Prólogo

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Joka

Anos antes...

         Sair de casa tem se tornado um sacrilégio desde que aceitei ter um relacionamento com Lia, gosto dela, da sua companhia , contudo, não me sinto atraído por ela. Isso me faz voltar em um momento da minha vida não muito distante de hoje.

         Eu nem pensava em ter relacionamento sério com ninguém, tinha apenas quinze anos, contudo parecia ter uma idade superior do que realmente tinha, me desenvolvi precocemente e minha aparência era de um rapaz mais velho, tanto que às vezes consegui entrar em boates sem precisar mostrar documentos, não era um jovem rebelde, apesar de que tive alguns motivos, e um deles foi o afastamento do meu pai. 

         Ele sempre me deu tudo o que o dinheiro poderia comprar, tive tudo o que uma criança e um adolescente queriam ter, desde vídeo games de última geração, até motorista para me levar onde eu quisesse. Não éramos milionários, mas meu pai tentava suprir sua ausência assim, pois sempre estava trabalhando e nunca tinha tempo para ficar em casa, e quando porventura ele resolvia ficar, era mesmo que nada porque ficava enfurnado dentro do escritório.

         Lurdes, nossa ajudante sempre dizia que ele era uma pessoa muito extrovertida, isso antes de minha mãe falecer vítima de um assalto a mão armada, em que os ladrões atiraram nela, mesmo sem ela ter reagido. Não me lembrava dela, pois havia acabado de fazer dois anos quando tudo aconteceu. Lurdes sempre dizia que eu era a cara dela e que talvez essa seria a causa do afastamento do meu pai. Porém nunca entendi onde estava a minha culpa, mesmo não entendendo sempre respeitei o seu afastamento, e, por esse motivo, tive receio de falar sobre a confusão de gênero que tinha dentro de mim. Eu sempre me senti muito atraído pelos meninos e gostava da companhia das meninas como amigas.

         Além de ser discreto, não tenho muitos amigos e, justamente por isso, ninguém sabe a respeito das minhas dúvidas quanto à minha orientação sexual. Ninguém faz ideia do quanto os garotos me atraem. Aceitei as investidas de Lia pois isso tudo ainda é confuso na minha cabeça.

         Certo dia, pesquisando e tentando entender o que acontecia comigo, li em um blog que gostava muito, uma dúvida de uma seguidora ao dono do blog que por sinal era gay assumido e tentava levantar uma bandeira contra o preconceito, de modo pacífico mostrando-nos que para lutar contra essa merda, não era preciso brigas. A dúvida da seguidora me intrigou muito, ela dizia o seguinte:

       "Tenho uma curiosidade, mas se não quiser não precisa me responder. Como um homem sabe que não gosta de mulher, ele não gosta de ter relacionamento com uma mulher, sendo que muitos nem tentaram, muitos dizem ser gays e não deram chances para o seu psicológico resolver."

         Teve muitas críticas nos comentários, mas o blogueiro foi coerente na resposta dizendo o seguinte:

         "Eu tive relacionamento com mulheres, inclusive tenho um filho, mas eu nunca me senti satisfeito e tão pouco me senti realizado com elas, a mãe do meu filho e eu tínhamos um relacionamento ótimo, éramos amigos antes de sermos namorados, contudo minha namorada notando que eu não era totalmente feliz veio me perguntar o que estava acontecendo, então fui sincero em dizer que estava me sentindo atraído por um colega de trabalho, e qual foi a minha surpresa quando ela deixou claro que se fosse para eu ser feliz, ela me dava total apoio na minha decisão, pois mesmo ela gostando muito de mim não me queria infeliz. Respondendo a sua pergunta, acredito que isso é íntimo de cada um, há os que não se sentem à vontade com mulheres e os que nunca tiveram nada íntimo com mulher deve ser respeitado, assim como os que já tiveram."

Reencontro Eles e Eu ( DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora