Fazia um dia que havíamos chegado. Ainda não tive tempo de conhecer ninguém, e depois de ontem no lago não falei mais com Joalin, além de que o seu chalé é um pouco distante.
Já fazem alguns meses que ela parece diferente e não sei o motivo, talvez Hina saiba, e sinto que estão escondendo algo de mim."Shivani? Acho que temos um problema com o chuveiro" grita Bailey do banheiro.
"O que? O que aconteceu?"
"Não temos água." ele sai do banheiro com uma toalha enrolada na cintura e os cabelos pingando. "E não consegui terminar o banho"
"Merda, isso é sério? Deveríamos falar com os responsáveis, certo?"
.
O encanador levaria algumas horas pra chegar, e um de nós deveria ficar no chalé para esperar por ele.
"Você pode sair, eu fico, disse que era sua primeira vez aqui, certo? Pode sair e conhecer mais coisas, eu já vi tudo que tinha que ver." digo para ele. Eu teria que ficar aqui talvez por um longo período e nao queria prende-lo comigo quando ele era novo e ainda tinha muito a explorar.
"Está tudo bem, eu não gostaria de ficar sozinho aqui, então fico com você e podemos nos conhcer melhor" sorrio com a sugestão. Bailey se senta com pernas de borboleta na cama de frente à minha.
"Certo, então nunca veio aqui, por que resolveu vir este ano? Já sabia do acampamento antes?" pergunto.
"Na verdade não, tem meio que uma história em tudo isso."
"Então me conte." sorrio.
"Bem, eu deveria estar na faculdade de medicina agora, mas, bom..." ele faz uma pausa "...as vezes não acontece conforme o planejado."
"Você está me deixando um pouco curiosa"
"Eu entrei na faculdade pra agradar meu pai, eu achei que assim talvez ele repasse em mim. É uma longa história. Meus pais estavam com probelmas financeiros após a morte do meu avô, e pra ficarem com a herança precisavam gerar um herdeiro, de acordo com o testamento que ele deixou, um herdeiro que eles não queriam, e então aqui estou eu. Hoje eles nem precisam mais dessa herança, são um casal de médicos bem sucedidos, mas na época não eram nada. E eles nunca me quiseram na verdade."
"Uau, minha nossa, isso é... Uau. Eu sinto muito." me sento ao seu lado na cama.
"Desculpa, você deve estar se perguntando o motivo de eu ter falado isso quando só perguntou por que eu estava aqui" ele dá uma risada fraca.
"Não! Tudo bem, eu fico feliz em escutar você, pode continuar. Fale mais sobre você." sorrio.
"Certo, então tudo bem. Eu sempre fui cuidado por babás porque meus pais nunca foram presentes e nunca gostaram realmente de mim, e há dois anos atrás, quando eu consegui entrar na faculdade de medicina, foi para tentar agrada-los, imaginei que com isso eles ficariam felizes e orgulhosos e então olhariam pra mim, mas isso não aconteceu." eu continuo olhando-o atentamente.
"Isso... Isso é horrível"
"Você está me olhando com brilhantes olhos tristes" ele sorri, segurando meu rosto com uma das mãos.
"Desculpa"
"Certo" sorri. "Voltando de onde parei, comecei a cursar medicina pelos meus pais, mas não funcionou como eu gostaria, e percebi que não é a minha coisa, então larguei a faculdade ano passado, o que deixou meu pai mais irritado ainda. Até então eu estou sem rumo, não sei o que fazer com a minha vida, Bree deu a ideia do acampamento, pra que eu pudesse esquecer isso por um tempo, ela largou suas coisas e mudou de país comigo, ela fez tudo isso por mim, Bree é a melhor amiga que alguém poderia ter."
"Essa foi uma ótima ideia, ela parece ser boa pra você." sorrio, sentindo o local do meu rosto onde sua mão estava esquentar. "Eu sinto muito pelo seus pais, você é incrível, não duvide disso nem por um segundo, é uma pena eles não conseguirem ver isso."
"Obrigada, isso é importante pra mim" ele sorri. "E você? Por que vem sempre aqui? Acho que já mencionou que não é a primeira vez"
"Sim, não é. Eu venho aqui desde menor, depois que minha mãe morreu, meu pai passou a me mandar pra cá todo verão, e eu continuo vindo porque gosto."
"Sinto muito pela sua perda."
"Obrigada" respondo.
Bailey continua me olhando com sua mão segurando meu rosto, sinto sua respiração e não sei em que momento nossos rostos ficaram tão próximos, meus olhos se fecham e sinto sua boca se aproximar da minha. Então alguém bate na porta.
"Acho que alguém finalmente veio arrumar nosso chuveiro." ele sorri se afastando.
Fiquei chateada por ele, por tentar ser alguém importante para os pais e falhar. Eu não faço ideia de quão difícil isso pode ter sido para ele, ser criado por babás, com pais ausentes e interesseiros.
Meus pais sempre foram os melhores possíveis, meu pai era corretor e minha mãe fazia artesanato. Ela era indiana, por isso um dos meus sonhos é ir à Índia e conhecer o país de minha mãe. As coisas mudaram quando ela faleceu aos meus 16 anos por conta de um câncer, após isso meu pai passou a me mandar para o acampamento, ele parecia ter perdido a vontade de viver, muito menos de ser o que eu precisava naquele momento, e eu o entendia. Joalin e Hina realmente me ajudaram muito, e desde então elas sempre me acompanham. Ele nunca voltou a ser o mesmo. Penso muito em minha mãe, nunca vou parar de sentir sua falta, eu gostaria tanto que ela estivesse aqui, mas consigo lidar com isso, o que não acontece com meu pai, e parece quase inútil ajuda-lo..
Tive que ir ao chalé de Brianna e Hina para tomar banho, enquanto nosso chuveiro ainda não estava funcionando, e Bree me atendeu.
"Ei" ela sorri, Bree usava óculos de leitura com armação preta e quadrada, e tinha um livro em mãos. "Tudo bem?"
"Sim, eu só pensei que poderia usar o chuveiro de vocês, o nosso não está funcionando."
"Claro, entra!"
"Onde está Hina?"
"Acho que foi ver sua outra amiga loira"
"Ah, claro."
Enquanto tomo banho, penso em quão longe alguém pode ir por uma amizade. Brianna mudou de país com Bailey, deixou para trás suas coisas e sua família, tudo por ele, para apoia-lo e não deixa-lo sozinho, ela se importa de verdade com ele, e não tenho dúvidas de que faria muito mais, não é fácil achar um amigo assim, e quando se tem é preciso preservar. Quando saio do banho Bailey já está aqui, ele e Bree conversavam, e eu podia ver como ela ria e sorria em sua presença.
"Você finalmente saiu daí" ele me olha.
"E então? Foi consideravelmente rápido, o problema está resolvido?" pergunto.
"Na verdade não, o problema é um pouco maior do que pensávamos e não pode ser resolvidos tão rapidamente, então vamos mudar de quarto. E não se preocupe, eu já arrumei tudo na sua mala pra agilizar o processo." Bailey responde.
"Você mecheu nas minhas coisas?!"
"Não exatamente, eu só abri as gavetas e despejei tudo na sua mochila." ele diz sorrindo.
"Vamos indo então, quero que a gente se mude logo" Bailey levanta, depois de deixar um beijo na bochecha de Bree, e me puxa para fora do chalé.Um instrutor nos acompanha até um chalé menor no centro do acampamento, ele nos entrega as chaves e diz antes de ir embora:
"Esse era o nosso ultimo lugar vazio, não deveria ser para os campistas mas como é o único que estamos tendo então vocês precisarão ficar com este, é menor mas tem tudo que precisam"
"Parece bom, melhor do que ficar sem chuveiro" digo, até abrir a porta e ver o que nós esperava.
A porta do banheiro ficava do lado esquerdo e um guarda-roupa médio no direito, com uma janela de vidro grande no fundo coberta por persianas claras e uma cama.
"Tudo bem, só temos uma cama, isso pode ser um problema" digo.
"Ela é grande o suficiente para nós dois, então não será um problema." disse simplesmente.
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𝗠𝗶𝘀𝘁𝗮𝗸𝗲𝘀 | shortfic [CONCLUÍDA]
Random+𝗠𝗶𝘀𝘁𝗮𝗸𝗲𝘀| Nós não conseguimos controlar nosso coração, e nem sempre ele faz a escolha certa. Alguns 𝗲𝗿𝗿𝗼𝘀 são cometidos, e está tudo bem, você pode pensar estar apaixonado, mas na verdade é apenas uma ilusão, as vezes a pessoa certa es...