A chegada em Kent

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Eleanor olha em seu relógio de pulso que já se passava das duas da tarde e ainda não tinham chegado no destino, a mulher olha pela janela e observa a paisagem bem diferente da que estava acostumada a ver em Londres, a realidade de Londres após a Guerra ainda era muito dolorosa e assim como aquela cidade, Eleanor precisava se reconstruir, precisava recomeçar. Tommy estava ao seu lado, com toda a sua atenção na pequena revistinha de quadrinhos que haviam comprado na estação um pouco antes de partirem de Londres, ele estava se comportando como um garotinha bem mais velho do que sua idade atual, a mudança para Kent não havia o incomodado, para ele, qualquer lugar junto de sua "mamãe" seria bom. Eleanor faz carinho naqueles cabelos dourados sedosos do filho e depositou um leve beijo em sua cabeça, o menino continua sua leitura.

"Mamãe, olhe! O personagem da história vai para Kent buscar um navio pirata, nós vamos para lá buscar um também?" ele perguntou da forma mais singela possível, Tommy era a razão das alegrias de Eleanor, ela estava se encantando com a pessoa maravilhosa que ele se tornava a cada dia.

"Não, meu querido, não iremos buscar um navio pirata, mas a mamãe buscará outra coisa..." o trem começa a desacelerar, provavelmente estavam chegando ao destino final, Eleanor avisa o filho e começa a arrumar sua camisa de botão que estava amassada por conta das horas sentado na poltrona, coloca sua boina de feltro e amarra mais forte o cadarço de seus sapatos, como haviam combinado, ele não sairia de perto dela em nenhum minuto na estação, quanto mais o trem diminuía sua velocidade, mais a ansiedade de Eleanor batia na porta de seu coração o fazendo trabalhar a todo vapor, havia chegado a hora. A hora de se mudarem para a vila de South Finsbury, poucos quilômetros de Dover, em Kent, para ela enfim concluir seu grande sonho, entregar sua pesquisa em lepidopterologia, o estudo das borboletas.

O trem parou na estação em Dover, a família Lomax havia chegado no destino final, de mãos dadas, desceram do trem e encararam a estação parcialmente movimentada, foram em busca de suas poucas malas que se encontravam no vagão de cargas e ao caminho, Tommy aponta para um senhor que carregava consigo uma pequena placa escrito "Lomax", Eleanor não esperava encontrar alguém à sua espera, o senhor se aproxima deles, reconhecendo que seriam as pessoas que ele estava destinado a encontrar e se apresentou como o senhor Jamie Smith, o carteiro da vila e encarregado por buscar os novos inquilinos de Finsbury Cottage na estação de Dover.

"É um prazer conhecê-lo, senhor Smith!" respondeu Eleanor, apertando gentilmente sua mão, "sou Eleanor Lomax e este é o pequeno Tommy, meu filho" Tommy acena com sua boina para o senhor que faz o mesmo com seu chapéu.

"São somente estas malas?" Jamie pergunta ao ver o que o carregador havia deixado a sua volta, ele quase ousou perguntar acerca do senhor Lomax, mas rapidamente percebeu que a mulher usava duas alianças em um dedo só, era muito comum ver mulheres assim ultimamente, carregando a aliança dos maridos que morreram na guerra.

"Somente estas, somos somente nós..." comentou Eleanor, recebendo a ajuda dele, ela reparou na forma como Jamie agia, muito cortês, um típico anfitrião, isto lhe transmitia uma boa impressão da cidade, saber que alguém teve zelo o suficiente para pedir para que alguém os buscasse. Jamie e ela carregaram as malas até uma carroça simples, a última vez que havia andado em algo assim havia sido na Escócia, quando se refugiou por lá quando Tommy tinha um pouco menos de um ano de idade, era como voltar para aquele primitivo que sempre poderia ser um refúgio. Jamie havia comentado que a vila era muito perto da cidade e poderia ter a assistência que quisesse, pediu desculpas por não levá-los imediatamente para o chalé alugado por ela, precisava que a governanta de seu senhorio terminasse de arrumar o lugar, fazia tempo que estava desocupado, mas os dois pareciam bem compreensivos.

Durante o caminho, Jamie novamente observou as duas alianças na mão da Sra. Lomax, ela era muito bela e graciosa, de uma pele pálidas, olhos e cabelos escuros, traços finos e até mesmos elegantes, típicos de alguém que viveu a vida toda em Londres, usava um vestido de linho simples e sem vida, com golas bordadas, ao mesmo tempo que era linda, tinha uma parte que faltava em si própria, seu olhar era distante e parecia ser coberto por uma fina névoa, uma característica de viúva jovem.

Things we lost in the airOnde histórias criam vida. Descubra agora