Victoire Weasley e Teddy Lupin namoravam desde os dezesseis anos, mas com certeza haviam se apaixonado muito antes disso. Era como aquele tipo de coisa que você só sabe que é uma boa ideia depois que acontece. E depois que os dois avisaram a todos que estavam juntos, ninguém mais conseguia imaginá-los separados, nem seus amigos e muito menos suas famílias. Teddy sempre fora da família mesmo antes do relacionamento dos dois começar, mas sua mãe amava Ted, ou Tedí como ela costumava falar, porque mesmo depois de anos, o sotaque francês ainda era difícil de perder. Talvez fosse pelo fato de Nymphadora e Remus Lupin terem se entendido no fatídico dia em que Bill se machucara e Fleur teve que impor o que sentia na frente de todos, fazendo com que Tonks fizesse o mesmo, talvez fosse porque durante sua gravidez, ela sempre escolhia ficar perto do único bebê da família. Não importava, Fleur Weasley amava Teddy Lupin.
Bill adorava Teddy como o filho de Remus e Tonks e afilhado de Harry, mas teve um pouco de dificuldade para aceitá-lo como namorado de sua filha mais velha. Não por muito tempo, é claro, porque Teddy logo resolveu isso. Era impossível não gostar dele. Victoire sabia bem disso. Dominique e Louis também o adoravam.
E não era preciso dizer que Victoire e Andromeda tinham as melhores conversas sempre que a garota ia visitar a avó de seu namorado.
Eles tinham o relacionamento perfeito, era o que seus amigos e primos costumavam falar.
– Você tem tanta sorte, Vic, por encontrar um cara tão bonito, divertido, sensível e carinhoso como Teddy – era o que ela ouvia.
– E você, Lupin, com certeza nunca mais vai encontrar uma garota tão inteligente e linda como Victoire, que entenda tão bem esse seu humor torto e sua falação sem fim – era o que Teddy costumava ouvir.
Eles riam, porque, bem, até que concordavam. Também se achavam bons um para o outro. Eram como peças de um quebra-cabeça, se encaixando em tudo para formar algo muito bom no fim. E Victoire nunca, nunca mesmo, pensou que isso pudesse deixar de fazer sentido para ela.
Mas fez.
E o pior de tudo é que não parecia haver motivo algum.
Victoire desejava que eles tivessem brigado, que de repente, depois de tantos anos, Teddy tivesse se tornado um namorado ruim ou que ela tivesse feito isso, porque até mesmo uma traição parecia mais aceitável do que aceitar que Victoire Weasley e Edward Lupin não se amavam mais. Não da mesma forma, não como antes. Não como quando começaram e tudo se resumia a eles. Quando fugiam às escondidas de madrugada e aparatavam em vários lugares diferentes apenas porque podiam e, contanto que estivessem juntos, sentiam que poderiam fazer qualquer coisa – até viajar o mundo.
Não tinha como explicar o bolo que crescia dentro do peito de Victoire. Ela amava Teddy, é claro que amava, ele fora seu primeiro amor, seu melhor amigo e sua casa por mais tempo do que poderia dizer. Seu sorriso travesso, seu jeito rebelde e seu cabelo azul, que haviam conquistado Victoire tão rápido quanto ela podia dizer o próprio nome, passaram a ser as primeiras coisas que ela via quando acordava e quase sempre as últimas antes de dormir também, ela sabia que o amava e talvez saber disso fosse sua maior ruína, o motivo pelo qual havia tamanha dor dentro dela.
As pessoas sempre falam sobre namoros que terminam por erros, mas ninguém fala sobre namoros que terminam simplesmente por parecer que havia uma data de validade. Um limite. Porque seus sentimentos românticos simplesmente... não estão mais ali. Você quer que ela seja a pessoa mais feliz do mundo, mas isso talvez não aconteça ao seu lado e todos os planos que vocês fizeram vão ser apenas isso: planos.
Teddy com certeza iria para Grécia um dia, como ele tanto desejava, e conheceria todos os lugares que eles marcaram juntos no mapa que ficava na parede acima de sua cama, mas não com ela. Victoire publicaria um romance um dia, mas Teddy não estaria ao seu lado para dizer que já sabia disso e para abrir a garrafa de vinho que ele comprou no dia que Vic contou que esse era o seu sonho. Seria apenas ela. Ou então talvez houvesse outra pessoa junto com ela, talvez houvesse outra pessoa junto com ele, realizando os planos que eles haviam criado juntos, mas isso era algo que Victoire não queria pensar, porque imaginar alguém ocupando o lugar de Teddy em sua vida era assustador.
De qualquer forma, para Victoire, essa seria sempre a parte mais difícil de terminar com alguém. A mente dela não conseguia se ajustar a uma realidade onde tudo aquilo ficaria para sempre no plano das ideias.
Enquanto estava deitada, encolhida o bastante para, quem sabe, conseguir desaparecer, tudo que Victoire conseguia fazer era lembrar do último momento dos dois no quarto colorido e arejado do lufano na casa de Harry Potter.
– Você vai ficar bem? – perguntou Teddy se ajoelhando em frente a ela, que continuava sentada em sua cama, fitando o chão sem conseguir se mexer, pois Teddy havia finalmente dado voz ao que ela já pensava há dias, semanas, quem sabe meses, mas nunca tivera a coragem dele para colocar para fora.
Quando Victoire ergueu o rosto e viu que também haviam lágrimas escorrendo do rosto do garoto de cabelo azul, seu coração quis parar.
– Preciso saber que você vai ficar bem, Toire... – Teddy odiava chorar na frente das pessoas e sempre se esforçava para não o fazer. As pessoas esperam que eu chore, dizia ele, então simplesmente não chorava. Mas naquele momento as lágrimas pareciam cair com tanta facilidade que Victoire poderia duvidar que fosse a mesma pessoa que ela conhecia há tanto tempo. Poderia sim, caso não fosse sobre os dois. Tudo sobre eles sempre foi diferente.
– Me desculpa, me desculpa mesmo, Teddy, me desculpa.
Sua voz tremida, arrastada, culpada e totalmente quebrada foi como uma chave para o garoto Lupin. O azul vibrante de seu cabelo foi se apagando até que tudo que restou fora um castanho acinzentado que não podia representar melhor a forma como se sentia nem se tentasse usar palavras.
Victoire mordeu os lábios que tremiam e Teddy a abraçou. Eles ficaram abraçados e choraram juntos por tanto tempo que a garota nem sequer sabia como conseguira soltá-lo e sair dali. Aparatou diretamente no quarto e se jogou na cama, onde estava até aquele momento, já que a última coisa que queria era que seus pais ou seus irmãos a vissem daquele jeito.
Como poderia ter a audácia de tentar explicar algo a eles quando nem ela mesma conseguia explicar a si mesma?
Ter consciência de seus sentimentos e do que acontece a sua volta nem sempre quer dizer alguma coisa. Victoire sabia que eles haviam feito a coisa certa, mas isso não diminuía nem um pouco a dor que latejava dentro de si.
Queria ser confortada, mas era difícil pensar em conforto de qualquer pessoa que não fosse Teddy, que sempre estivera ao seu lado desde que nascera. Pensou em ligar para seus primos, Violet e Thomas. Os filhos de seu Tio Fred sempre faziam um bom trabalho em animá-la, mas a ideia foi embora assim que cruzou sua mente.
Existiam algumas pessoas que gostavam de ver até onde a dor vai, até onde ela pode aguentar, Vic nunca se viu como uma dessas pessoas, mas ali, no seu quarto encarando o porta-retrato em cima da escrivaninha que tinha uma foto do dia em que Teddy se formara e os dois estavam abraçados, sorrindo como se o mundo fosse deles – e apenas deles – ainda em seus uniformes de Hogwarts, Victoire queria se deixar afogar.
Queria se afogar naqueles sentimentos conflitantes que não decidiam de uma vez se eram culpa, dor, arrependimento ou alívio. Queria chorar e se afundar até que tudo acabasse, porque só assim conseguiria voltar a superfície.
Só assim, após se deixar ir, que conseguiria lembrar que os anos mais brilhantes de sua vida foram brilhantes por causa de Edward Lupin: o seu melhor amigo. Em algum momento, Victoire se lembraria das vezes em que fugiram de suas salas comunais de madrugada, das vezes em que dançaram na Sala Precisa ou na Torre de Astronomia usando de música apenas suas risadas apaixonadas e calorosas, se lembraria do sorriso bobo de Teddy quando Victoire se irritava ao tentar ajudá-lo a estudar, dos infinitos conselhos quando brigava com Dominique, de suas mãos, sempre quentes e prontas para serem entrelaçadas as dela mesmo quando não namoravam ainda e de seus abraços reconfortantes em todos aqueles dias tempestuosos em que ser a filha mais velha de Bill e Fleur Weasley pesava mais do que deveria, Victoire se lembraria de tudo e não sentiria dor, não sentiria mais esse sentimento de que falhou de alguma forma em uma das melhores coisas que já teve, porque perceberia que não precisava ficar com Ted para sempre para saber que seu relacionamento havia dado certo. Havia sido feliz naquele pequeno espaço de tempo e isso era possivelmente a coisa mais certa que ela já havia vivido até aquele momento. Como poderia dizer que algo que a fez tão bem desde o primeiro dia havia dado errado?
Talvez chorasse, possivelmente ligasse ou enviasse uma coruja mal criada depois de alguma cerveja amanteigada e de sua irmã a convencer que raiva era melhor que tristeza e sentisse que de tanto chorar o seu mundo havia sido destruído, mas faria tudo isso para que pudesse começar a refazê-lo do zero, como esperava que seu melhor amigo também conseguisse fazer com o dele.
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Afterglow I TEDTOIRE
RomanceQuando Victoire Weasley percebe que para seu relacionamento com Teddy Lupin dar certo, os dois não precisam ficar juntos para sempre. [Uma fanfic para o projeto Delacours Month 2021 no Twitter]