Capítulo 10- Math

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Assim que peguei num sono, tive um pesadelo. Sonhei que estava passeando com a minha mãe, e eu ainda era criança. Em um certo momento, ela começou a chorar, e logo depois foi arrastada por uma pessoa, porém essa pessoa era completamente preta, como uma sombra. E eu tentava correr e salvá-la, sem sucesso algum. Algo me segurava no chão, como se meus pés pesassem uma tonelada.

Acordei ofegante. Pesadelos assim não eram raridade. Eu tentei voltar a dormir, mas não conseguia. Queria um lugar aberto. Um lugar onde eu pudesse respirar, e me sentir perto dela. Da minha mãe.

Eu saí do quarto e fui até as grades de madeira. Olhei para o redondo saguão no térreo. Sentei, e atravessei minhas pernas na grade. Fiquei ali. Tentando não pensar. Mas era impossível. Explosões de pensamentos enchiam-me a mente.

Num movimento ivonluntário olhei para o lado e pude vê-la. Ela havia chegado agora? Estava sentada olhando para o saguão. Olhou pra mim e disse:

-Se te pegarem aqui a essa hora você está frito...

-Não conseguia dormir. Então decidi vir para fora. Gostaria de ir para um lugar onde desse para ver o céu... as luzes da cidade. Ar fresco.

Ela olhou para o chão.

-Se eu te mostrar um lugar, você jura que não conta pra ninguém, e que nunca mais vai voltar lá?

-Claro! Por favor, me leve pra um lugar fora daqui. -Eu disse, com um tom de entusiasmo.

Ela se levantou, e olhou para mim, como se dissesse, "siga-me."

Ela me levou até uma espécie de terraço do orfanato. Era um lugar aberto, calmo, silencioso, frio... era tudo o que eu precisava.

  Eu observei Mary Ann andar até as grades, sentar, e ficar olhando a cidade. Ela possuia um olhar lindo. Reflexivo. Misterioso. Sentei ao seu lado, e fiquei observando a lua. Como me sentia próximo da minha mãe! Ela olhou pra mim, e quando eu retribuí o olhar, ela corou, e olhou para o chão. Ela estava muito tímida.

-Não é linda? A lua? -Eu perguntei.

-C-claro. Com certeza.

-Sabe que ela tem um significado pra mim?

-Sério? -Ela parecia curiosa.

-Sim. Minha mãe foi assassinada. Eu sofri muito com isso, e ainda sofro, mas eu me sinto mais próximo dela quando olho para a lua. Principalmentd em lugares assim, tranquilos. Sou só eu e ela.

Pela primeira vez eu me abri para alguém. Ninguém sabia disso. Mas ela me traz uma confiança, e eu sinto que posso contar tudo.

-Nossa... que bonito. A minha mãe teve leucemia. Tudo o que eu tenho é esse colar. -Disse ela, puxando o colar para fora da gola do vestido do pijama. -Era dela. Ela adorava. Quando morreu, eu guardei, e uso sempre.

Ela também tinha um passado triste. E algo a que se apegar. Me senti confortado.

-É muito bonito mesmo. -Eu disse, e me aproximei dela. Pegui o pingente de rubi para olhar. O colar estava em seu pescoço, o que fazia com que estivéssemos com o rosto muito próximo um do outro.

-Parece que todos nós temos um lado sensível... - Eu disse. Olhando nos olhos dela.

E então, de um jeito inexplicável... aproximamos nossos rostos. Num movimento involuntário, pus minha mão em sua nuca, e nos beijamos. Naquele momento eu senti que só existia Mary Ann em minha vida. E mais ninguém. Meu coração acelerou, e o sentimento que se iniciou quando cheguei explodiu dentro de mim.

Mas então ela parou. Se afastou. Olhou para mim assustada, levantou-se, deixou a chave no chão e saiu. Eu observei seus passos, e quando ela desceu as escadas, eu me levantei. O que eu tinha feito de errado? Eu fiquei refletindo por um tempo, e logo depois resolvi voltar ao meu dormitório. Desci as escadas e tranquei cuidadosamente cada porta. Pus a chave sob o tapete, e desci silenciosamente as escadas. Estava triste. Ela não sente o mesmo que eu? Eu estava confuso. Mas eu tinha uma única certeza. Agora realmente, posso dizer, eu amo Mary Ann, e quero fazê-la feliz.

Broken Hearts (EM REFORMA)Onde histórias criam vida. Descubra agora