Capítulo 01 - Detetive Campbell

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A chuva fina pingava nas janelas do escritório, trazendo aquele odor metálico e frio que impregnava o ar de White Springs. Era o clima perfeito para lidar com um caso como este — um que carregava consigo a ameaça constante de morte e o suspense de algo perverso. E eu tinha aprendido a não confiar em coincidências.

As vítimas do "Obsessor" pareciam seguir um padrão. Jovens ruivas, todas recém-chegadas, tentando recomeçar longe de uma vida que deixaram para trás. Cada uma delas carregava, de alguma forma, uma marca de isolamento, um desejo de fugir de seus passados. Mas o que fazia alguém como ele as perseguir?

Passei os olhos pela lista de nomes que tinha em mãos, cada um ligado por aquele mesmo padrão obscuro que o "Obsessor" seguia. Jovens, todas com cabelos ruivos, com vidas recém-reiniciadas em White Springs. O perfil era específico, quase pessoal. Na minha linha de trabalho, aprendi que os assassinos seriais sempre seguiam um padrão, mas o "Obsessor" parecia ir além. Ele conhecia suas vítimas, como se tivesse algum tipo de ligação íntima com cada uma.

Nos últimos dias, tinha passado horas revisando as informações de cada uma das mulheres que poderiam estar na mira. Susan Harris, vinte e dois anos, bartender no centro da cidade, veio de New Orleans há seis meses. Tinha um histórico complicado, uma tentativa de recomeço. Marcas do passado que talvez a tornassem vulnerável, exatamente o tipo de fragilidade que o "Obsessor" explorava.

Depois, havia Emily Ward, vinte e cinco, professora substituta na escola local. Viera de uma pequena cidade no interior, talvez para fugir das memórias da morte de um irmão mais novo, segundo alguns conhecidos. Esse tipo de sofrimento fazia parte do padrão: o "Obsessor" parecia sempre escolher mulheres que carregavam perdas ou feridas profundas. Isso o atraía, como um lobo farejando o cheiro de sangue.

As pistas eram mínimas, as similaridades sutis, mas todas se conectavam de um jeito que não podia ignorar. O "Obsessor" não era um assassino qualquer; era um predador meticuloso e, provavelmente, alguém que as observava de longe, aprendendo seus segredos, suas rotinas.

Enquanto investigava as potenciais vítimas, as imagens dos corpos encontrados não saíam da minha cabeça. Cada uma das mulheres mortas pelo "Obsessor" tinha sido deixada às margens do Rio Blackwater, em posições cuidadosamente planejadas, como se fossem parte de uma macabra instalação. A perícia revelava sempre a mesma coisa: nenhuma impressão digital, nenhum traço de DNA, nenhuma pista que pudesse nos dar uma vantagem. Era como se ele dançasse ao redor de cada detalhe, intocável.

O "Obsessor" era mais do que apenas cuidadoso. Ele demonstrava um controle absoluto sobre seus impulsos, algo raro nesse tipo de criminoso. A precisão com que agia, o tempo que levava para deixar suas vítimas no estado exato em que as encontrávamos — tudo indicava um planejamento meticuloso, uma paciência que não era comum. Ele sabia exatamente o que estava fazendo e, pior, parecia se orgulhar disso.

Todas as vítimas tinham algo em comum além da aparência e do histórico emocional: uma tatuagem de borboleta marcada no braço direito. A princípio, acreditávamos que o símbolo era apenas um detalhe pessoal das vítimas, mas, depois do segundo corpo, ficou claro que essa era uma marca deixada por ele, um sinal de possessão. A borboleta, desenhada em linhas finas e perturbadoramente detalhadas, não estava ali por acaso. Para ele, aquilo era um símbolo de transformação — da vida para a morte, da liberdade para o cativeiro de sua violência.

Os legistas identificaram um padrão de tortura psicológica antes da morte. Nenhum dos corpos apresentava ferimentos violentos ou sinais de resistência extrema. Pelo contrário, as vítimas pareciam ter aceitado, em algum momento, o fim que ele lhes impôs. Era como se ele fosse capaz de criar uma conexão distorcida, quase hipnótica, que as levava a uma calmaria macabra. Isso me dizia muito sobre sua mente: ele não era impulsivo, nem agressivo. Ele era calculista, frio, um manipulador nato.

Obsessão | Nova VersãoOnde histórias criam vida. Descubra agora