Primeiro

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A opinião de Naruto sobre bebês era das menos lisonjeiras, para não dizer depreciativa. Essas criaturinhas destruíam todos os relacionamentos normais e harmoniosos entre adultos inteligentes. Antes mesmo de entrarem no mundo, infiltraram-se na vida das pessoas e, depois de chegarem, transformaram-se em tiranos absolutos. Não existia nada que eles não ameaçassem!

Ele refletia sobre essas verdades, enquanto cruzava a ponte do Brooklyn sobre o rio East, o caminho mais curto para a maternidade do hospital Mount Sinai. Teria preferido, e muito, que Shikamaru ficasse satisfeito apenas em receber um abraço de parabéns pelo nascimento do filho. Era uma atitude irracional a de insistir para que Naruto comparecesse pessoalmente na maternidade para ver o motivo de tanto orgulho e felicidade.

Seus amigos, um após o outro, acabavam por sucumbir à atração da paternidade, apenas para descobrir que tinham perdido um lugar privilegiado, o de ser o foco das atenções das esposas. Resmungavam suas desgraças e se queixavam à Naruto, invejando-lhe a liberdade do caos que haviam provocado com sua decisão de se tornarem pais.

E as queixas eram muitas...

"Já não é mais possível transar de uma maneira satisfatória."

"E quem quer sexo? Seria uma maravilha se fosse possível uma única noite de sono sem interrupções!"

"Você tem sorte se conseguir uma ou outra noite para dormir bem."

"Esqueça a espontaneidade. O bebê vem em primeiro, segundo e terceiro lugar, sempre."

"Não tenho mais esposa. Ela se transformou em uma escrava do bebê."

"Não temos mais tempo para nós dois."

"Sempre que se vai a algum lugar, começam as manobras e parece que se está deslocando um exército. É melhor ficar em casa e evitar o transtorno."

Naruto não tinha a menor dúvida de que bebês eram pequenos monstros destrutivos. Aliás, achava que deviam nascer com um aviso de 007 gravado na testa: "com permissão para matar"! Conhecia inúmeros casais que haviam se separado por causa das tensões geradas pelo nascimento de um filho e os demais precisavam se esforçar muito a fim de se adaptar às inevitáveis mudanças que relutava em aceitar.

Agora Naruto entendia o motivo de seus pais terem limitado sua prole a um único filho, porque fora criado por babás e enviado para um colégio interno ao completar apenas sete anos. Era evidente que ele interferira demais na vida dos dois.

A sua visão adulta sobre o problema lhe permitia compreender que seus pais tivessem tomado providências concretas a fim de minimizar os danos em seus direitos como indivíduos. Entretanto, quando era criança, ele se ressentia muito em ser o alvo dessas medidas radicais.

A sensação de isolamento e falta de amor da infância ainda era uma recordação infeliz. Sofrera muito e, em hipótese alguma, submeteria um filho seu a passar pelo mesmo processo penoso. Mas, por outro lado, tinha certeza absoluta de que também não queria essa influência destrutiva em sua vida. A solução era uma só e bastante simples: nada de filhos!

Se ainda lhe restasse alguma curiosidade a respeito das glórias da paternidade, ela fora plenamente satisfeita através da observação das experiências de seus amigos. Além disso, nunca sentira a tão comum necessidade de perpetuar sua linhagem. Gostava demais de sua vida, adorava seu trabalho, tinha a liberdade financeira de fazer o que lhe aprouvesse quando bem quisesse. O que mais poderia desejar?

Sakura...

O rosto de Naruto se contraiu, enquanto tentava afastar esse pensamento, que sempre era acompanhado por uma angustiante sensação de perda. Sakura o excluíra da vida dela de uma maneira muito mais absoluta do que seus pais haviam feito, negando-lhe até a possibilidade de abrir essa porta novamente. E tudo por causa de uma idiota discussão sobre o futuro!

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