Único

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As madeixas recém retocadas nos fortes tons de mel dançavam como um catavento conforme o ritmo do vento daquela manhã de chuva. Kenma suspirou, vendo o seu caderno de acordes voar, atrapalhando o ritmo da música que praticava em seu teclado, seguido de uma risada que ele conhecia muito bem.

— Sempre lembrando de fechar a janela, não é mesmo?

Aquele tom irônico e provocante ecoou naquele ambiente quase silencioso se não fosse pelo som da chuva, e os olhos felinos reviraram, já acostumado a lidar com aquela petulância após tantos anos de convivência.

Tetsurou fechou bem a porta atrás de si por conta do clima, fazendo com que seu cheiro de alfa ficasse por todo o quarto, e caminhou tranquilamente em direção ao velho caderno que Kozume tanto preservou em sua infância em suas aulas de piano, logo sentindo a textura desgastada.

— Quando vai comprar um novo? Acho que nessa época tem promoção.

Perguntou, puxando um banco e ficando próximo do ômega, que apenas deu de ombros, encarando o ambiente das lojas chamativas através da janela do apartamento que ambos compartilhavam.

— Eu não sei, é muito significativo pra mim, você me entende.

— É… mas não dá pra ficar preso no passado, já estamos quase no ano de 2000. — Passou os braços fortes e tatuados pelo pescoço alheio, atraindo o olhar curioso do… companheiro? Não sabiam o que eram, mas não se importavam com rótulos. — Temos que fazer os nossos preparativos para o Natal e Ano Novo, gatinho.

Beijou seu pescoço e logo sua bochecha, sentindo o corpo menor se arrepiar levemente.

— … Tá.

Era sempre assim.

Havia meses desde que Kenma resolveu sair de casa para seguir sua trajetória como queria e, principalmente, para seguir sua vida. Não queria se casar com Daishou, não queria viver infeliz — poderia dizer que não gostaria de ser mais infeliz, mas Kuroo curava toda a dor que sua família causava em si.

Deveria ser o bom menino e sempre soube que seus pais não aprovavam amizades como o Tetsurou, mas era tão bom… que quando percebeu, já estava completamente envolvido com aquele tatuador aspirante a artista que se esforçava para receber um pagamento no fim do mês.

Não havia pensado duas vezes antes de pedir ajuda àquele alfa moreno e tentador quando estava sem um teto, e foi revigorante ser recebido de braços abertos junto de um sorriso apaixonante.

É, estava apaixonado naquele jeito frouxo e naquele universo repleto de paraísos que, na verdade, era seu corpo banhado de tatuagens, aquela beleza que tanto chamou sua atenção e os piercings que combinavam com sua aparência.

Droga, ele era lindo.

— Mas vamos tomar um café da manhã antes, eu preparei aqueles seus churros favoritos. — Mãos tocaram delicadamente em sua cintura, num pedido silencioso para se levantarem e irem juntos até a cozinha de seu pequeno e simplista lar. — Seu período tá perto, gatinho?

A pergunta direta o deixou surpreso, todavia logo assentiu, dando de ombros enquanto andavam pelos corredores.

— Sempre passamos por isso juntos, não será diferente agora, Kurro… — O citado sorriu pela forma fofa e preguiçosa que o loiro pronunciava o seu sobrenome.

O tal sobrenome que carregaria em pouco tempo, quem sabe.

— Gosto de ouvir o seu consentimento, gatinho.

E estavam na cozinha. Kenma sorriu levemente, mas antes de sentar na mesa, as mãos bobas novamente apareceram nas curvas de seu tronco.

— E eu tô afim de matar as saudades hoje a noite, hum? — O moreno sorriu, beijando os seus cabelos e o ômega assentiu, já envergonhado.

Universo Repleto de Paraísos (KUROKEN - ABO)Onde histórias criam vida. Descubra agora