistível.

Às nove horas, Dorothea terminou o jantar e trancou a casa ao sair. Como forma de adeus, eu pisquei as luzes da varanda duas vezes; elas devem deve ter penetrado a névoa, porque ela respondeu com uma buzina. Eu estava sozinho.

Eu fiz um inventário dos sentimentos brincando dentro de mim. Eu não estava com fome. Eu não estava cansado. Eu não estava nem mesmo tão solitário. Mas eu estava um pouco inquieto sobre a minha tarefa de biologia. Eu tinha dito ao Taehyung que eu não ligaria, e seis horas atrás eu tinha falado sério. Tudo em que eu podia pensar agora era que eu não queria falhar. Biologia era a minha matéria mais difícil. Minha nota oscilava problematicamente entre 9 e 8. Na minha mente, essa era a diferença entre uma bolsa de estudos integral e parcial no meu futuro.

Eu fui para a cozinha e peguei o telefone. Eu olhei para o que tinha sobrado dos sete números ainda tatuados na minha mão. Secretamente, eu esperava que o Taehyung não atendesse a minha ligação. Se ele não estivesse disponível ou cooperasse nas tarefas, era uma evidência que eu podia usar contra ele para convencer o Treinador a desfazer o mapa de assentos. Sentindo-me esperançoso, eu digitei seu número.

Taehyung respondeu no terceiro toque. "E aí?"

Em um tom prosaico, eu disse, "Estou ligando para ver se podemos nos encontrar hoje à noite. Eu sei que você disse que está ocupado, mas –"

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