Único

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- Eu nunca pensei que diria isso, mas é melhor nós terminarmos-

...


As coisas que me levaram a tomar essa decisão foram inúmeras, mas todas elas eram diretamente ligadas a uma pessoa, Kirishima Eijirou.

Não me levem a mal, ele é uma pessoa incrível. Sempre amável e gentil, com aquele sorriso bonito no rosto e sua disposição imediata para ajudar alguém.

Eu me lembro de quando ele voltou do intercâmbio, seus cabelos vermelhos e espetados eram visíveis a metros de distância. E então eu vi Bakugou olhando confuso para aquela mesma direção. O ex-namorado do meu namorado estava de volta, é meio impossível não ficar inseguro com isso.

Os dois tiveram um término amigável apesar das condições, Eijirou queria fazer intercâmbio, mas também não queria magoar demais o namorado. Mas Bakugou foi estranhamente compreensível.

Eu sempre fui amigo de Katsuki e posso afirmar que ele sempre foi perfeito. Sempre o mais bonito, o mais inteligente, o mais atlético, o mais tudo. Então foi impossível não admirá-lo ou não me apaixonar.

E quando eu me declarei e ele disse "Seu maldito, eu também gosto de você" foi como se eu estivesse nas nuvens. Seus beijos distoavam da sua personalidade explosiva, eles eram calmos e carinhosos.

Suas mãos, que na maioria das vezes pareciam querer estrangular alguém, eram macias e faziam o melhor cafuné do mundo.

E por mais que eu achasse impossível, no fim eu acabei amando ainda mais Katsuki Bakugou.

Mas quando Kirishima voltou, algumas coisas mudaram, e não foi fácil perceber que quem eu amava estava me deixando aos poucos. Eu nunca achei que fosse me magoar tanto em um relacionamento e também nunca pensei que alguém fosse capaz de me machucar daquela forma.

Eu nunca vou esquecer do dia em que eles saíram pela primeira vez, era dia 10 de junho, uma tarde calma em que eu estava elaborando minha tese pro TCC. Eu o vi arrumado e suspirei apaixonado pela beleza daquele homem, e então eu perguntei onde ele ia pra estar tão maravilhoso.

- Eu nem estou arrumado, você sabe que eu posso ficar mais bonito que isso Deku. Mas eu vou dar uma volta com o Kirishima, ele ficou anos sem visitar o Japão e muita coisa mudou-

Eu fiquei feliz porque ele não mentiu, mas isso não me impediu de sentir ciúmes.

- Se divirta-

E então ele saiu pela porta.

Eu sempre fui dependente de Bakugou, mas só fui notar tarde demais.

No aniversário dele eu fiz questão de decorar nosso apartamento, comprando o bolo do seu sabor favorito e pedindo comida do melhor restaurante. Eu o esperei a noite inteira, sentado naquele sofá vermelho e querendo mais do que tudo que ele estivesse ali.

Naquele dia eu percebi o que era decepção ao ver os stories do ruivo e vê-lo ali, eu entrei em pânico. Bakugou não tinha respondido nenhuma mensagem minha, mas estava se divertindo com Kirishima.

Meu coração foi ficando cansado daquela situação.

Eu fingia não perceber e ele fingia não notar que eu estava abalado. No final ele me compensava com uma boa foda e eu achava que estava tudo bem porque era pra mim que ele voltava.

Eu pensava que não poderia culpá-lo já que Eijirou tinha sido seu primeiro amor, mas até quando eu teria que continuar ali pra ele sendo que ele não fazia mais questão de estar comigo?

Aos poucos eu o vi se afastar e o nosso relacionamento definhar. Era como se eu o sentisse escapando pelos meus dedos.

Eu já nem sabia mais quantas noites eu tinha passado chorando, me recusando a aceitar que tudo acabasse daquele jeito.

Um dia eu vi o jeito carinhoso com que o ruivo olhava Bakugou, era nítido que ele ainda o amava. E foi triste perceber que o sorriso do loiro era mais brilhante na presença dele.

Então eu arrumei minhas coisas no pequeno apartamento que dividíamos e mandei pra casa da minha mãe, eu o esperei sentado no mesmo sofá de sempre, me questionando se aquela era a decisão certa. Eu o vi passar pela porta e sorrir pra mim.

- O que acha de pedirmos comida chinesa hoje?- ele se sentou do meu lado  e enlacou meu pescoço.

- Na verdade eu acho melhor a gente conversar antes- falei deixando minha mão descansar pela última vez na sua cintura.

- Que cara séria Deku- ele murmurou levando as mãos até meu cabelo.

- Eu nunca pensei que diria isso, mas acho melhor nós terminarmos-

- O quê? Mas nós estamos bem, eu não tô entendendo-

- Nós não estamos bem e você sabe disso. Desde que Kirishima chegou você não consegue mais se focar no nosso relacionamento-

- Você está com ciúmes?-

- Não só isso, você está me deixando e eu não aguento mais essa situação, eu não quero mais assistir calado enquanto você vai pra ele-

- Izuku, eu não estou com o Kirishima, eu estou com você-

- Vamos parar... Por favor, eu não aguento mais Bakugou-

Eu já sentia as lágrimas se acumularem no canto dos olhos, meu coração já pesava no peito enquanto eu assistia ele sair daquela mesma bolha de negaça em que eu me encontrava antes.

- Eu sou o seu Kacchan, por que está falando essas coisas?- ele murmurou franzindo a sobrancelha.

- Você não é mais meu e sabe disso, você sempre amou o Kirishima não foi? Quando estava comigo era como se abster daquela dor de não tê-lo mais por perto não é?-

- Eu amei você merda, eu juro que amei. Eu gostava quando estava com você, gostava quando a gente se sentava nesse sofá e assistia aqueles documentários idiotas ou de quando a gente simplesmente inventava de cozinhar juntos e eu batia em você por fazer as coisas do jeito errado-

- Mas você não me ama mais-

-...Eu acho que não?- sua expressão de dor enquanto se dava conta disso fez meu coração se quebrar mais um pouquinho.

- Então vá atrás de quem você ama, eu não vou te impedir mais. Você pode voltar e reconstruir as memórias que você tinha com ele, pode voltar a amá-lo do jeito que você sempre quis. Eu não vou te culpar Katsuki-

- Eu sinto muito Deku-

- Só não o magoe, certo?-

Eu o vi assentir enquanto colocava a mão sobre o rosto, eu só o tinha visto chorar algumas vezes. E mesmo chorando, eu o disse para se recompôr, porque estava tudo bem pra mim sair magoado daquela relação, mas eu não queria ser o motivo da sua tristeza mesmo que fosse por um mísero momento.

Eu sabia que ele estava confuso desde quando viu Kirishima novamente, mas fazê-lo ficar o faria ficar triste. Deixá-lo ir foi a coisa mais difícil que eu já fiz na vida, mas eu não me arrependo.

Eu tinha sido alvo daquela famosa frase "pessoas confusas machucam pessoas incríveis", mas eu não o culpava, porque amá-lo foi uma dádiva que eu nunca me esqueceria.

Eu fui aquela pessoa incrívelOnde histórias criam vida. Descubra agora