O Acidente

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Queria poder dizer que essa é uma história fofa, mas quem seria eu se escrevesse somente isso não é mesmo?

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Sabe que eles eram felizes à sua maneira. Ele tinha suas diferenças assim como ela as aceitava de bom grado, eram um casal realmente feliz, até descobrirem o *segredo" dele. Ele era um homem trans, e esperaram até o mês do dito orgulho LGBTQIA+ para pegá-lo numa emboscada. Era só mais um dia voltando tarde de trabalho e infelizmente mais tranquilo por ter o porte físico masculino e isso ser mais valorizado, por isso nao entendeu quando o cercaram, até que um deles, que era seu colega de trabalho, dissesse que ele era um falso homem e como podia sustentar um casamento de tantos anos sem a ajuda de um mero penis natural. Por um momento o homem trans quis rir, pois nunca vira mulher mais satisfeita que a sua, seja emocional ou fisicamente. Sentiu um soco no estômago e percebeu que havia dito aquilo em voz alta,mas que se dane, eles eram em cinco e possivelmente teriam outros escondidos, mas com os anos de boxe defesa pessoal ele poderia dar um jeito em alguns ali. Aparentemente ninguém carregava uma arma de fogo, somente pedaços de pau ou ferro, que seriam mais problemáticos, mas em sua confiança ele poderia se aproveitar disso. Anos de academia e defesa pessoal enfim se faziam realmente necessários fora dos momentos em que imobiliza fracamente sua esposa para conseguir algo que queria ou punir aquela pequena brat. “Desculpe não poder chegar na hora hoje princesa”.

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- Cadê ele? - Rafaela não esperou para ser apresentada, todos no hospital a conheciam pelo seu trabalho na ala psicológica infantil.

- Primeiro preciso que se acalme-

- Acalmar o caralho! Meu marido está em cirurgia e você me quer tranquila? - ela apontou para as portas que levavam até a área cirúrgica.

- Seria algo que ele queria nao? - o médico, já amigo da família a muitos anos deixou a jovem sem ter o que responder e aproveitou para tomar a palavra - Ele está estável, mas quebrou cinco costelas e uma das pernas, além de ter um tiro em sua coxa, então digamos que ele chegou até nós bem ferrado, mas nada que a equipe de emergência não possa resolver, ent;ao a única coisa que posso te dizer é que vá para casa, tome um banho e volte com mudas de roupa novas para ele. Sei que não vai conseguir dormir, então ao menos coma. Pode fazer isso?- o doutor pôs a mão no ombro da mulher que parecia ainda menor do que já era naturalmente. Esta acenou depois de engolir em seco e olhar para trás diversas vezes antes de deixar o hospital com um cordão com um pingente de yang que combinava com o seu. Ia limpá-lo quando chegasse em casa.

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“Aqui com certeza não é minha casa mas sinto um calor acolhedor em ambas as mãos"

- É você não está em casa dorminhoco - o médico amigo disse em tom de riso - E não se mexa, ela dormiu tem menos de uma hora - o médico apontou para a mulher deitada do seu lado da cama e o homem só pode sentir seu coração mais quente com sua presença.

- Ela está aqui desde que soube de tudo? - perguntou enquanto uma de suas mãos deslizava pelos cabelos pretos. Ouviu um riso baixo do médico.

- E teria continuado aqui até suas cirurgias terminassem se eu não estivesse no plantão e impedido isso. - o homem na cama olhou para o outro ao lado com um enorme carinho em seus olhos.

- Obrigado mesmo por cuidar de nós Judian - Judian se fez ofendido, mas sorria.

- É meu trabalho cuidar dos meus companheiros, não é? - Judian deu um beijo na testa de Ricardo e foi até Rafaela, acariciando sua cabeça com a bochecha, como se fosse um gato.

- Você não perde algumas manias.

- Você quem me ensinou Ricardo, lide com isso. - o homem na cama acabou rindo um pouco mais alto, se arrependendo logo depois com a dor das costelas.

- Vocês dois são tão barulhentos, nem tinha como eu continuar dormindo. - Rafaela acordou e beijou a mão de Judian e de Ricardo - Meus meninos. - suspirou antes de apertar forte a mão de Ricardo - E você me assustou pra caramba, sabia? Se não fosse Jud eu teria ficado plantada aqui Ricardo deu um sibilo de dor e  viu Judian rir de sua desgraça.

- Qualé, me dá um desconto amor, só hoje- o aperto diminui de intensidade e Rafaela olhou para Judian procurando a terceira opinião e mesmo sorrindo ele acenou positivamente.

- Uffa

- Saiba que tu veio parar nessa cama pela minha mao se nao tomar mais cuidado de agora em diante- a mulher apontava acusadora.

- Nisso, eu concordo com ela. 

- Bom saber o quanto vocês me amam.

- Por nada - responderam os dois que caíram na gargalhada baixa, por ainda estarem num hospital enquanto um bico se formava nos lábios de Ricardo.

Judian e Rafaela nem mesmo pensaram antes de trocar um olhar e selar os lábios inchados de Ricardo.

- Vocês fizeram alguma magia comigo, toda vez sou eu o bobo apaixonado aqui.

- Emocionado - Judian disse deslizando os dedos pelos cabelos de Ricardo.

- Nosso emocionado - Rafaela beijou a mão de Ricardo e ambos os três tinham o mesmo olhar boba apaixonado.

O mesmo olhar de quem iria cuidar um do outro não importa o quanto implicam um com o outro.

“Eu te amo” era o que aqueles olhos diziam, e nem precisava ser pronunciado para que Rafaela, Judian e Ricardo entendessem bem.

- Seus emocionados - dessa vez foi Ricardo quem sussurrou para os companheiros e os três sorriram enquanto o sol nascia do lado de fora e dava para se ver daquela cama de hospital.

“Mais um dia de amor e luta”

Amor E LutaOnde histórias criam vida. Descubra agora