Por favor, não faça isso

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Já não ouvia os barulhos da grade correndo há muito tempo. As mãos pregadas à parede já formigavam, mas tudo o que Eren podia fazer era movimentar um pouco os dedos, quase imobilizados. O seu rosto talvez estivesse uma poça de sangue; já nem sabia mais. Também tinham lhe tirado a camiseta, de forma que o peito desnudo exibia à vista de quem quisesse ver as mesmas marcas de cortes e hematomas que o seu rosto também portava.

Vermes. Vermes malditos.

Torcia para ouvir novamente o som da grade correndo; ao menos o som era uma prova de que haveria interação entre ele e outro ser humano. Estava encarcerado naquele lugar há nove horas, e com as mãos pregadas na parede há quase uma hora e meia. Por Deus, se alguém não viesse resgatá-lo, ele próprio daria um jeito de arrancar os próprios braços.

Talvez se regenerassem?

Não sabia. Energia no corpo, já não possuía. Era visto ali dentro como nada além de um terrorista, um assassino, um genocida. Os interrogatórios exaustivos pareciam não ter fim. Só que não importava quanto o apertassem contra a parede, não diria a localização das últimas cinco bombas que tinha implantado em locais estratégicos da cidade de Marley. As bombas já tinham sido ativadas; os governantes sabiam que se planejassem uma evacuação na cidade, não daria tempo: seria mais seguro para os moradores simplesmente ficarem em suas casas e torcer para que as bombas não explodissem sobre eles. Sim, estavam fodidos. E o que Eren sentia ao pensar em tudo aquilo, mesmo que ele próprio também fosse se explodir naquela tragédia, era um doce prazer de vingança.

Mataria até o último daqueles vermes. Podiam até torturá-lo, mas não haveria negociação. Tinha exterminado sozinho três quartos da população da cidade, e não deixaria para trás o último quarto, nem que aquilo lhe custasse a sua vida.

— Por favor... — uma voz conhecida, feminina, falava nos corredores daquele maldito calabouço. — Por favor, deixem ele entrar... tenho certeza que Eren vai falar com ele...

Eren fechou os olhos, exausto. Não tinham cessado as negociações?

Passou a língua pelos dentes e identificou um deles mole. A questão era que tinha sido socado há aproximadamente quarenta minutos, e mesmo assim o dente não estava se curando. Talvez estivesse no seu fim. Talvez não fosse voltar a se regenerar, e o seu destino fosse morrer realmente como um terrorista naquela cela, num país estrangeiro e distante de todos que amava.

— Por favor, por favor me deixa entrar — uma segunda voz falou, dessa vez masculina, mas suave.

Quando aquele segundo som chegou aos ouvidos de Eren, os olhos verdes se arregalaram para o nada, surpresos. Não era possível, era? Eren reconheceria aquele timbre até se fosse jogado sete palmos abaixo da terra.

Armin?

— Você tem dez minutos — a voz do guarda respondeu. O restante se passou em uma fração de segundos.

Antes que Eren se desse conta, o barulho da grade sendo arrastada chegou novamente aos seus ouvidos. Tentou erguer um pouco a cabeça, e seus olhos inchados quase não puderam crer no que viam, mas a verdade estava ali: um garoto de cabelos loiros e curtos, vestido como um militar, entrava na sua cela. Os olhos azuis estavam apavorados na sua direção, e tão logo Armin direcionou-os para o Yeager, um gritou escapou dos seus lábios.

— Eren!

Correu para abraçá-lo, mas parou no meio do caminho. As orbes azuis correram pelo rosto do amigo, e então pelo tronco desnudo onde as marcas de sangue se espalhavam. Observou-o à luz daquele único candelabro que os afastava da escuridão absoluta. E ali, enquanto Eren se via sendo observado, uma infinidade de pensamentos passou pela sua cabeça.

Ainda que a luz não me alcanceOnde histórias criam vida. Descubra agora