Em uma casa vazia, rústica e solitária, vivia uma jovem donzela com dezenove primaveras completas. Seu sorriso trazia orgulho e felicidade por onde passava, iluminando os rostos dos conhecidos de sua pequena vila. Obviamente, não eram todas as pessoas que a viam de forma tão agradável. Afinal, uma moça naquela idade e ainda não tendo um marido para que a honrasse era a pior das desgraças, considerada pelos mais conservadores. Não importava o quanto aquele coração fosse puro ou o quão dedicada ela se mostrasse ser. Solteira era como uma presença indesejada.
O povo daquela pequena aldeia se perguntava o motivo de sua solidão. Apesar de não ter um dote, a jovem tinha uma beleza inigualável, tanto em seu interior quanto em seu exterior. Por muito tempo, comerciantes de outros lugares e viajantes tentaram conseguir sua mão. Traziam-lhe presentes caros e promessas duvidosas... Contudo, não importava a ambição de suas promessas, todas elas chegavam ao mesmo fim. A jovem recusou cada proposta, desde a mais encantadora à mais fantasiosa. Não importava o que lhe prometiam, a donzela não se rendia. Ela não os amava como deveria ser e, certamente, nem eles a amavam como diziam.
Assim, a jovem não tinha mais nada a não ser sua própria solidão.
Sob o teto de uma casa fria, a donzela tentava encontrar sua própria salvação. Estava sozinha no mundo... Sem pai ou mãe, sem irmão ou irmã. Ela não tinha mais um significado em sua vida. Ela não tinha mais um lar para ser feliz.
E pouco em pouco, seu coração imergiu em tristeza.
Por isso, para fugir e saciar de vez a dor da ausência, a jovem tomou a mais altruísta atitude. Com um curvar frágil em seus lábios e um brilho inigualável em seus vívidos olhos, a donzela abriu as portas de sua casa e de seu coração. Radiante, com o sorriso mais puro e caloroso, a jovem acolheu todos aqueles tão semelhantes a si. Os solitários e desamparados como ela. Todas as crianças indesejadas ou sem lugar no mundo encontraram luz em seus braços. E assim, gradativamente, aquela pequena velha casa cheia de escuridão se enchia de alegria mais uma vez. Entre risos e choros infantis, a bela jovem era rodeada pelo amor que tanto buscou.
Certo dia, em um momento vespertino em meio ao verão, a donzela tomou as roupas que necessitavam serem lavadas. Como um rito, ela beijou a cabeça de cada criança aos seus cuidados, deixando os mais novos sob a supervisão da mais velha e a rústica horta para o garoto mais velho. Sozinha para cuidar de tantos tecidos, a jovem não reclamou em nenhum instante seu árduo trabalho. Com maestria pelo costume, ela caminhou de sua casa até à beira do rio mais próximo, não demorando nem um segundo a mais ou a menos. Distante em seus próprios pensamentos, suas mãos calejadas e com pequenas feridas começavam o serviço de limpeza. Apesar de gasta e visivelmente cansada, nada era capaz de diminuir o belo sorriso de sua face satisfeita.
Contudo, de repente, um brilho ofuscante irritou seus olhos. Intrigada com tal acontecimento, a jovem não conseguiu expressar mais do que sua própria confusão. Perto da pequena queda d'água, perigosa para pequenos seres, uma estranha luz dourada se destacava em meio as águas, como uma joia em sua caixa. Sendo de uma natureza curiosa, mesmo que receosa, a donzela deixou seu afazer para se dirigir aquela pequena piscina natural. Cautelosa, seus passos continuavam naquele ritmo vagaroso, apenas para a própria tortura de sua mente. Porém, sua espera pareceu ser recompensada quando seus olhos se retraíram em encanto.
Nadando em extrema graça, o pequeno e único peixe existente naquele local parecia dançar. Dono de uma coloração majestosa, vívido e brilhante, nada mais se destacava que não fosse aquele pequeno corpo alongado. A jovem se encantou com tamanha graciosidade e, ao mesmo tempo, preocupou-se com sua solidão. Assim como ela, aquele pequeno animal estava sozinho e sem nenhum lugar para correr. Se alguma ave o encontrasse, o banquete estaria servido. A donzela se sentiu mal com aquela pequena ideia.
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A Promessa do Rouxinol
FanfictionInúmeras sãos as histórias contadas na cidade ancestral de Liyue. Fantásticas ou não, é fato que atraem os olhos de curiosos e verdadeiros apreciadores das artes. Por onde quer que você vá, sempre haverá um contador de contos exercendo seu trabalho...