I - Malum est

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Passos abafados eram ouvidos ao longo do corredor. Um ritmo cadente e único, cada pisada era milimetricamente calculada, tal como a de um predador. Um estalar. O barulho característico da pressão entre a falange média e proximal, propositalmente baixo, indicava que o predador não era um animal – controlar e fazer tal sonido era uma característica exclusiva dos homo sapiens.

Encontrou uma bifurcação. O som se locomoveu para a direita.

Mais um corredor.

Uma respiração pesada. Molhar de lábios e um estalo de língua no céu da boca.

Portas e mais portas. Madeira escura e rústica, maçanetas de bronze polido e uma curta distância entre elas. Cruzes. Cruzes entre uma porta e outra. Tão similares ao chão negro, como singulares as paredes tão alvas. Uma sobreposição. Dualidades. Branco, preto. Claro, escuro. Bem, mal.

Uma porta se abriu. Havia preto, branco, amarelo e azul.

Oh, azul.

— U-Uchiha-sama?! — A moça constatou assustada. Esperava encontrar ninguém no corredor àquela hora da madrugada. Muito menos o padre adjunto. Notou-o se aproximando, pé ante pé, passo a passo. Sempre vestido de negro, calças bem ajustadas e camisa que deixava muito para imaginação. Sua presença era lúgubre.

Ela baixou o olhar, aguardando sua reprimenda. Todas sabiam o quão implacável aquela figura era, rígido, austero e, às vezes, até rude. Prezava um comportamento exemplar de todas as noviças da escola. Impunha respeito e exigia bons modos, desde o cumprimentar até as orações que faziam antes de dormirem.

Certamente, não gostou de tê-la visto sair de seu quarto em plena madrugada, quando todas dispunham de um banheiro simples em seus aposentos. A respiração dela pesou ao imaginar que castigo ele a infringiria. Levou ambas as mãos atrás das costas e inclinou-se quase em um ângulo de noventa graus, demonstrando subordinação.

— Pergunto-me o que a senhorita faz fora de seu quarto a esta hora. — A voz grave e rouca arrepiou todos os pelos de seu corpo. Ela sabia que estava muito ferrada, engoliu em seco o medo. — Temos um código de conduta nesta instituição que diz que após o toque de recolher nenhuma noviça deve permanecer fora de seu quarto, sendo suscetível a punição imediata.

— E-Eu peço perdão pela minha infração. — Suplicou num fio de voz, temendo o que a aconteceria se ele não aceitasse suas desculpas. Seu coração batia acelerado. Estava tão tensa que não percebeu os dedos longos masculinos tirarem o colarinho clerical e começarem a abrir os primeiros botões da camisa escura, expondo parte do peitoral liso. Ela permanecia fitando os sapatos bem lustrados dele. O Uchiha gostava da visão, sentia o cheiro do medo que exalava de seus poros e aquilo era uma carícia em seu ego.

— Não acredito que o perdão seja suficiente. — A moça sentiu sua garganta travar. Um breve farfalhar em suas costas trouxe seus cabelos loiros para a frente de seu corpo, quis que os fios a escondessem dele. Mordeu o lábio inferior com força. Ele iria castigá-la. Implacavelmente. A garota sabia o suficiente sobre seus métodos para temer. Como ficar ajoelhada sobre o milho no confessionário por horas a fio ou ter que rezar incessantemente durante todo o dia. Sem comer nem beber, buscando a absolvição de seus pecados.

Céus, imploraria a ele, estava desesperada!

— Qual é o seu nome?

— I-Ino. Yamanaka Ino. — tremulou.

Sorriu sem que ela percebesse.

— Ino. Acredito que esteja ciente da nossa preocupação com todas as jovens que estudam aqui. Queremos ensiná-las o melhor caminho, fazê-las agradáveis servas ao nosso Senhor, transformá-las em templos de benevolência e caridade. — Ele pronunciou cada palavra pausadamente, como se as saboreasse em sua língua. Ino não podia ver seu rosto, mas seria loucura acreditar que ele estava sendo sarcástico? — Veja bem, a senhorita violou uma regra muito importante e se eu não estivesse presente, sabe-se lá quais regras a mais seriam violadas. — disse olhando-a como se a punisse com os próprios olhos. Ela se apavorou.

O que me dominaOnde histórias criam vida. Descubra agora