Bad boys in the end get along;

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Estava anoite, era 25 de dezembro e lá fora nevava incansavelmente sobre as casas, cobrindo tudo o que era possível de branco. Já não era possível mais se ver os telhados residenciais e muito menos as ruas, tudo estava consumido por neve pela forte nevasca que atingiu a cidade na noite anterior. Nestas circunstâncias somente a companhia da família faria esquecer o frio lá fora, afinal somente um insano para sair nesta noite congelante.

Mas no caso de Elliot sua casa estava vazia, não havia ninguém com quem pudesse brindar e cortar o peru de natal trocando presentes e sorrisos alegres. Havia somente a lareira quebrando a madeira em sua sala e uma pequena caixa embalada em papel colorido adornado por um grande laço. Era o presente de um amigo, mais cedo no início da tradição natalina do "homem selvagem" que o recebeu. Tinha sido dito somente para abrir na hora dos presentes e de maneira alguma antes, não havia entendido o motivo da cortesia e relutou em aceitar, mas mesmo com muitas suspeitas o levou para casa, afinal não se era todo dia que recebia uma surpresa dessas. Depois de muitos natais sozinho sem receber nenhum presente sequer, essa caixinha parecia coisa de outro mundo.

Não conseguia parar de observa-lo, seus olhos estavam fixos no material brilhante que o enrolava, queria se levantar da poltrona e o abrir para saciar sua curiosidade, estava tentando do fundo de seu coração não o fazer, mas a cada tique taque do relógio mais difícil se tornava essa tarefa. Tentando relaxar Elliot pegou sua caneca exalando fumaça se levantando para ir até a pequena janela de sua casa para assistir dali à ceia de seu vizinho. Conseguia ter a vista enorme da mesa no centro do cômodo com diversos pratos, comidas e bebidas, ali algumas crianças e adultos comiam alegremente conversando e rindo sem parar. Não conseguia evitar, ver famílias felizes como essa somente o trazia inveja e ainda mais ressentimento contra seus próprios pais, estes que a essa hora da noite deveriam estar se empanturrando assim como seu vizinho envolta de seus tios e tias rabugentos.

Depois de dar um longo suspiro cansado seguido de mais uma olhadinha triste para as pessoas lá longe, o rapaz decide voltar a tomar seu chocolate quente, com somente um gole generoso da bebida todo seu corpo se esquenta. Ainda deveria faltar muito tempo para a hora de abrir os presentes, as crianças ali estavam ansiosas se levantando da mesa a todo momento para checar os presentes deixados no pé da árvore de natal. Elliot estava quase do mesmo jeito que os pequenos, não via a hora para ver o que havia dentro da caixa.

Voltou a sentar-se em sua poltrona ligando a televisão na tentativa de se distrair assistindo os filmes natalinos que todos os anos se repetiam, era comum quase todos os natais passar vendo essas bobagens, só fazia isso mesmo para compensar seu tédio de não ter nenhum lugar para ir nesse dia. Passaram se segundos, depois minutos e logo horas até que já não aguentou mais a mesma repetição dos musicais. Perguntava-se mentalmente se ninguém se cansava de ouvir Mariah Carey nas propagandas e filmes. Exausto da mesmice ele levantou voltando a espiar pela janela o outro lado, aquela família ainda estava junta a mesa sem nem sequer chegar a tocar nos presentes, eles simplesmente estavam esquecidos, até as crianças parará de olha-los e agora brincavam correndo pela casa.

Sinceramente não aguentava mais, pensou no que seu amigo falou dizendo para não abrir de nenhuma maneira o presente antes da hora, mas isso já não o impediria. Seu tédio e curiosidade estavam o matando, precisava abrir aquela caixa neste exato momento ou morreria entediado. Estava decidido e definido que abriria essa coisa sem nem se importar com o aviso de seu amigo, então sem mais nem menos com passos firmes e ansiosos ele se ajoelhou no chão perto da lareira alcançando o presente como uma verdadeira criança. E seria agora, finalmente depois de tanto tempo sem ganhar uma lembrancinha sequer ele veria o que lhe foi presenteado.

Poderia parecer idiotisse, mas estava tremendo. Só as mãos e dedos pegaram o objeto sem conseguir parar no lugar, havia prendido a respiração sem nem sequer perceber e seu coração palpitava cobiçando aquele negócio. Engolindo em seco com os olhos arregalados seus dedos sobem lentamente a tampa com o laço fazendo deslizar suavemente até cair quase em câmera lenta no tapete, ali estava, seu presente estava revelado para ser apreciado, mas como se não bastasse passar o natal sozinho todas as luzes de sua casa se apagaram no mesmo instante em que veria o que teria ganhado.

Krampus: An encounter with the aperitifOnde histórias criam vida. Descubra agora