Artemísia

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A manhã chuvosa que se seguia era um alento para que Ginny ficasse na cama, aninhada à seus lençóis um pouco mais. Estava um friozinho tão gostoso que encarar o dia fora de seu dormitório, prontamente aquecido seria uma tortura.

O que motivou Ginny a se arrastar para fora das cobertas em um bocejo, fora a certeza de que não poderia perder o café da manhã por nada nesse mundo.

A ruiva tomou um rápido banho seguido de sua higiene matinal, e vestiu-se com um traje trouxa simples: moletom e jeans. Escondeu o mau humor por trás das emoções e caminhou para fora do salão comunal. Estava faminta e não aguentaria esperar mais um minuto se quer para ver a cara de sua deliciosa refeição.

Ginny desceu apressadamente as escadarias de mármore e só diminuiu o passo quando já estava no salão principal, sentando-se à beira da mesa da grifinória.

— Bom dia. — Foi recebida por um olhar caloroso de Seamus Finnigan que lhe sorria abertamente.

— Bom dia, pessoal. Bom dia, Seamus. — Ginny retribuiu a cortesia e serviu-se de pães e geleia.

Ao dar a primeira mordida em seu pão, os olhos da ruiva desviaram-se para os amigos. Nenhum deles além de Seamus parecia ter notado sua chegada. Todos estavam perdidos demais em pensamentos enquanto liam *O profeta diário* para notar algo exterior.

— Seamus, será que você pode me passar seu exemplar? — Ginny pediu, largando metade de seu pão e limpando os farelos na calça jeans. A Weasley tinha uma boa ideia do que poderia ser tão interessante à ponto de prender a atenção de seus amigos de tal modo, afinal, ela mesma já havia passado por aquele choque horas atrás.

Seamus sorriu ainda mais e entregou-lhe o jornal.

Assim que seus dedos tocaram o papel áspero do exemplar, Ginny folheou aquelas páginas até encontrar a nova coluna que pelo visto fizera muito sucesso. E lá estava ela! Página 24 *Males de um estudante*.

                      *Anos*

*Então depois de anos você decidiu voltar? Não é como se eu estivesse sentindo sua falta durante o tempo em que ficou fora. Afinal, foi a sua escolha, não? Eu apenas a guardei. E agora... Tudo que eu aprendi a ser sem você não serviu de nada? Basta que escreva míseras duas letras para todo aquele mar de sentimentos que um dia me sufocou, me inundar novamente.* *É que eu me acostumei demais com sua ausência para te aceitar de volta na minha vida.*
*Por um tempo, chorei mais do que sorri. Me detestei mais do que me amei. Abracei o caos ao invés da paz. Me permiti ser infeliz por alguém que estava bem demais sem mim. Dessa vez, sou eu quem está bem e por mais que dentro de mim ainda reste lembranças de nós, entendo que não há mais espaço em minha vida para que você o ocupe. Já o fez antes, certo? Não sejamos egoístas. Não queira a mesma coisa duas vezes. Talvez nós sirvamos apenas para machucar um ao outro. Cicatrizes ambulantes que acabam se atraindo de um jeito ou de outro. Somos tão tóxicos que mesmo sem se falar quase por anos, conseguimos conversar com malícia e desejo. Talvez sejamos imãs quebrados. Independente do estrago no metal de cada um, involuntariamente acabam por se atrair.*

Como antes, não havia nenhuma assinatura do autor ou da autora. Era um completo desconhecido cuspindo sentimentos para uma plateia de lobos insaciáveis.

Harry que estava calado até então, levantou-se de um sobressalto, deixando seu exemplar escorregar até o chão gélido. O garoto pediu licença e disse que havia esquecido de buscar alguns materiais no salão comunal.

Aquela era a primeira vez que Ginny o vira agir tão estranho. Harry sempre foi muito transparente, mas nos últimos dias parece que algo o estava seriamente incomodando.

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⏰ Última atualização: Feb 21, 2021 ⏰

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