Primeiro e último

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Hudson, 14 de fevereiro de 2021

    Carlos me disse uma vez que tudo poderia mudar em um piscar de olhos. De primeira eu não entendi, obviamente, mas ao longo do tempo eu percebi que, era apenas ele e suas frases que se cumpriam com o tempo.

Nos conhecemos em 1998. Eu tinha apenas dezesseis anos na época, estava de férias em Nova Orleans.

Foi uma loucura, era charmoso até na forma de andar, seu cabelo encaracolado e seu sorriso incrivelmente branco me fez parar. Ele estava lindo nesse dia.

Seus olhos encontraram os meus e no mesmo segundo ele correu para se apresentar. Ainda me lembro do seu timbre grosseiro dizendo aquelas palavras.

"Oi, não sei muito bem como agir com mulheres, mas você me surpreendeu e... Ora, meu nome é Carlos, você é linda, eu definitivamente te encontrei pela linha vermelha".

E por mais brega que tudo isso soasse, eu fui com ele comprar um, ou dois hambúrgueres artesanais do Mrs. George, daqueles que vem com batata frita canoa e refrigerantes pequenos e caros. Ele não pagou tudo, era diferente eu acho. Me contou sua história, disse que era Brasileiro. Amou muitas mulheres, mas elas não foram dignas e, talvez eu seria.

Não, não foi a primeira vista na verdade.

"Me chamo Monica, obrigada por tudo, mas preciso ir para casa meu namorado me espera. Vou... bom me desculpe"

Eu não tinha namorado. Apenas não queria um. Os dias eram corridos na escola, eu acabara de terminar o segundo ano do ensino médio. Já havia passado tanto tempo concentrada, para que desandar tudo?

Alguma vez nos encontramos nas ruas de Houston, eu não acreditei de primeira vista, mas assim que o vi, fui direto até ele. Ainda tinha o mesmo olhar, a mesma voz, agora deixara o cabelo crescer, mas nada o deixava mais lindo do que seu sorriso.

Contamos um para outro tudo o que se passou durante três anos, e uau "Como veio parar aqui?", nós morávamos aqui.

Os dois, na mesma cidade pequena por três anos sem se encontrar. Uma verdadeira lástima.

Ele namorou uma garota, Alice era seu nome, parecia legal. Mas logo terminou com ela, depois de uma semana que começamos a conversar. Talvez um sinal, mas eu ainda não entendia.

Carlos morava sozinho há alguns minutos da casa dos meus pais. Naquele exato momento em que o homem me contava sobre sua carteira de motorista, eu pensava em como faria a prova da faculdade, estando até tarde na rua quase todos os dias da semana. Meus pais não aprovariam isso, de forma alguma.

"Posso morar com você?"

"Morar comigo? Mas... de onde tirou essa ideia?"

E na verdade nós não fomos morar juntos, ele mandou eu voltar para casa e "Tomar juízo". Sua necessidade de deixar claro que devemos sim fazer a coisa certa, eu o amava. Ainda o amo.

Terminei a faculdade, ele me ligou dizendo que queria me levar a um parque de diversões no mesmo final de semana, e lá me pediu em namoro. Oficialmente. Com flores brancas e uma blusa personalizada do Mickey, alguns meios sanduíches de atum e dois copos de milkshake.

Eu nunca pus fé a isso. Nós? O eu de alguns anos acharia isso ridículo, mas nunca foi.

Seis meses até o pedido de casamento. Ele gritou comigo, eu gritei com ele.

Voltei para a casa dos meus pais, mas ele me ligou de madrugada e ouvi o motor do seu carro desligar em frente à porta.

Não pensávamos em filhos, talvez adotar um adolescendo quando estivéssemos na casa dos trinta. A idade do sucesso.

Ele segurou minha mão quando eu estava triste pela partida da minha mãe. Ele me abraçou sabendo que doía eu ter perdido meu emprego e tudo pareceu fracassar quando meus livros não foram vendidos.

Mas nós éramos um casal, nós passaríamos por coisas bobas como essas. Era só questão de tempo.


"Uma vez, estava em um restaurante, tinham muitas mulheres lindas por lá"

Eu o olhei com deboche, fazendo todos rirem. Passei encarar minha aliança fina, com um pequeno diamante brilhante em cima por um momento.

"Bom não faça essa cara, deixe-me continuar. Um amigo meu estava andando de um lado para o outro, procurando palavras para escrever em seus votos. Ele suava de ansiedade, faltavam algumas horas para o casamento e ele não conseguiu pensar em nada, então ele disse alguma coisa como 'A meu Deus do céu, eu amo essa mulher, por que tanta dificuldade?'"

Imitou o amigo, arrancando risadas. E continuou.

"Parou e me encarou tão firme, pensei que fosse me matar. E então ele começou a escrever, escrever e escrever, e quando eu a li, pela primeira vez pensei em você. A carta tinha um final inspirador, era assim..."

Pausou, dando o papel para o padrinho. Carlos segurou minha mão com força e eu senti lágrimas jorrarem dos meus olhos, mesmo sem saber o que estava por vir.

"Não podemos mudar o mal que fizemos um ao outro no passado, mas poderemos construir uma vida incrível juntos, a partir deste segundo."


Passamos anos casados. Isso envolve brigas, insultos e estresse. Mas por cima de tudo envolve amor e isso nos deixava completos. Éramos completos, sempre fomos.

Meus olhos começaram a arder com o tocar do celular, e ao atender eu não soube me expressar, era ele lá. Não podia me abraçar agora, me reconfortar e dizer que tudo bem chorar agora, mas tudo pode se resolver com um pote de sorvete e um filme do Johnny Depp.

Mas não, não podia se resolver isso como nos filmes e livros clichês. Eu me deixei cair ao chão.

Ele morreu e, eu não vou me deixar morrer. Meu coração pareceu rasgar e eu tive de engolir que dez anos não foram um sonho, tudo era real. E tudo acabou, por causa de um bêbado.


— Chirstian Arriviera. Não me prenda por favor eu, eu perdi minha esposa. Ele levou ela, o câncer levou ela eu não sei o que fazer. Eu estou louco? Eu não posso estar, eu. Eu só queria uma família feliz, o que eu fiz para merecer isso? Por favor não façam isso me perdoem eu... eu apenas errei.

Obrigado Carlos, porque você é como milhares de estrelas, que aparecem ao anoitecer, fazendo-me me aprofundar na beleza do céu e todos os dias me perguntar, se fiz certo em te deixar ir. Eu quero que saiba, que todos os dias são seus agora e eu nunca vou deixar de te amar.

Ps.: Você é, e para sempre será meu eterno amor.

                           De sua querida Monica, para sempre.

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