Mês de Dezembro

Capítulo 1

Abro meus olhos vendo onde estou e me lembrando do dia de ontem. Depois da bateria de exames de ontem, meus médicos disseram que o melanoma voltou e estou no estágio 2. Agora internada no hospital e de volta a rotina de organizar meus remédios, suplementos e vitaminas por ordem alfabética de cor e mais e mais exames e dias trancada aqui nesse inferno.

— Que bom que acordou Cinderella — ouvi a voz vindo da porta do quarto e logo depois aquele estranho entrando e vindo até mim.

— Quem dorme é a Aurora e quem é você Sr. Intrometido? — vi ele se sentar ao meu lado e me encarar como eu encaro a mousse de maracujá da mamãe — e então quem é você e o que faz no meu quarto, estranho?

— Eu sou o Jake, ps: seu príncipe encantado — e bem convencido também, empurrei o mesmo com os pés para que se afastasse e joguei o travesseiro que acabou acertando a porta e a fechando ao invés do seu rosto. — não sabia que era tão nervosinha, quando te via da janela era um doce.

— As aparências enganam e pera aí me espiava da janela?

— Eu apenas observava a minha paciente do quarto ao lado favorita, que é vai me matar por isso?

— Ah seu filho da mãe por muito menos — vi ele dar um sorriso ladino e logo depois se levantar e ficar de frente a janela encarando a neve que caia lá fora — o que tanto olha?

— Sabia que eu estou aqui há tanto tempo que vi você chegar? — o encaro chocada pensando o que ele tem que o prende aqui por tanto tempo — sua primeira internação, eu estava aqui e vi você chegar. Que garotinha serelepe você era.

Era inevitável não ficar corada quando ouvia um estranho me lembrar de momentos que ele viveu comigo que nem eu mesma sabia. Ele estava aqui esse tempo todo e nunca se aproximou, mesmo dizendo há quanto tempo me observa nunca se quer o vi pelos corredores. Então quem é esse Jake?

— É muito bom poder falar com você Mily, Milena — quando dei por mim ele já havia saído pela porta a fechando e me deixando sozinha. Me peguei me perguntando quem era o garoto misterioso que me observa desde o primeiro "eu sinto muito" dos médicos depois de uma ressonância. Por que está pensando nesse garoto Milena? Nem sequer ouviu falar quem ele é! E se for um serial killer an?

— Garota boba — digo a mim mesma vendo o turbilhão de pensamentos na minha cabeça e me pergunto se ele estava me observando enquanto conversava comigo mesma.

Meu dia passou tão rápido que tinha vontade de implorar ao relógio para ir mais devagar e me dar mais tempo. Mesmo querendo que tudo passe rápido para eu voltar para casa e sair daqui, sem notícias boas o passar rápido do tempo pode significar outra coisa, outra coisa que nem quero me lembrar. Mamãe e Papai morreriam de angústia e tristeza, mas é inevitável, nada funciona, nunca funcionou.

***

Fechei o livro nas minhas mãos encarando a enfermeira abrindo a porta do quarto e me desejando um bom dia antes de ligar a luz e começar a visita de todas as manhãs e encarou meus olhos vendo que não havia dormido. Virei a noite lendo um livro que deixei na minha estante meses sem criar coragem para ler por única e simples preguiça.
Ver ela checar minha pressão arterial e saturação sua expressão de "desculpe te acordar, mas preciso" mudou para uma "preciso checar melhor isso aqui", os lábios se comprimindo e os olhos estreitos eram a prova de que estava vindo mais problema por aí.