Mas talvez ladinos sejam melhores do que druidas

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A música ressoava ao máximo, quase perfurando seus tímpanos tamanho o volume. Os corpos ao seu redor se agitavam energicamente ao ritmo dançante e aos gritos de incentivo do DJ. Todos ao seu redor aparentavam absortos na diversão – muitos pra lá de bêbados já, inclusive.

No entanto, embora toda a atmosfera animada, Fliq não conseguia se sentir lá muito à vontade no meio daquele oceano de gente fantasiada das mais diversas coisas.

Era aniversário de 18 anos da irmã de um amigo e a mãe do mesmo, dona de uma grande empresa, a presenteara com uma festa com tudo o que a garota tinha direito e além. Se tivesse menos de quinhentas pessoas naquele lugar, ele diria que quem fez a contagem reprovara em matemática na escola, porque não era possível.

Apesar de ser um local a céu aberto extremamente amplo, para todo canto que ele olhava via gente, gente e mais gente.

Normalmente, não se incomodaria, até se deixaria levar e entraria na onda, porém, os últimos dias não vinham sendo os melhores e ele não conseguia estar tão animado quanto gostaria.

Já passava da meia noite e o ápice da sua noite, até então, tinha sido negar o pedido de dois ou três caras para dar uns beijos e ver a criatividade do pessoal nas fantasias – e que criatividade!

Já tinha visto cada coisa que os jurados de um concurso de fantasia estariam encrencados para decidir os vencedores.

Ele mesmo, entretanto, não fora muito longe nesse quesito; algumas roupas pretas típicas de seu armário e orelhas de meio elfo e tcharam.

Fliq olhou em volta, analisando a situação em que se encontrava, e chegou a conclusão de que seria melhor dar uma andada, ir para uma área menos cheia; só de sair do meio da muvuca ajudaria bastante.

Usou toda sua destreza para ir achando caminhos até sua tão ansiada liberdade – e refrescância, porque, caralho, como estava abafado lá no meio. A música finalmente ia diminuindo à medida que se afastava – não o entenda mal, ele adorava o que estava tocando, todavia, deseja continuar ouvindo no dia seguinte –, assim como o número de pessoas.

Ele apenas ia, meio alheio. Deixou que suas pernas o guiassem a rumos desconhecidos, sem muita noção do ambiente ao redor e muito menos do que faria até a hora de ir embora na carona de um de seus amigos (e era inegável que mal podia esperar para sair dali). Por falar neles, talvez encostasse em uma árvore qualquer e ficasse balançando a cabeça no ritmo do som enquanto se perguntava se eles estariam se divertindo beijando bocas ou entornando bebidas adoidadamente ou alugando os ouvidos de pobres coitados por aí.

Eis que então...

Alguém sussurra algo logo atrás de si. Palavras em tom descontraído, divertido, mas que ele infelizmente não conseguiu compreender graças a música ainda alta.

Virou-se, um tanto confuso e surpreso. E seus olhos caíram sobre algo deveras inesperado.

Havia um rapaz à sua frente. Praticamente da sua altura, com olhos brancos que por uns segundos o deixaram confusos; até que se deu conta, fazia parte da fantasia, juntamente com uma longa saia marrom cuja barra quase arrastava no chão, braceletes e o peito exposto paramentado com uma linha em vertical do umbigo à clavícula e no queixo e ramos de árvore saindo dela ao longo do peitoral e da testa, em tinta branca, contrastando com a pele mais escura; e também, mas não menos importante, orelhas de meio elfo despontando do meio do amontoado de cachos castanhos.

Fliq engoliu uma lufada de ar. Caramba...

Tinha que responder algo, não podia ficar ali, parado, olhando.

Druidas São Melhores do Que Necromantes || DesaventureirosOnde histórias criam vida. Descubra agora