unique.

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A mãe dela estava doente. Sempre esteve, na verdade... Mas, estava piorando.

Ela olhou para a sala de estar minúscula, os chiados vindo da televisão pareciam irradiar até si, entrar dentro da sua cabeça e dançar junto com suas ondas cerebrais. Estava quente, quente do tipo que sentia-se como se fosse colar a pele no sofá. Ou se fundir com ele. Tanto faz. O fato era que mal raciocinava direito.

Ah, mas tinha quem o puxasse de volta. Querendo ou não.

- Sana, mamãe está ficando sem ar. - uma voz séria ecoou no corredor. Ela a encarou por puro desespero, vendo a irmã ainda com o uniforme da escola com uma face magoada.

Suas pernas raciocinaram antes de si, e ela se viu correr até o corredor tão minúsculo quanto sua sala de estar. Empurrou a porta já escancarada do quarto da sua mãe, vendo a mulher em uma tentativa ridícula de respirar.

Os dedos brancos apertando o lençol.

Minatozaki Sana suspirou.

- Mamãe, mamãe... Olhe para mim. - disse, um fio de urgência na voz cansada. Os olhos arregalados por não ter ar em seus pulmões se conectaram aos seus. - Lembre, hm. - ela respirou fundo, como se a ensinasse como respirar. As vezes ajudava. No caso, não ajudou. Ela correu, empurrando o suporte para soro no caminho. - Ayaka, coloque ela sentada.

A irmã, que foi perdendo os olhares medrosos sob essa situação com o tempo, veio rápido para cima da cama. Sussurrava coisas carinhosas a mãe, em uma tentativa de ajudá-la. Sana mexeu e remexeu as gavetas, tentando achar o remédio de sua mãe. Não achou.

- Droga. - bateu elas, assustando sua irmã. - Acabou. Preciso ir comprar.

Disse rápido, era sempre assim; Sana simplesmente se desligava quando o assunto era sua mãe e ficava estritamente séria. Principalmente no calor. Ah, mas estava muito calor.

- Ayaka... Consegue cuidar dela, não é?

A irmã a olhou, depois olhou para sua mãe. A respiração tinha melhorado, mas parecia um chiado seco, como o da TV. Ela acabou assentindo, se encostando na cabeceira da cama. Sana suspirou e foi saindo do quarto.

- Vá logo, Nana.

Ayaka só a chamava de Nana quando ficava mal, como ela a chamava de Aya quando queria consola-lo. Odiava ter que colocar a irmã nesse tipo de situação, mas precisava.

Não teve tempo de responder, apenas saiu do quarto, e logo, do apartamento. Calçou os chinelos do lado de fora e desceu as escadas de emergência, já que a o elevador estava em manutenção tem, hm, dois anos. O prédio era ridiculamente velho, mas dava para sustentar o aluguel com o seu salário, era perto de uma escola razoável para Aya e tinha a farmácia. Claro, a farmácia.

Passou pelas ruas com certa familiariedade que conquistou nos últimos cinco anos, vendo as mesmas crianças brincarem com a mesma bola no mesmo lugar. Algumas acenaram para ela, a reconhecendo, e ela acenou de volta com um sorriso fraco, não querendo ser rude com elas. Acabou chegando rapidamente na farmácia, o ar condicionado congelando sua pele, seria confortável se não fosse pelo fato de odiar estar ali. Estar ali significava que sua mãe ainda precisava de remédios para viver.

- Boa tarde, Sana.

A mulher no caixa a saudou, mas percebeu o quão apressada estava e não esperou resposta. Sana foi até o farmacêutico e entregou o atestado meio amassado a ele, que mal fez questão, conhecia a garota. A entregou os remédios e a Minatozaki fez questão de suspirar ao pegá-los. Ela se virou para ir para o caixa e....

Então, a viu pela primeira vez.

Uma garota que não conhecia estava sentado ao caixa ao lado - que nunca funcionava - da conhecida Sra. Yoo. Ela não soube na hora o porquê, mas simplesmente prendeu sua atenção momentânea nela. Usava um bucket hat preto, aqueles chapéis que pareciam ser um balde, e uma máscara da mesma cor. Ela só viu seus olhos desfocados, mas na hora percebeu que a tal garota estava morrendo de sono ou que não queria estar ali.

THE BUCKET HAT GIRL ⌇ satzuOnde histórias criam vida. Descubra agora