Little Things

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Três meses de detenção em uma penitenciária, esta é a pena por invasão, entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra a vontade expressa ou tácita de quem possui os direitos sobre a propriedade. Pesquisei tudo isso na internet antes de embarcar em mais uma de suas loucuras. E mesmo ciente de todos os riscos eu aceitei, talvez a louca seja eu.

Meus pés se movem pelas ruas do centro com o máximo de leveza que consigo reunir, como se o mínimo barulho fosse capaz de denunciar o que estou prestes a fazer. Realmente ainda me questiono porque aceitei embarcar em mais uma encrenca de meu melhor amigo, a resposta cutuca o fundo da minha mente com uma voz de escárnio mas decido a silenciar. Não preciso mais uma vez ouvir o que já sei mas me recuso a aceitar.

E é parada em frente ao grande muro de tijolos pintado com várias camadas de tintas já descascando e gritando e implorando por uma reforma que me encontro, olho para os dois lado antes de realmente fazer o que concordei hoje, com a desculpa de que é seu aniversário e eu deveria ceder a este pequeno capricho do mais velho. Reviro os olhos com o tanto que sou patética.

Constatando que ninguém está interessado na mulher estranha encarando uma parede completamente em silêncio, eu coloco em prática meu plano de escalar o muro sem ser vista, usando um dos tijolos quebrados dou apoio para meu pé, impulsionando o outro e grudando minhas mãos no topo puxo meu corpo para cima, com mais esforço do que achei que seria necessário me sento sobre o muro e tento acalmar minha respiração.

Olhando para baixo consigo notar o tamanho da queda que terei, bom, se eu sair com apenas um osso quebrado irei considerar um lucro total. Me segurando novamente na borda lanço meu corpo para baixo tentando diminuir a queda que acaba com um impacto seco e duro no chão, a dor pulsante invade meu pé subindo rapidamente para o resto de meu corpo como se corresse por minha corrente sanguínea.

Em um breve espaço de tempo antes de me levantar xingo todos os palavrões que cruzam minha mente, analisando meu tornozelo noto que nenhum osso parece fraturado, talvez um torção, mas nenhuma fratura. Sigo com dificuldade até o local onde marquei com Julian, sentindo leves queimações da dor em meu tornozelo que tenho ciência de que mais tarde se tornará uma verdadeira dor.

Encontro o moreno sentado sobre o balanço enquanto observa com atenção os tênis em seus pés, um que jamais seria capaz de indicar o modelo, talvez sua marca mas jamais seu modelo, mas não como Julian meu amigo sempre foi completamente apaixonado por tênis, e sua enorme coleção é a prova viva disso, uma lição que aprendi é jamais em hipótese alguma perguntar sobre seus calçados caso não queira uma palestra extensa sobre os mesmos.

— Qual é o seu problema? — questiono parando a sua frente.

Sua cabeça se ergue e um sorriso nasce em seus lábios iluminando seus olhos, não consigo evitar o sorriso que cresce em minha face ao o observar, reviro os olhos levemente. Suas mãos seguram cada lado de minha cintura me aproximando de seu corpo em um abraço, preciso evitar a confusão que se forma em meu estômago com o choque elétrico que percorre meu corpo com o mínimo contato do homem a minha frente, constrangedor que após tantos anos de amizade eu não sabia controlar as reações de meu corpo ao seu lado.

— Boa noite Anne — exclama o moreno com diversão — Ótimo saber que está em um bom humor.

— Qual o problema em comemorar o seu aniversário em um lugar normal como qualquer outra pessoa? Porque diabos precisamos invadir nossa antiga escola no meio da noite?

— Foi aqui que nos conhecemos.

Seu rosto se vira enquanto observa tudo ao nosso redor, como se lembrasse cada um dos momentos juntos que vivemos neste parquinho durante os anos que estudamos aqui.

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