cap. 1 : first day.

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14 de abril de 2020.

Mais um lindo dia onde sinto o imenso prazer de acordar com o sol impedindo-me de abrir os olhos sem poder piscar pela primeira vez em 12 horas. Não acredito que hoje terei a imensa satisfação de parar com essa vida de desinteresse e voltar aos estudos, mesmo sabendo que não há desejos da minha parte, ainda acredito que minha mãe teria orgulho de mim. Motivação? Não, eu só queria roupas Gucci e sapatos de grife.

Sem o desjejum hoje, quem sabe depois, eu posso fazer uma média e fingir que estou com dores ou com sérios problemas e fugir para casa, seria uma grande conquista. Prefiro usar roupas largas e maquiagem quase inexistente, na verdade montar uma kit de sobrevivência se encontrar alguém interessante, o que não fará muita diferença. Pode achar que sou entediante só de olhar a minha face de nojo total, mas como mudar isso? É estranhamente estranho quando as pessoas me olham pensando que vou julgar até pelos cabelos quebrados, mas não posso ser assim e prefiro nunca ter a capacidade de ser.

Faz exatamente meses que saí de casa pela última vez e estar fazendo isso agora forma explosões de sentimentos que não consigo descrever, as borboletas estão se afogando no meu estômago fazendo abrigo ali e isso só me lembra o quão nervosa estou. Já se passaram anos sem conhecer gente nova, meses sem falar com ninguém e como é incrível poder fazer isso agora. Quero conversar, fazer novos amigos e talvez me entregar a algum relacionamento, mesmo que ainda me afete de alguma forma. Há dois anos pude testemunhar que não existia mais amor nos meus relacionamentos, tanto amorosos quanto com os meus amigos próximos, cansei todos de mim e finalmente acabei sozinha. Triste, não é? Mas faz parte, ainda me culpo todos os dias por ser aquela pessoa horrível, mas não se preocupe, vou melhorar.

Vejo-me atravessando a rua agora perto do meu destino, imaginando como serão as pessoas ao meu redor e com quem serei forçada a viver. Não queria ter que lembrar que às vezes nem todo mundo gosta de mim, então há uma boa chance de que serei odiada e acredito que não será bom. “Dar o meu melhor”, posso tomar isso como meu lema, mas às vezes esqueço que o meu máximo nem sempre vale muito. Quantas pessoas lindas e que lugar enorme, me sinto perdida de alguma forma e meu Deus... A ficha não cai às vezes quando me lembro de ter saído do buraco e que vou falar com gente de verdade. Sou grata aos meus amigos do outro lado do mundo, mas isso é muito mais real...

Sinto o cheiro da multidão, de muitas pessoas em um só lugar e uma sensação de alívio por poder conhecer tantos animais da mesma espécie que eu. Maravilhosa satisfação de estar aqui agora, espero que no futuro ou mais tarde, eu não me arrependa de ter ficado nervosa por um tempo e ter me decepcionado com atos alheios. Do fundo do meu incrível órgão chamado Coração, quero que tudo seja minimamente prazeroso ou serei forçada a me questionar milhões de vezes por que tive a brilhante ideia de estar aqui nesse momento. Sim, tantas coisas passam pela minha cabeça, quem me imaginaria fazendo algo útil novamente, eu dedico a maior parte do meu tempo dormindo ou lendo livros aleatórios e isso me deixa doente também. Sentar nesta mesa me lembra de estudar, mas agora ou em alguns minutos terei que fazer definitivamente e que loucura isso é. Eu, Jang Ye-eun, em uma faculdade outra vez, até parece que estou fora de mim.

A manhã sempre fica mais longa quando sou quase forçada a sentar e ouvir alguém explicar coisas que às vezes nem são do meu interesse, egoísmo de ser dependente de meus pais e fazer com que eles se sintam obrigados a pagar para mim quando sou tão desleixada. Gosto de aprender sozinha, ou até com outra pessoa que não preciso chamar de "professor". Parei de fazer isso por dois anos e acho que é estúpido, mas garanto que aprendi muito mais em casa do que aqui esperando o tempo passar. Sinto o cheiro das novas carteiras e os livros didáticos são coloridos e tão lindos, isso é o que me interessa e pode ser um dos grandes motivos de estar aqui neste momento maravilhoso. Não gosto de ter que sentar no meio da sala, fica um pouco estranho e na maioria das vezes parece que estou sendo observada por animais famintos. O giz de quadro me dá uma sensação de desconforto, não posso deixar de dizer que está totalmente desatualizado e estraga a pele e principalmente as minhas narinas, acho que hoje em dia ninguém pensa no próximo.

Literatura é o meu negócio e é bom começar o dia com o tipo de matéria que me dá vontade de estudar. O professor é super sério e eu pareço conseguir me identificar com ele, os meninos sentados ao meu lado são indescritíveis porque ainda não falaram comigo, o estranho de tudo é a claridade que fica ao lado da sala e que tem um sorriso tão viciante, não queria pensar assim porque sei que ainda não posso ceder tão facilmente; ele tem mechas de cabelo preto, liso e hidratado que brilham à luz do dia. Sorriso branco e olhos pequenos que dificilmente aparecem quando decide sorrir. Postura e coluna reta, pensei que esta espécie estaria em extinção. Estou desfocada e nesse momento o professor está a olhar para mim e a fazer qualquer pergunta aleatória que nem quero responder porque tem outro desfoque mais interessante que fala, senta, sorri e principalmente: respira.
   

  [ Continua. ]

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⏰ Última atualização: Feb 26, 2021 ⏰

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