Romantismo

Segundo; Epifania

Serendipidade. A palavra era bonita e seu significado mais ainda. A garota achava engraçado como não sabia da existência daquela palavra antes de receber o bilhete. Já havia se passado alguns dias desde que recebera o seu primeiro presente e ansiava pelo próximo. Na verdade, já estava impaciente. 

Bufou inconscientemente, despertando curiosidade em Mel, que estava ao seu lado. 

— O que te irritou dessa vez, filha? 

Coraline despertou repentinamente, estava tão absorta em pensamentos que, por um momento, esqueceu da realidade. 

— O que? Ah... Não é nada, mãe. Coisas da escola. 

Assim que parou o carro em um semáforo, Mel lançou um olhar desconfiado para Coraline. Sua marca registrada. 

— E o que seriam essas "coisas da escola"? 

— Literatura. O conteúdo desse bimestre é romantismo e não é tão fácil como parece. 

— Sei. 

Coraline sorriu junto com Melissa, sabia que não era fácil esconder as coisas de sua mãe. 

Mel parou o carro no estacionamento do shopping e subiram diretamente para uma livraria que inaugurou recentemente. Seu pai estava lá, tinha acabado de fechar contrato e venderia seu livro lá. 

A família Jones resolveu almoçar em um restaurante na parte externa do shopping. 

*

Chegaram em casa perto do anoitecer, os raios de sol ganhando uma cor alaranjada e o céu se transformando em uma verdadeira obra de arte. 

Assim que Coraline chegou em seu quarto lembrou que deixou o celular no carro. 

Encontrou o celular no banco traseiro, junto com um lírio laranja em um vaso. Por um momento pensou que fosse apenas mais uma flor que sua mãe comprou, mas amarrado ao vaso tinha um bilhete igual aos que ela recebeu antes. 

"Epifania: Revelação manifestada a partir de algo inesperado; percepção intuitiva. 

Em outras palavras: o momento em que você subitamente sente que entendeu" 

Coraline conhecia aquela palavra e seu significado mas isso não diminuía sua ansiedade em saber como seu "amante" a ressignificaria. 

Um formigamento subiu por todo seu corpo enquanto seu quarto era inundado pela luz laranja do pôr-do-sol, o que acabou por realçar o sentimento que aquecia seu peito. Sentir-se amada desse jeito era novo para ela. 

Sentou-se perto da janela, hipnotizada pelo cenário à sua frente. A hora dourada era a sua favorita, as árvores ganhando cor; o céu as vezes ganhava um tom rosado assim que o sol se escondia. Suspirou e saiu da janela. Foi surpreendida por um bilhete dobrado em cima da cama. Desceu rapidamente as escadas, na esperança de encontrar alguém. As únicas pessoas na casa eram seus pais. Fechou a porta da cozinha e andou pelo jardim, parando no meio da pequena ponte. Abriu o bilhete e o leu: 

"Perceber que eu estava apaixonado por você foi um momento epifânico. Agora, estou aguardando pelo seu momento" 

Sorrindo, olhou para as flores no jardim e falou consigo mesma: 

— Já aconteceu. 

*

O relógio marcava meia-noite quando o filme que Wybie assistia junto com sua avó terminou. Jogou-se na cama e olhou as notificações no celular, uma em específico chamou sua atenção: um "boa noite" junto com um coração laranja. 

Respondeu: "você me descobriu antes do esperado, srta. Jones" 

Um sorriso doce estampou o rosto de Wybie quando leu a resposta de Coraline: 

"Posso fingir não saber...

Por enquanto ;)" 

*

Agora que Coraline sabia quem estava se declarando, as coisas ficariam mais divertidas. 

Wybie estava na aula de física pensando no próximo bilhete quando o sinal para o intervalo tocou. Resolveu ficar na sala para poder pensar com calma. E evitar encontrar Coraline. 

Porém, se esconder da azulada não era nada fácil. 

Sorriu ladino quando viu Coraline entrando na sala e fechando a porta. 

— Senhorita Jones, nunca pensei que a veria dentro de uma sala de aula na hora do intervalo. 

— É bom mudar de vez em quando — sentou-se a frente do moreno — Então, o que você está fazendo? 

— Estudando. 

Wybie sabia o motivo da pergunta dela, mas também sabia que ela não iria perguntar diretamente sobre isso. Ou era o que ele achava. 

— E como vai a garota que você gosta? 

— Vai bem. Ainda não falei com ela sobre o que eu sinto, mas acha que ela já sabe. Ela é esperta. 

— Como você conheceu ela? — Coraline apoiou os cotovelos na mesa de Wybie, o olhar carregado de falsa ingenuidade. 

Wybie deu de ombros: — Salvei a vida dela. 

Coraline revirou os olhos e se inclinou, chegando mais perto de Wybie. 

— Quando você pretende contar o que sente para ela? 

— Assim que eu estiver pronto — Wybie não hesitou quando Coraline se aproximou mais de seu rosto. 

— E quando você pretende beijar ela? — Agora o olhar dos dois exibiam luxúria. Os rostos perigosamente próximos. A respiração de Wybie aquecendo os lábios rosados da garota. 

Wyborne acariciou a bochecha de Coraline antes de sussurrar: 

— Assim que eu estiver pronto — novamente o sinal tocou e o moreno aproveitou que Coraline estava distraída se indignando com a situação e deixou mais um presente na bolsa da azulada. 

— Até mais, senhorita Jones! — e saiu, deixando a garota o fulminando com os olhos.