Agora Está Me Ouvindo?

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Caminhamos até o banco onde supostamente ficaria o maldito memorial da Alison. Eu ainda não conseguia engolir essa ideia toda, achava toda essa comoção exagerada. Sim, ela teve um fim trágico. Afinal, estamos falando de uma garota de 16 anos que foi assassinada e enterrada em seu próprio quintal. Mas será que todo esse circo era realmente necessário? Talvez eu fosse tão contra essa ideia porque ela tornava tudo mais real. Era como se uma chave virasse na minha cabeça e eu finalmente entendesse que Alison não voltaria, que tudo tinha acabado e ela tinha ido embora para sempre.

- Então é esse o banco. A prefeitura irá plantar flores e colocar uma placa- disse Aria.

-Uma placa?- Resmunguei, sentando no banco.

-É com mensagens, fotos, memórias da Alison- explicou Emily com seu jeito doce de sempre.

- Ah que túmulo legal- respondi, esboçando um sorriso irônico.

- Bella!- Recebi um olhar mortal da mãe do grupo em forma de repreensão.

- O que Spencer?

-Para com isso-ela repreendeu.

 - Quer saber eu estou com a pulseira da Alison desde o dia que a achamos na floresta e eu não quero mais essa responsabilidade.- interrompeu Hanna, nos distraindo.

Se eu fosse Hanna, também não gostaria disso comigo. Quem sabe a pulseira carrega o espírito de Ali e ela vem me assombrar à noite. Nem pensar. Eu não queria aquela pulseira por nada. Hanna a balançava em nossa frente, e dei um passo para trás, mostrando que não queria aquilo perto de mim. Uma amiga morta já era ruim, agora uma amiga morta em forma de fantasma era mais do que eu podia aguentar.

- Vocês são um bando de bebês, me dá eu fico com isso. Aliás, "A" não vai mais nos incomodar- Spencer disse, tirando um notebook de sua bolsa. - Me dá o celular de vocês eu vou bloquear todos os números e emails de desconhecidos.

- Agora "A" não pode nos encontrar- falou Hanna esboçando um sorriso

- Está vendo todas essas mensagens? E nenhuma é de "A"- Spencer riu e brincou, mostrando o celular.

Uma rajada de vento nos atingiu, e uma folha que estava no chão voou em nossa direção. Aria pegou o papel, e nos deparamos com uma foto de Alison em vermelho. Destacada na parte inferior, havia uma frase. Já sabíamos bem de quem era. Parece que "A" também gostava das coisas à moda antiga e sabia se comunicar sem tecnologia.

Peguei o papel da mão de Aria de forma nada delicada, amassando-o e jogando-o na lata de lixo próxima. Saí irritada, pisando fundo. Aquilo já estava me deixando furiosa. Quem diabos era essa tal de "A"?

"Ding, Dong a vadia está morta."

-Nos vemos na próxima aula crianças, não esqueçam de ler o texto da página 87.- Anunciou o professor, encerrando a aula. Será que é cedo demais para começar a contar os dias para as férias? Não me leve a mal, eu adorava a escola... ou pelo menos costumava gostar. Ainda não tenho certeza. A presença constante de Alison fazia tudo parecer diferente. Nós sempre nos matriculávamos nas mesmas aulas, tínhamos a mesma rotina, todos os dias, desde o jardim de infância. Agora, faço todas essas coisas sozinha. Em algumas aulas, tenho a companhia das meninas, e o vazio aos poucos vai sendo preenchido. Mas aquela sensação de falta e nostalgia permanecia, como um peso no meu coração. Eu sabia que ela sempre estaria comigo, a conexão que tínhamos era além da amizade, e isso nunca mudaria.

Peguei minhas coisas e as coloquei dentro da bolsa, saindo da sala. Segui meu caminho em direção ao refeitório e, ao entrar, encontrei as meninas reunidas em uma roda.

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