III. Talento Massivo.

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Dois meses se passaram desde que Aleera assumiu a tutoria da princesa Stormy e depois de muito esforço, alguns ferimentos e quase preferir a morte, conseguiu um desenvolvimento surpreendente por parte da menina. Apesar de ainda ser uma tirana em forma de criança, pelo menos quando a mulher estava perto a menina tentava se comportar e mantinha modos que eram esperados para uma princesa. Claro que depois de dois meses, Aleera sentia falta de alguma coisa. Parecia presa a responsabilidade que tinha com a princesa e sempre que olhava o horizonte era preenchida por um vazio, algo que sempre estava incompleto e não tinha ideia do que era.

Os dias que passou no castelo, não foram exatamente os melhores de sua vida. Apesar de ter vivido nas ruas e antes disso na floresta, sobrevivendo aos animais silvestres, aqueles míseros meses passou se esgueirando pelos cantos e evitando cruzar caminho com o rei e suas investidas abusivas. Claro que ele tentou, a moça era jovem e tinha uma beleza única que chamava atenção não só dele, mas de quaisquer homens que chegaram a entrar no palácio. Aliás, desde que veio morar ali, Aleera nunca mais saiu, era como se Can quisesse mantê-la intocada, se não fosse dele não seria de ninguém mais. Astrid não demorou a perceber as segundas intenções de seu marido. A rainha não se tornou uma soberana à toa, tinha uma astúcia inconfundível e quase sempre estava certa sobre tudo. A tutora da princesa só estava viva porque finalmente depois de outras cinco mulheres, era a primeira vez que Stormy agia como uma monarca e estava feliz com aquele progresso. Às vezes quando o marido seguia Aleera tanto e tão descaradamente a ponto de Astrid perceber, ela pensava se encontraria uma oportunidade de livrar-se da jovem tutora apesar do bom trabalho, já que a beleza dela tornou-se um inconveniente.

Naquele momento em questão, Aleera estava junto a Stormy, no quarto da menina, enquanto fazia um novo penteado nos longos cabelos dourados da criança. Depois de um tempo a princesa já não conseguia disfarçar que amava a atenção que a tutora lhe dava. Ela tinha se tornado para Stormy uma espécie de irmã mais velha, cujos instintos maternais, faziam a princesa querer obedecer apenas para agradá-la.

— Onde aprendeu a fazer isso? — Stormy perguntou a outra que arrumava seus cabelos.

— Nas ruas da cidade, tem muitas menininhas até menores que você que passam horas arrumando os cabelos umas das outras, elas me ensinaram. — escorou a cabeça no ombro da criança vendo se aprovava o penteado com tranças.

— Deve ser mais fácil quando tem um cabelo do tamanho do seu. — virou-se para a moça. — Queria ser como você, é tão bonita. — levantou a cabeça para alcançar com os olhos, o rosto da jovem moça.

— Mas olha, um dia você será, princesa. — agachou ficando da altura da menina. — Logo irá crescer. — sorriu.

— Não sei, já tenho sete anos e parece que ainda continuo pequena.

— Tudo bem ser pequeno às vezes. — tocou o nariz dela. — Crescer nem é tão bom assim.

— Não deve ter sido divertido para você, que viveu nas ruas de Azaror.

— Ah, não foi de tudo ruim. Aprendi algumas coisas.

— Aleera, ainda quer ir reencontrar aquele seu amigo um dia?

— Acredito que se o destino quiser, ainda vamos nos rever.

Elas falavam de Leone, que desde sua partida nunca mais deu notícias a moça, mesmo prometendo lhe visitar às vezes. Aleera esperou, mas depois de um tempo começou a temer que algo ruim tivesse acontecido. A falta de informações lhe deixava preocupada, não sabia se estava vivo ou morto e por ser a única família que conheceu, ele era importante para ela.

— Aleera, está ocupada?

A moça encarou a figura escorada na porta, pelo reflexo do espelho, sentindo seus pelos estremecerem. A respiração ficou densa de uma hora para outra, seu medo de descobrir o que ele queria assombrava o sossego do cérebro dela que queria responder não, mas não podia enfrentá-lo, ainda era o rei de Velkhan.

A Hierarquia das LâminasOnde histórias criam vida. Descubra agora